A nossa República começou em 1984
Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:
Agora, que todo mundo já chama golpe de golpe e não fala mais em "Revolução Democrática de 1964"; agora, que se conta em prosa, verso e imagens como a Campanha das Diretas Já mobilizou o país inteiro na luta pela volta da democracia, nas maiores manifestações cívicas da nossa História, não consigo esquecer daquela madrugada de 26 de abril de 1984, no Congresso Nacional, quando faltaram apenas 22 votos para a aprovação da Emenda Dante de Oliveira.
Eu estava lá e fiquei até o final, torcendo pela vitória e chorei junto com todo mundo, depois de atravessar o Brasil ao lado dos comandantes da campanha, tendo à frente o grande Dr. Ulysses, dos artistas e dos representantes da sociedade civil, que se uniram para dar um basta aos militares. Perdemos, mas ganhamos: no ano seguinte, acabou a ditadura com a eleição ainda indireta do civil Tancredo Neves, que morreu antes de tomar posse.
Foram 21 anos de um grito preso na garganta pedindo liberdade, que explodiu nas ruas e, como bem definiu o jornalista e escritor Laurentino Gomes, autor de "1989", tivemos ali a verdadeira Proclamação da República, quase um século após uma ação militar, com participação de civis, derrubar o último imperador.
Agora, em 1984, era o contrário: eram os civis que acabavam com o regime militar, sem nenhum apoio fardado, apesar da omissão, durante boa parte da campanha, da maioria da chamada grande imprensa, que está tentando reescrever a sua própria história, trinta anos depois.
Pela primeira vez, o povo brasileiro, que tinha assistido de longe e bestificado ao Grito da Independência, em 1822, e à Proclamação da República, 67 anos depois, assumia o papel de protagonista. Pois foi a partir da derrota de 26 de abril que o Brasil se tornou uma Nação dona do seu próprio destino, conquistando a democracia sem precisar dar um único tiro, com uma grande festa que se espalhou pelas ruas e praças para terminar naquilo que chamei de "a mais sombria madrugada", no último capítulo do meu livro "Explode um Novo Brasil _ Diário da Campanha das Diretas", sob o título "Galerias explodem e não deixam a luta terminar", que foii lançado poucos dias depois pela Editora Brasiliense.
O texto, publicado originalmente na "Folha", começava assim:
Alguns deputados choravam, outros se prostravam em silêncio. Ao ser anunciado o resultado da votação da Emenda Dante de Oliveira, pouco depois das duas horas da manhã, a grande festa que todo o povo brasileiro esperava corria o risco de se transformar num grande velório.
Mais uma vez, porém, este povo reagiu. Em vez de ficarem lamentando os 22 votos que faltaram para que o Brasil voltasse a ser uma democracia, os homens e as mulheres que lotavam as galerias bradaram seu grito de guerra: "um, dois, três, quatro, cinco, mil, queremos eleger o presidente do Brasil".
E terminava assim, com maiúsculas e tudo:
"Ontem, foi fogo segurar aquela barra. Mas, hoje, já está tudo bem de novo, nós não perdemos, nós ganhamos, você vai ver", disse-me a deputada federal e atriz Beth Mendes (PT-SP). De fato, nem as nuvens escuras e a chuva do fim de tarde em Brasília, depois destes dias de sol, foram capazes de apagar a chama. Num apartamento da W-3, ainda resistia, apesar de tudo, uma faixa em que se podia ler, simplesmente: BRASIL.
É muito bom poder reproduzir estas palavras trinta anos depois, sem ter que mudar nenhuma vírgula. Beth Mendes tinha razão.
Agora, que todo mundo já chama golpe de golpe e não fala mais em "Revolução Democrática de 1964"; agora, que se conta em prosa, verso e imagens como a Campanha das Diretas Já mobilizou o país inteiro na luta pela volta da democracia, nas maiores manifestações cívicas da nossa História, não consigo esquecer daquela madrugada de 26 de abril de 1984, no Congresso Nacional, quando faltaram apenas 22 votos para a aprovação da Emenda Dante de Oliveira.
Eu estava lá e fiquei até o final, torcendo pela vitória e chorei junto com todo mundo, depois de atravessar o Brasil ao lado dos comandantes da campanha, tendo à frente o grande Dr. Ulysses, dos artistas e dos representantes da sociedade civil, que se uniram para dar um basta aos militares. Perdemos, mas ganhamos: no ano seguinte, acabou a ditadura com a eleição ainda indireta do civil Tancredo Neves, que morreu antes de tomar posse.
Foram 21 anos de um grito preso na garganta pedindo liberdade, que explodiu nas ruas e, como bem definiu o jornalista e escritor Laurentino Gomes, autor de "1989", tivemos ali a verdadeira Proclamação da República, quase um século após uma ação militar, com participação de civis, derrubar o último imperador.
Agora, em 1984, era o contrário: eram os civis que acabavam com o regime militar, sem nenhum apoio fardado, apesar da omissão, durante boa parte da campanha, da maioria da chamada grande imprensa, que está tentando reescrever a sua própria história, trinta anos depois.
Pela primeira vez, o povo brasileiro, que tinha assistido de longe e bestificado ao Grito da Independência, em 1822, e à Proclamação da República, 67 anos depois, assumia o papel de protagonista. Pois foi a partir da derrota de 26 de abril que o Brasil se tornou uma Nação dona do seu próprio destino, conquistando a democracia sem precisar dar um único tiro, com uma grande festa que se espalhou pelas ruas e praças para terminar naquilo que chamei de "a mais sombria madrugada", no último capítulo do meu livro "Explode um Novo Brasil _ Diário da Campanha das Diretas", sob o título "Galerias explodem e não deixam a luta terminar", que foii lançado poucos dias depois pela Editora Brasiliense.
O texto, publicado originalmente na "Folha", começava assim:
Alguns deputados choravam, outros se prostravam em silêncio. Ao ser anunciado o resultado da votação da Emenda Dante de Oliveira, pouco depois das duas horas da manhã, a grande festa que todo o povo brasileiro esperava corria o risco de se transformar num grande velório.
Mais uma vez, porém, este povo reagiu. Em vez de ficarem lamentando os 22 votos que faltaram para que o Brasil voltasse a ser uma democracia, os homens e as mulheres que lotavam as galerias bradaram seu grito de guerra: "um, dois, três, quatro, cinco, mil, queremos eleger o presidente do Brasil".
E terminava assim, com maiúsculas e tudo:
"Ontem, foi fogo segurar aquela barra. Mas, hoje, já está tudo bem de novo, nós não perdemos, nós ganhamos, você vai ver", disse-me a deputada federal e atriz Beth Mendes (PT-SP). De fato, nem as nuvens escuras e a chuva do fim de tarde em Brasília, depois destes dias de sol, foram capazes de apagar a chama. Num apartamento da W-3, ainda resistia, apesar de tudo, uma faixa em que se podia ler, simplesmente: BRASIL.
É muito bom poder reproduzir estas palavras trinta anos depois, sem ter que mudar nenhuma vírgula. Beth Mendes tinha razão.
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