DN: O problema do câmbio é um dos mais complicados que existem, não é coisa simples de se resolver. Quando há liberdade de movimentos de capitais, uma das condições exigidas para que funcione direito é que a taxa de juro interna seja igual à externa. Neste momento, há um grande entusiasmo no e com o Brasil e isso tem atraído muito capital estrangeiro. Parte é investimento direto, sadio, necessário. Mas o grosso tem ido para a Bolsa de Valores. Quem coloca dinheiro aqui tem obtido remuneração de 7%, 8% ao mês, em dólar. O efeito disso é devastador sobre a taxa de câmbio. É um sistema que se autoalimenta e que não presta nenhum serviço mais importante. Essa valorização da Bolsa é uma transferência de propriedade para o papel, a não ser quando é uma emissão nova, que alimenta um investimento novo na empresa emissora.
Sergio Lirio, da Carta Capital: Obviamente há, em menor ou maior grau, responsáveis por esta situação...
DN: A responsabilidade é do governo de forma geral, que demorou para prestar atenção ao problema. Tem gente que diz: "O IOF não funcionou". De onde tiram essa ideia? A cobrança de 2% de IOF não era para valorizar o dólar, era para impedir que continuasse a supervalorização do real. E funcionou nesse aspecto. É preciso compreender que, quando entra dinheiro, entra vento. Quando sai, saem bens, serviços, empregos. Tem gente que se vale do efeito Tobin, que dizia que, quando a Bolsa se valoriza, aumento, no futuro, a propensão de crescimento dos investimentos diretos. Mas seria um efeito de longo prazo e ainda a ser provado. De qualquer forma, o câmbio é um problema crítico, pois a excessiva valorização do real está destruindo as cadeias produtivas. Para se defender as empresas brasileiras têm de sair do Brasil. De exportadora vira importadora, de criadora de empregos vira destruidora de empregos. É um problema crítico que terá de ser enfrentado. No ano que vem, o País vai ter uma surpresa enorme: um buraco nas contas correntes. Talvez, aí comecem a pensar no assunto seriamente.
Fonte:Blog Vi o Mundo.
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