Artigo do jornalista Herve Kempf, do Le Monde.
No final deste artigo há uma revelação surpreendente: a de que os solos do planeta contêm mais gás carbônico que a atmosfera e as plantas.
Três montes de terra, cobertos por vegetação baixa, num canto abandonado do caminho. Aparentemente, nada mais banal. Exceto para David Manning, professor de geologia da Universidade de Newcastle (Grã-Bretanha), para quem eles foram a fonte de uma grande surpresa. Esses montes sintetizam uma experiência que o cientista vem realizando desde 2002 neste caminho rico em materiais empregados em obras rodoviárias. David Manning testou ali uma mistura de solo de compostagem e poeira do caminho para avaliar se resultaria numa boa cobertura para o solo após o fechamento do caminho. Em 2007, reanalisando o local, ele observou a formação de cristais de carbonato de cálcio, algo semelhantes a pedaços de giz, em proporções totalmente inesperadas. Uma análise posterior revelou que os carbonatos eram provenientes das plantas e não das rochas do terreno. Esta observação levou o geólogo a acreditar que haveria um meio completamente novo para a absorção de gás carbônico: a estimulação do processo natural de fixação de carbono pelas plantas. As plantas absorvem CO2 pela fotossíntese, já se sabe. Todavia, elas eliminam uma parcela dele sob a forma de um ácido orgânico. Por quê? É o resultado de um tipo de `stress`, explica David Manning. Quando falta alimento, elas liberam um ácido que dissolve as rochas adjacentes fazendo-as liberar elementos nutritivos, como o fósforo. Na maioria dos solos este carbono retorna à atmosfera. Entretanto, nos solos ricos em cálcio, o ácido que contém carbono reage com o cálcio, formando carbonatos de cálcio que se depositam nas raízes. A análise isotópica demonstrou que esta captura de carbono é conseqüente: ela poderia chegar a 150 quilogramas por ano por hectare numa plantação de trigo. Os carbonatos do solo permanecem estáveis por períodos muito longos e, assim, se constituem em uma fonte quase permanente de carbono. Pode-se usá-los de um modo passivo, de forma similar ao que se faz com algumas plantas aquáticas nas lagoas, para absorver metais pesados em águas poluídas, informa David Manning. Ao se enriquecer os solos com cálcio, pode-se de fato estimular o processo. Este cálcio poderia vir de camadas de rochas vulcânicas que o produzem em grandes quatidades através da poeira que elas geram. Os locais em que houve demolições podem também se constituir em fonte de cálcio, como também a indústria do ferro e do aço. Um modelo para processamento de dados De acordo com David Manning, os 2,5 milhões de hectares de trigo cultivados na Grã-Bretanha poderiam assim absorver 14 milhões de toneladas de CO2, ou seja, aproximadamente 3% das emissões do país. Porém, poder-se-ia também fixar carbono nos solos em fase de restauração vegetal à beira das estradas ou nos locais de construção. Resta ainda verificar a validade do método por uma rede de laboratórios. Os pesquisadores vão construir solos artificiais, altamente enriquecidos em cálcio, e vão plantar neles trigo, tremoços e orpino (uma planta gordurosa) para medir as quantidades de carbono fixadas. Isto irá permitir trabalhar num modelo de processamento de dados que irá definir a velocidade e a importância da formação de carbonato de cálcio em solos de diferentes composições. `Este método de luta contra as alterações climáticas poderia ser muito barato`, estima David Manning. Esta nova experiência demosntra bem o novo interesse que os solos vêm despertando, à medida que os climatologistas descobrem que eles são um importante ator no ciclo do carbono. Os solos do planeta contêm mais gás carbônico que a atmosfera e as plantas: 1,5 trilhão de toneladas nos solos orgânicos e 720 bilhões de toneladas nos solos carbonatados, contra 500 bilhões de toneladas em toda a vegetação. Herve Kempf (jornalista)Le Monde - 26 de maio de 2008. Tradução de Argemiro Pertence
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