As consequências dos 40 anos da Revolução dos Cravos
Por Filipe Rodrigues
No mesmo ano em que no Brasil é lembrado os 50 anos do Golpe de 1964, os portugueses relembram os 40 anos de democracia no 25 de Abril que pôs fim ao Salazarismo no país. Quando a nação portuguesa deixou para trás os mesmos “40 anos” de atraso social, a sustentação do colonialismo e a marca de ser uma das últimas ditaduras europeias (ao lado da Espanha franquista e a Grécia).
Ao contrário das nações latino-americanas, os militares restauraram a democracia em Portugal, fato que mexeu com o imaginário coletivo brasileiro e latino-americano sonhando com o mesmo desfecho por aqui.
Numa época em que militares no poder significava rompimento das regras democráticas (tanto na direita quanto na esquerda), pela 1ª vez desde as grandes navegações e dos descobrimentos Portugal trazia uma importante renovação política que dura até hoje.
O movimento Bolivariano na Venezuela teve como uma de suas inspirações a Revolução dos Cravos, ao lado do governo do general peruano Juan Velasco Alvarado, único militar de esquerda no poder na América do Sul (deu um golpe de estado em 1968 e seria derrubado pela direita/CIA em 1975).
O Caracazo, rebelião popular na Venezuela em 1989 contra as medidas de austeridade despertou o Bolivarianismo assim como a guerra colonial gerou os motins nas forças armadas portuguesas e os Capitães de Abril, ironia do destino que Portugal atualmente também passe por medidas de austeridade.
Darcy Ribeiro assessorou o presidente peruano Alvarado e foi numa conversa com o ex-presidente João Goulart no Uruguai, testemunhada por Glauber Rocha, que o cineasta teria mudado sua opinião sobre o papel dos militares na sociedade, entrevista publicada numa entrevista com Zuenir Ventura que parte da esquerda brasileira nunca o perdoou.
Segundo Glauber o ex-presidente Jango teria feito referências elogiosas ao futuro presidente Geisel. Não foi uma decisão sem pensar, ele próprio havia percebido uma mudança de postura dos militares em suas passagens pelo Peru ao visitar o amigo Darcy e quando documentou a revolução dos capitães em Portugal no filme coletivo (As Armas e o Povo):
Militares brasileiros também tentaram a via portuguesa quando o MDB lançou o general das alas mais á esquerda (Euler Bentes Monteiro) para concorrer com João Batista Figueiredo, não chega ser igual por ter sido uma disputa travada no Colégio Eleitoral, mas que tem certo simbolismo.
Para o cineasta que sempre debateu a libertação do Brasil e a integração com seus vizinhos, num mundo que se globalizava cada vez mais, o continente latino-americano somente seria soberano quando os militares se aproximassem do povo espoliado e aceitassem o jogo democrático, Glauber que sempre teve um talento profético, também previu Hugo Chávez com 20 anos de antecedência sem saber quem seria e onde.
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