domingo, 16 de novembro de 2008

A BATALHA DAS EXPECTATIVAS.

Luis Nassif

Afinal, a economia brasileira entrará em pane, crescerá pouco ou continuará mantendo um bom desempenho no próximo ano? A resposta dependerá da maneira como os agentes econômicos - empresários e consumidores - agirem.

Se o consumidor achar que a crise será inevitável, que seu emprego poderá estar ameaçado, tratará de consumir menos, haverá queda de vendas, redução da produção e desemprego - dependendo da intensidade da “dieta” do consumidor.

O mesmo acontece com os empresários. Não há elementos, hoje em dia, para saber como será a economia em 2009. Mas se o empresário se assustar com as notícias do momento, não tiver confiança na recuperação da economia, tratará de suspender investimentos, reduzir gastos, reduzir pessoal. E seu estado de ânimo definirá o resultado do jogo.

Esse movimento desmente a história da economia como uma ciência exata. O mega-investidor George Soros descreveu bem esse movimento. De um lado, se tem a realidade, a tentativa de analisar a economia sem torcida. É um processo incompleto e muito difícil. Poderia, agora, apresentar dez razões para apostar que o país crescerá no ano que vem; e dez razões para apostar na recessão. É quase impossível se ter uma avaliação clara, especialmente em momentos de terremoto, como os atuais. De outro lado se tem o que Soros chama de visão manipulativa dos fatos. Digamos que o investidor quer que os preços caiam. Ele irá selecionar os fatos que favoreçam a sua aposta.

Vale também para o jogo político. A oposição irá salientar todos os aspectos negativos da situação para atingir o governo; este tratará de enaltecer os aspectos positivos para defender sua posição.

Acontece que o jogo manipulativo acaba afetando o jogo real. Se a maioria das pessoas se convenceram de que o ano será ruim, tratarão de pisar no freio e, aí, o ano será efetivamente ruim.

Obviamente, ambos os movimentos - para cima ou para baixo - têm que guardar alguma correspondência com a realidade. Se os dados da realidade forem muito negativos, não adiantará forçar a barra para uma visão otimista.

Mesmo assim, as expectativas sempre acabam influenciando no resultado final.

Por que essa digressão? Para alertar que o país está perdendo a batalha da comunicação para o pessimismo. A demora do governo em agilizar as medidas, a falta de fatos novos, positivos, está fazendo com que, a cada dia, aumente o círculo dos pessimistas. Depois que o pessimismo tomar conta, será difícil reverter.

O que teria que ser feito.

1. Criação de uma Câmara da Crise que permita agilizar as medidas, monitorar, levantar dados positivos, propor pactos, acordos.

2. Preparação de eventos que, sem minimizar a crise, criem oportunidade de reversão do pessimismo atual.

Quando Paulo Krugman aconselhou Barack Obama a não aceitar nenhum auxiliar que não acreditasse em sua capacidade de vencer a crise, estava sinalizando a importância da ação política mobilizadora.

Chegou a hora de Lula esquecer sua porção FHC, parar de viajar o mundo e colocar sua experiência política na maior batalha do seu governo: virar o jogo do desânimo.

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