quarta-feira, 28 de maio de 2008

AGRICULTURA - A fronteira agrícola mundial, o Brasil e a Amazônia.

O engenheiro Sérgio Bortolini foi feliz no seu artigo, pois conseguiu abordar o tema em questão, de uma maneira sucinta, abrangente e esclarecedora. Revela que apesar da sua importância, há um grande desconhecimento dos números da agricultura brasileira. Também mostra que apesar dos avanços tecnológicos na produção de alimentos, a restrição do solo é um dado fundamental. Ínforma ainda que está garantido o incremento da área agrícola em nosso país, sem que seja necessário destruir a Amazônia.Vamos ao artigo:

Berço Esplêndido.

Nós brasileiros vivemos bombardeados por manchetes que associam o sucesso do etanol brasileiro à catástrofe das queimadas na Amazônia, e aos subsequentes impactos climáticos mundiais.

A verdade sempre liberta.... pelo menos, aos bem intencionados. No caso da agricultura tupiniquim, a divulgação da verdade, ajuda que os brasileiros tenham a real consciência do . Desconhecemos os dados da agricultura brasileira.

1) Há mais de 30 anos escuto que o crescimento da agricultura mundial , no que dependesse da incorporação de novas áreas de cultivo, aconteceria na África e na América do Sul . Para os demais continentes a fronteira agrícola já estava esgotada... há 30 anos atrás. O aumento das colheitas proveniente do avanço tecnológico também é importante, mas em qualquer época, em qualquer estágio tecnológico o solo é a restrição fundamental.

Na atualidade, quando os preços dos alimentos não param de subir, vale a pena olhar o globo terrestre e nos compararmos com os demais paises destes continentes. África se apresenta fragilizada, um conjunto de paises, geograficamente pequenos e muitas vezes internamente divididos em divergências políticas. Há confrontos políticos atuais que são versões modernas, herdadas e realimentadas por ódios remanescentes das antigas guerras... tribais. Nem geograficamente, nem politicamente, nem socialmente a África, com um todo é comparável ao Brasil.

Na América do Sul representamos o maior território, graças aos bandeirantes que reverenciamos desde nossos bancos escolares. Os Andes reduzem as possibilidades agrícolas de nossos vizinhos. Estamos politicamente melhor organizados que qualquer outro país sul americano.

Abrevio. Quando o assunto é fronteira agrícola, o grande player mundial é o Brasil. O mundo sempre soube. Os brasileiros, ainda hoje, não sabem.

2) Atualmente, são cultivados no Brasil pouco mais 70 milhões de hectares para as culturas de exportação soja, milho, cana, arroz, laranja, café , algodão etc. e as culturas de consumo interno por exemplo feijão, batata. Em 2002 foram 53, em 2003 foram 57, em 2004 foram 65 , em 2005 foram 69 , em 2006 foram 67.

Com estes 70 milhões de hectares o Brasil é destacado no cenário mundial de comodities agrícolas, alimenta a sua população e importa o que não é economicamente viável produzir, por exemplo trigo.

Destes 70 milhões, destinam-se a cana de açúcar 8,3 milhões , cerca de 12% . Da produção de cana 50% se destinam a açúcar e 50% se destinam a álcool.

O nosso sucesso mundial com o etanol é feito com cerca de ¨6% de nossa área agricultável. Isto nada tem a ver com a Amazônia, e o avanço de lavouras sobre a floresta. 80% da produção brasileira de etanol está em São Paulo.

Além destes 70 milhões de hectares agricultáveis, destinamos à pecuária outros 200 milhões de hectares. Bois pastando em áreas enormes, que garantem um excelente desempenho a nossa indústria da carne. O Brasil é o maior exportador mundial da carnes.

Cultivos
milhão hec
%
Soja
21155
30,0
Milho
14210
20,1
Cana
8321
11,8
reflorestamento
6364
9,0
Feijão
3879
5,5
Arroz
2928
4,1
Café
2455
3,5
Trigo
1842
2,6
Algodão
1151
1,6
Laranja
919
1,3
Sorgo
665
0,9
Banana
520
0,7
Fumo
447
0,6
Batata
138
0,2
Tomate
57
0,1
Outros
5552
7,9
Total
70603
100,0
Outros:
cacau, amendoim, mandioca, mamona...

Os 9% atualmente destinados a reflorestamento garantirão ao Brasil a primeira posição no cenário mundial de papel e painéis de madeiras nos próximos anos.

3) A redução da floresta amazônica para a introdução da pecuária ocorreu e deve ser estancada. A transformação de áreas de pecuária em áreas agrícolas é uma conseqüência natural. Está portanto garantido o incremento da área agrícola, pela redução da área de pecuária, sem a destruição da Amazônia.

4) A criação de gado através de uma pecuária extensiva foi e é economicamente mais indicada. Os atuais preços das comodities agrícolas sugerem, entretanto que estes dados sejam revistos. É bastante provável que a criação de gado, em áreas menores com a incorporação de pastagens artificiais, combinadas com a liberação de áreas para agricultura representem um melhor retorno final ao proprietário da terra. A redução da área para a pecuária não significará, necessariamente, redução de produção ou custos maiores.

5) O mundo inteiro tenta nos constranger com implicações ambientalistas, quando na verdade estão maravilhados com o potencial do . O subsídio suiço para um a criador manter um pequeno tambo de leite numa região montanhosa se explica pelo pouca produção obtida, por um custo adicional ao Estado para manter serviços em áreas urbanas e também porque a Suíça é um país rico. Idem, idem, plantadores de Trigo e Milho na região norte dos Estados Unidos e Canadá, regiões que apresentam neve no inverno. São áreas de apenas uma cultura anual. No Brasil dispomos de algumas micro-regiões em que colhemos 5 safras em dois anos. O nosso clima é adequado. Não precisamos de subsídios agrícolas e não dispomos de recursos para eliminar o risco de qualquer atividade empresarial. Compreendemos o subsídio agrícola dos países ricos, mas devemos lutar pela sua erradicação como uma forma de estímulo aos paises produtores. Se o subsídio agrícola deve ser eliminado, o terrorismo ecológico é execrável. Só prospera por conta de nossa fraca argumentação contrária, da nossa ignorância sobre o Brasil agrícola.
6) É salutar que tenhamos um embate de idéias entre o preservação de nossos eco-sistemas, o cultivo sustentável, as necessidades de nossas populações indígenas e o desenvolvimento econômico almejado por todos. Há, entretanto, alguns requisitos pra que este debate seja bem sucedido: dados confiáveis sejam analisados, meias verdades embora divulgadas á exaustão sejam depuradas, ambiente para que o bom senso prevaleça e, finalmente radicalismos extremados sejam permitidos e ouvidos, mas mantidos à margem do debate central. Só assim, teremos condições de formular nossas próprias decisões estratégicas sobre a Amazônia e o nosso solo. Sérgio Antônio Bortolini, engenheiro , pós-graduado pelo COPPE/URFJ, com experiência de 30 anos na área de fertilizantes.

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