Ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, o candidato ao Palácio do Planalto pelo PSB/Rede Sustentabilidade – sim, a fundadora da Rede, ex-senador Marina Silva é companheira de chapa dele, candidata a vice-presidente – mergulha cada vez mais no discurso neoliberal que deixou a herança maldita dos governos FHC e não deu nenhuma saudade e agora passou a defender a autonomia formal do Banco Central (BC).
Em entrevista à agência Dow Jones, veiculada durante o feriado do 21 de abril, Campos justificou que um BC formalmente independente seria uma forma de aumentar a confiança na economia do País. Na avaliação dele, com isso seria possível “encorajar investidores” e “ajudar o Brasil a retomar o rápido crescimento”. O candidato ressalvou, no entanto, que ainda discute com seus assessores e elaboradores de programa de governo se a proposta deve ser incluída em sua plataforma de campanha.
No ano passado, projeto que prevê mandato de seis anos para os diretores do BC, com possibilidade de uma recondução, chegou a entrar na pauta de votação do Senado, mas o governo agiu e a proposta foi retirada de pauta. Os defensores da medida, que agora até podem ter Campos em suas fileiras, argumentam que a autonomia é considerada pelos investidores como uma garantia de blindagem da instituição contra eventuais influências políticas.
Na entrevista veiculada ontem, o candidato voltou a culpar a presidenta Dilma Rousseff pelo que considerou estagnação da economia. “As pessoas percebem que ela não deixou o Brasil melhor, que as mudanças pararam de acontecer e que os fundamentos da economia perderam consistência”, criticou.
Toda entrevista é pretexto para atacar a adversária candidata à reeleição
Campos acentuou, ainda, que a Petrobras precisa de mais “transparência” em sua política de preços e de receber menos interferência política. Para Campos é preciso libertar a Petrobras – discurso, igualzinho, sem tirar nem pôr, o adotado pelo candidato tucano a presidente da República, senador Aécio Neves (PSDB-MG).
Ele voltou a defender a simplificação da legislação tributária para que o País seja mais competitivo e afirmou que o Brasil necessita melhorar sua infraestrutura e produtividade para competir globalmente e abastecer o mundo com mais do que produtos agrícolas. “O Brasil precisa ser mais do que uma grande fazenda”, disse.
Pois é, ao defender a autonomia do BC, Campos engrossa o coro que cresceu em 2013, da ofensiva política e ideológica das forças neoliberais internas e externas ao país contra a política econômica social-desenvolvimentista do governo Dilma. Coro ecoado notadamente pela grande grande mídia, principal porta-voz da oposição neoliberal, e que não se cansa de repetir que o governo federal é displicente no combate à inflação e irresponsavelmente expansionista em matéria fiscal.
Dão esse diagnóstico, e aí lá vem o remédio de sempre – repelido invariavelmente pelo ex-ministro José Dirceu quando escrevia este seu blog: juros altos e política fiscal contracionista, para pagar os custos, em termos de aumento do endividamento público, decorrentes do aperto monetário. Os neoliberais, na verdade, em nome do combate à inflação, o que querem é destruir a atividade produtiva, a geração de empregos e a capacidade orçamentária do Estado para implementar políticas sociais.
Ao invés de remédio, neoliberais propõem é veneno
Ao invés de remédio propõem é o veneno já rejeitado em vários países da América Latina nos anos 1990, por resultar em vulnerabilidade financeira, elevação da dívida pública, desemprego e estagnação do crescimento econômico. Tudo aquilo que se viu nos oito anos de tucanato, nos dois governos comandados pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
O BC no Brasil já tem autonomia operacional informal, uma vez que a Presidência da República tem o poder de indicar seu presidente e diretores. Mas a experiência brasileira de estabilização inflacionária demonstrou que ter BC independente não é nem condição necessária nem suficiente para combater a inflação.
Para o sucesso desse combate, dessa política, houve sim a necessidade de adotar política macroeconômica abrangente e coordenada, envolvendo política de abertura comercial, política fiscal, política de rendas, política cambial e política de juros, em condições internacionais propícias ao acúmulo de reservas internacionais e à sobrevalorização da taxa de câmbio. E não se adota a independência do BC em relação ao governo porque há o receio de que isso leve à “privatização” da instituição, a sua captura e total subordinação aos interesses privados do mercado.
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