Ontem participei de um evento de empresa
que atua no mercado de alimentos. Sua divisão de alimentos cresceu 10%
no ano passado, mais que o mercado. Está bem posicionada nas grandes
redes de supermercados, tem liderança nos pequenos estabelecimentos, e
começa a crescer nos restaurantes populares. Ou seja, está otimamente
posicionada para capturar o enorme crescimento da renda e da inclusão
laboral da classe C.
No entanto, havia um clima pesado de
pessimismo no ar por parte de seus revendedores. Medo que o Brasil se
torne uma Venezuela. Medo que venha um confisco de poupança como Collor.
Medo que, se Dilma for reeleita, o país entre na mesma espiral que em
2002. Um medo supersticioso que os dirigentes da empresa diagnosticaram
como "midiatite": doença que provoca mal estar e depressão devido à
ingestão excessiva de manchetes econômicas pessimistas.
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Trata-se do chamado tiro no pé.
Primeiro, por derrubar o estado de
espirito nacional, impactando diretamente as campanhas publicitárias.
Depois, por desmoralizar algo que nunca foi tão necessário quanto agora:
a crítica consistente.
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A crítica a ser feita é contra o estilo
centralizador e voluntarista da presidente Dilma Rousseff, com um norte
consistente mas um modelo desanimador de implementação de políticas.
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Por exemplo, há o diagnóstico claro de
que um dos principais problemas das obras públicas é a ausência de uma
metodologia de preparação do projeto executivo.
A Empresa de Planejamento e Logística
(EPL) foi criada justamente para oferecer essa estrutura. Seu criador,
Bernardo Figueiredo prometia que o avião conseguiria velocidade de
cruzeiro a partir de 2015. Foi atropelado pela pressa de Dilma em obter
resultados.
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No PAC, Dilma montou sistemas de
avaliação, modelos exemplares de interação com estados e municípios,
despertando a esperança de arejar a administração pública. O mesmo
ocorreu com o plano de recriação da indústria naval.
O modelo de partilha do pre-sal e o
papel conferido à Petrobras, de centro de uma política industrial do
petróleo, ainda serão reconhecidos como dois feitos estruturantes do
futuro.
Em todos esses casos, a ação tinha foco e estava ao alcance dos olhos de seu principal gestor, a própria Dilma.
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Quando tornou-se presidente, Dilma quis
preservar a primazia da autoria, mas agora trabalhando em uma realidade
extremamente complexa. A ela não basta o fato de que o presidente tem
mérito em qualquer realização de seus ministros. Ela quer a participação
direta em todos os planos e o mérito de todos os feitos do seu governo.
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Não dá.
Atrasou inúmeros projetos por pretender
opinar em detalhes. Não deu liberdade a nenhum Ministro para construir
sua própria obra e voar. Não deu voz aos fóruns criados para definir
políticas de desenvolvimento. Tomou decisões intempestivas em áreas de
extrema complexidade - como o modelo elétrico - sem ouvir as partes
envolvidas. Tomou decisões de profundo impacto fiscal - como
desoneração do IPI para o setor automobilístico - sem encaixá-las em
uma política setorial.
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Dilma tem o rumo, mais que seus
competidores. Mas não tem o método. E não se trata de falta de
conhecimento, mas da sua própria incapacidade para domar seu
temperamento.
Bastaria sinais firmes de mudança de estilo para recuperar a esperança perdida.
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