Ontem, a Folha de S. Paulo publicou uma matéria da maior gravidade, produzida pela agência Reuters. Entidades internacionais que não podem ser acusadas de “esquerdismo”, inclusive um ministro francês, afirmam que o controle militar de fato do Haiti, assumido unilateralmente pelos EUA, está prejudicando as operações de auxílio no Haiti e causando graves atrasos para os médicos que tentam levar ajuda vital às vítimas do terremoto deste mês.
Françoise Saulnier, diretora dos Médicos Sem Fronteiras, disse que a chegada de medicamentos atrasou três dias porque o aeroporto de Porto Príncipe, sob controle americano, foi bloqueado para o tráfego militar. “E esses três dias criaram um enorme problema de infecções e gangrenas, com amputações que agora são necessárias, enquanto poderíamos realmente ter poupado isso a essa gente.” Já o secretário francês da Cooperação Internacional, Alain Joyandet, queixou-se que um avião da França com ajuda humanitária foi impedido de pousar na capital haitiana.
Os Estados Unidos já têm 12 mil homens lá e estão enviando mais 4 mil. Não foi a pedido da ONU, que solicitou 3,5 mil e a todos os 18 países que integram a força internacional das Nações Unidas. Isso é quase o dobro da Minustah, que tem 9 mil homens, liderados pelos cerca de 1300 brasileiros.
Hugo Chávez e Evo Morales acusaram os EUA de ocuparem o Haiti sob pretexto de prestarem ajuda. No Haiti, nesta terça-feira, o vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera, disse que os norteamericanos querem ter presença militar permanente no Haiti, dentro de uma estratégia para “controlar o continente”.
Os energúmenos nacionais discutem como fazer do sofrimento daquela gente infeliz uma treinamento para ocupar e dominar militarmente favelas. Não descreia de que na direção do poderio militar norteamericano haja gente pensando o mesmo: ocupar e dominar o que, para eles, é a “favela do mundo”, os países pobres.
É necessário uma reunião imediata da ONU para fixar contingentes e funções das forças militares estrangeiras no Haiti. Há um mandato internacional de paz para ser cumprido naquele país. Não uma carta branca para quem quiser mandar quantas tropas de desejar e assumir o controle do Haiti. O manto nobre da ajuda humanitária não pode encobrir e legitimar pretensões coloniais.
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