Valor contabil de Pasadena pode chegar a US$ 3 bi
Continuo não entendendo a política de comunicação da Petrobras.
As informações saem a conta-gotas, são entregues a bons repórteres de veículos com viés político que dão destaques apenas às informações negativas.
Hoje saiu uma boa matéria em O Globo sobre Pasadena, com informações exclusivas. Em geral O Globo e o Estadão tem uma preocupação maior com o conteúdo, mas valem-se do mesmo viés político na edição.
A manchete diz: "Despesas da Petrobras com Pasadena já chegam a US$ 1,93 bilhão”. Esse será o próximo número mágico a ser brandido como dinheiro jogado no lixo, já que nada se diz sobre as receitas nem sobre o valor atual da companhia.
Há um atenuante na foto em primeiro plano com a presidente da Petrobras Graça Foster informando sobre os resultados positivos deste ano.
Em cima desses mesmos dados, através de algumas simulações poder-se-ia chegar às seguintes conclusões e manchetes: “Com recuperação dos preços do petróleo, VPL de Pasadena poderá saltar para mais de US$ 3 bilhões”.
Não significa muita coisa nem falar do prejuízo contábil nem valor do novo valor contábil para Pasadena. Mas vale para mostrar como temas complexos podem ser manipulados de um lado e de outro valendo-se das metodologias apresentadas.
Antecipo as conclusões das simulações que fiz abaixo, em cima dos dados que a Petrobras apresentou a O Globo.
A grande queda no valor da refinaria - segundo a reportagem - deveu-se à queda nos preços do barril de petróleo, que "despencou de um nível de mais de US$ 140 o barril para pouco mais de US$ 30, tendo voltado a valer mais de US$ 100 só três anos depois”.
Se os resultados da Pasadena subiram na mesma proporção do aumento do valor do petróleo, é possível que seu Valor Presente Líquido atual bata em US$ 2 bilhões. Como o passado contábil já foi zerado (quando a Petrobras lançou a prejuízo) é possível que seu próximo balanço tenha um acréscimo patrimonial contábil entre US$ 1,5 a mais de US$ 3 bilhões, dependendo da manutenção dos resultados dos dois primeiros meses.
Destrinchando os números.
Valor contábil é o tudo o que foi pago pela companhia ajustado de acordo com índices de correção anuais.
Valor Presente Líquido é o resultado de uma projeção do resultado do ano para o futuro, trazido a valor presente de acordo com determinada taxa de juros. Se o Valor Contábil for maior que o VPL, lança-se a diferença na conta de prejuízo; se for menor, lança-se na conta de lucro.
É importante entender que, pela fórmula de cálculo, o VPL varia de acordo com o resultado de cada ano. Se melhora o resultado (como tudo indica) aumenta o VPL.
Vamos a uma pequena simulação para tentar entender todos os fatores da conta:
VPL = 352.000 - foi o resultado calculado pela contabilidade da Petrobras, quando decidiu lançar o investimento de Pasadena a prejuízo.
Taxa de juros anual = 6% (usei 6% como hipótese, pois a reportagem não informa qual a taxa de juros utilizada).
Prazo: 25 anos. Significa que a cada ano a empresa precisa investir 1/25 do valor original na reposição de peças para manter o mesmo valor.
Valor Futuro = US$ 352.000
PMT = US$ 21.120. Significa quanto a companhia precisa dar de lucro anual para valer US$ 352 milhes.
Em português:
Aplico US$ 352.000 em um investimento que me rende 6% ao ano durante 25 anos. No final dos 25 anos resgato meus US$ 352.000 sem correção. De quanto deverá ser o rendimento anual?
Pelas contas acima, teria que ser de US$ 21,12 milhões.
O novo cálculo
Usando os mesmos dados, de quanto seria o novo valor da Pasadena com a melhoria dos resultados.
Coluna 2012
Levando-se em conta os números apresentados, o resultado de caixa da refinaria foi de US$ 69.120. Abatendo-se o 1/25 a título de depreciação, ou US$ 48 milhões, o lucro final (nesse exemplo) foi de US$ 21,12 milhões.
Simulações
Segundo Graça Foster, em sua apresentação no Senado, nos dois primeiros meses do ano a Pasadena apresentou resultado de US$ 52 milhões - não se sabe se ao mês ou nos dois meses. Projetando-se para o ano, daria um resultado anual entre US$ 312 milhões a US$ 624 milhões
Na reportagem de O Globo fica-se sabendo que o principal fator de rentabilidade é o preço do petróleo - que nos últimos tempos subiu 3 vezes.
A partir daí vamos às simulações:
Se o resultado da Pasadena saltar dos prováveis US$ 69,1 milhões de 2012 para US$ 150 milhões em 2014 (2,17 vezes mais), o VPL dela vai para US$ 1,5 bilhão.
Se o resultado for de US$ 200 milhões, seu VPL saltará para US$ 2 bilhões.
Se o resultado for de US$ 300 milhões, o VPL será de US$ 3 bilhões.
Se o resultado for de US$ 600 milhões. o VPL será de US$ 6 bilhões.
Como Pasadena já foi lançada a prejuizo, na próxima reavaliação contábil haverá um aumento entre US$ 1,5 bi a US$ 6 bilhões no valor patrimonial da Petrobras.
Como esses dados só são fornecidos pela Petrobras a O Globo, vamos aguardar a próxima reportagem para conferir as simulações e tentar extrair o contraditório.
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