quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

DAS COISAS NOSSAS E DAS COISAS ALHEIAS.

Das coisas nossas e das coisas alheias
Por Mauro Santayana

O previsto agravamento da situação no Haiti, com o inevitável saqueio do que ainda resta nos depósitos e a proliferação de grupos de desesperados, exige extrema habilidade das tropas estrangeiras, que ali se encontram sob o mandato da ONU – entre elas, as nossas. A polícia do Haiti e as firmas estrangeiras de segurança, que dão tradicional proteção aos poucos ricos e à classe média alta, pretendem atirar para matar, e começaram a fazê-lo. Já há também notícia de confronto entre haitianos esfomeados e soldados estrangeiros. A distribuição dos alimentos – mesmo que os houvesse em volume suficiente – é difícil na situação em que se encontra o país. Haitianos que voltam para onde se abrigam, com seus pacotes de alimentos, são assaltados por outros. O pior que pode ocorrer é esperado: o cruel massacre dos famintos.

Os norte-americanos se encontram muito mais próximos do Haiti do que qualquer outro país em condições de ajudar, e são os que dispõem de maiores recursos logísticos para as operações. É natural que, sempre sob a supervisão das Nações Unidas, se encarreguem da maior parte dos trabalhos de socorro.

O ministro Nelson Jobim sabe que não lhe cabem decisões de política externa, entre elas as da permanência ou não das Forças Armadas brasileiras no Haiti, para além do mandato atual da ONU. A política externa é prerrogativa da Presidência da República, com o referendo do Congresso Nacional, e sua execução é de responsabilidade do Itamaraty, que tem atuado com acerto. E, por iniciativa de Lula, a ação comum do Brasil e dos Estados Unidos tem sido tratada também entre os dois presidentes.

Estamos entrando na fase eleitoral. Dentro de dois meses e dias, quem quiser ser candidato às eleições deste ano terá que deixar o cargo executivo que eventualmente ocupe. O processo eleitoral se desenvolverá em ano carregado de problemas internacionais, mas não serão ausentes as atribulações internas. O presidente da República, com sua experiência, sabe que a situação de sua candidata é delicada. Havia, no PT, outros postulantes à indicação, que se encontram decepcionados. Apesar das declarações de fidelidade à ministra Rousseff, ele e ela terão que trabalhar muito para que o acatamento à candidatura se transforme em entusiasmo aberto. Também em São Paulo, o presidente terá que usar de toda sua conhecida habilidade, a fim de desestimular a candidatura do senador Eduardo Suplicy ao Palácio do Morumbi, se isso for de seu interesse. Digam o que disserem, o prestígio do senador Suplicy, recordista de votos em São Paulo, é imbatível, e ele pode levar o próprio nome à convenção, se assim desejar.

Há também o problema dos outros estados. Nos principais está sendo difícil criar postulações que garantam a unidade interna do PT e do PT com as forças políticas que hoje dão sustentação ao governo federal e com as quais Lula conta para a sucessão. Este é o caso de Minas. Como sempre tem ocorrido, o PMDB não estará unido no pleito, embora possa vir a unir-se para participar do futuro governo, seja qual for o vencedor.

Da mesma dificuldade comungam os adversários do atual governo. Os Democratas foram feridos de morte no Distrito Federal e estão à procura de novo discurso. No PSDB a situação tampouco é tranquila. A insistência do comando paulista da legenda em enquadrar o governador Aécio Neves, e fazê-lo candidato a vice de Serra, está paralisando o partido, que já devia estar estabelecendo as alianças regionais. Aécio tem contido, até agora, a iniciativa de setores da sociedade, de Minas e de outros estados, de lhe manifestarem publicamente solidariedade no episódio.

O governador de Minas tem afirmado que não pretende turvar o processo sucessório, mas tampouco pode colocar os mineiros, mais uma vez, em posição secundária no Planalto. É melhor preservar os interesses permanentes do Estado. Ele e seus companheiros próximos estão certos de que, como senador, servirá melhor ao país do que como vice-presidente. O PSDB paulista terá que buscar outro companheiro de chapa para seu candidato.

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