quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

REFLEXÕES DE FIDEL - O Haiti coloca à prova o espírito de cooperação.

Reflexões de Fidel
O Haiti coloca à prova o espírito
de cooperação

As notícias procedentes do Haiti configuram o grande caos que se esperava, devido à situação excepcional criada pela catástrofe.

Surpresa, espanto, abatimento nos primeiros instantes, vontade de prestar ajuda imediata nos cantos mais afastados da Terra. O quê enviar e como fazê-lo para um canto do Caribe, a partir da China, Índia, Vietnã e de outros pontos localizados a dezenas de milhares de quilômetros? A magnitude do terremoto e da pobreza do país gera nos primeiros momentos ideias de necessidades imaginárias, que dão azo a todo o tipo de promessas possíveis que depois tentam fazer chegar por qualquer via.

Os cubanos compreendemos que o mais importante nesse momento era salvar vidas, para o qual estávamos treinados, não apenas diante de catástrofes como essa, mas também de outras catástrofes naturais relacionadas com a saúde.

Ali estavam centenas de médicos cubanos e, além disso, um número considerável de jovens haitianos de origem humilde, convertido em profissionais da saúde bem treinados, uma tarefa npara a qual contribuímos durante muitos anos com esse país irmão e vizinho. Uma parte dos nossos compatriotas estava de férias e outros, de origem haitiana, treinavam-se ou estudavam em Cuba.

O terremoto ultrapassou qualquer estimativa; as casas humildes de adobe e barro — de uma cidade com quase dois milhões de habitantes — não podiam resistir. Instalações governamentais sólidas desabaram; quarteirões completos de moradias se desmoronaram sobre os habitantes que, nessa hora, ao anoitecer, estavam em seus lares, ficando sepultados abaixo das ruínas, vivos ou mortos. As ruas estavam repletas de pessoas feridas que clamavam auxílio. A MINUSTAH, força das Nações Unidas, o governo e a Polícia ficaram sem chefatura nem posto de comando. No primeiro momento, a tarefa dessas instituições com milhares de pessoas foi saber quem estava com vida e onde.

A decisão imediata dos nossos abnegados médicos que trabalhavam no Haiti, bem como dos jovens especialistas da saúde formados em Cuba, foi comunicarem-se entre si, conhecerem de sua sorte e saberem com que pessoal se contava para socorrer o povo haitiano naquela tragédia.

Os que estavam de férias em Cuba aprontaram-se logo para partir, assim como os médicos haitianos que se especializavam em nossa Pátria. Outros especialistas cubanos em cirurgia que já cumpriram missões difíceis se ofereceram para partir com eles. Basta dizer que, antes de 24 horas, os nossos médicos já tinham atendido a centenas de pacientes. Hoje, 16 de janeiro, apenas três dias e meio depois da tragédia, o número de pessoas com lesões já auxiliadas por eles elevava-se a vários milhares.

Ao meio-dia de hoje, sábado, a chefia de nossa brigada informou, entre outros dados, os seguintes:

"… na verdade, é louvável o trabalho que estão fazendo os companheiros. É uma opinião unânime que, comparativamente, o Paquistão ficou bem atrás ―ali houve outro grande terremoto onde alguns trabalharam―; naquele país muitas vezes recebiam fraturas, inclusive, mal consolidadas, alguns esmagamentos, mas aqui foi ultrapassado tudo o imaginável: amputações abundantes, as operações praticamente é preciso fazê-las em público; é a imagem que tinham de uma guerra."

"… o hospital Delmas 33 já está funcionando; tem três salas de operações cirúrgicas, com geradores elétricos, áreas de consulta etc., porém está absolutamente repleto."

"… Incorporaram-se 12 médicos chilenos, um deles anestesiologista; também oito médicos venezuelanos; nove freiras espanholas; espera-se a incorporação, de um momento para o outro, de 18 espanhóis, aos quais a ONU e a Saúde Pública haitiana tinham entregado o hospital, mas faltavam-lhes recursos de urgência que não tinham podido chegar, portanto, decidiram se juntar a nós e começar a trabalhar logo."

"… foram enviados 32 médicos residentes haitianos, seis deles iam diretamente para Carrefour, um local completamente devastado. Também foram os três times cirúrgicos cubanos que chegaram ontem."

"… estamos operando as seguintes instalações médicas em Porto Príncipe:

Hospital La Renaissance.

Hospital da Previdência Social.

Hospital da Paz."

"… já funcionam quatro CDIs (Centros de Diagnóstico Integral)."

Nesta informação, apenas é transmitida uma ideia do que está fazendo no Haiti o pessoal médico cubano e de outros países que trabalha junto com eles, entre os primeiros que chegaram a essa nação. Nosso pessoal está disposto a cooperar e juntar suas forças com todos os especialistas da saúde que foram enviados para salvar vidas nesse povo irmão. O Haiti poderia se tornar um exemplo do que a humanidade pode fazer por si própria. A possibilidade e os meios existem, mas falta decisão.

Quanto mais tempo demorar o enterramento ou a incineração dos falecidos, a distribuição de alimentos e de outros produtos vitais, os riscos de epidemias e violências sociais se elevarão.

No Haiti se colocará à prova quanto pode durar o espírito de cooperação, antes que prevaleçam o egoísmo, o chauvinismo, os interesses mesquinhos e o desprezo por outras nações.

A mudança climática ameaça toda a humanidade. O terremoto de Porto Príncipe, apenas três semanas depois, está fazendo com que todos nós lembremos quão egoístas e autossuficientes nos comportamos em Copenhague.

Os países acompanham de perto todo o que acontece no Haiti. A opinião mundial e os povos serão cada vez mais severos e implacáveis em suas críticas.

Fidel Castro Ruz

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