Publicado no site Vermelho.
Os jornais populares cresceram nos últimos anos. No Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, os jornais populares estão entre os mais lidos: o Extra, do Rio de Janeiro, é o mais vendido do Brasil, com uma tiragem de 3 milhões, de acordo com dados do IVC. Na região sul, o Diário Gaúcho tem tiragem de 172 mil.Atualmente há cerca de dez jornais populares de grande circulação no Brasil. Os maiores são: Extra, Diário Gaúcho e Super Notícia. São Paulo, apesar de ser a maior cidade do país, não lidera as vendas de jornais populares e fica atrás do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Jornais populares de São Paulo, Agora São Paulo e Jornal da Tarde, custam acima de R$ 1,50. Já nos outros estados o preços variam de R$ 0,25 a R$ 1.Para Bruno Thys, diretor de redação e editor responsável pelo Extra, a liderança do jornal no mercado brasileiro se deve a vários fatores. “O jornal é útil, didático e tem muitos suplementos especiais. O aumento de circulação dos jornais populares também é um reflexo do crescimento da classe C. Hoje o Brasil é formado por uma maioria da classe C”, avalia.Sensacionalismo e entretenimentoCom um histórico de notícias sobre violência, fatos bizarros e fotos de mulheres seminuas, os jornais populares lutam para se livrar do estigma do sensacionalismo. Hoje, a maioria dos jornalistas acredita que o público não aceita mais este conteúdo, e que o fim do Notícias Populares é um exemplo disso.Trecho do editorial da última edição do NP em 20 de janeiro de 2001 afirmava: “o projeto editorial do NP, baseado na denúncia da violência na periferia da Grande São Paulo, nas informações sobre sexo e nas fotos de mulheres em poses provocantes, é hoje ultrapassado para um jornal impresso”. Desta conclusão foi lançado o Agora São Paulo, também de orientação popular, mas com um conteúdo diferenciado.Márcia Franz Amaral, autora do livro Jornalismo Popular, da editora Contexto, acredita que os jornais populares evoluíram, mas que a linha que separa o jornalismo do entretenimento é uma questão comum aos mais diversos jornais. “Compreendo que o grande problema do jornalismo atualmente é o apagamento da fronteira com o entretenimento. Quando uma matéria informa de maneira descontextualizada e singularizada, não está fazendo jornalismo, e sim entretenimento”, avalia.Mudança de linha editorialAtualmente os jornais populares se voltam para pautas como serviço público, direito do consumidor, entretenimento, trabalho e saúde. Ainda existe espaço para casos policiais, mas este não é o foco do mercado popular. “Os jornais populares fazem boas reportagens, ganham prêmios, têm profissionais qualificados que buscam cotidianamente mudar o ponto de vista das matérias para atingir um público diferente do leitor tradicional de jornais”, afirma Márcia.Para Alexandre Bach, editor-chefe do Diário Gaúcho, os jornais populares mudaram um pouco sua linha editorial.“Não vejo os jornais populares atuais apelarem para o sensacionalismo. Eles tratam de saúde, transporte e educação”, avalia. Para ele, o sucesso do Diário Gaúcho se deve ao preço e ao conteúdo. “O jornal é acessível e útil e as notícias têm impacto direto na vida dos leitores”.Conquistando leitoresOs jornalistas admitem que o maior desafio de quem atua no jornalismo popular é conquistar o leitor diariamente, ser didático e se pôr no lugar dos leitores. “O jornalista dos jornais populares tem que abandonar o mundo em que vive e se colocar no mundo do leitor. É mais difícil escrever sobre uma realidade que não é a sua do que escrever sobre assuntos que fazem parte do seu dia-a-dia”, afirma Bach.“Os desafios dos jornalistas incluem: humildade para escrever sobre pessoas simples, para pessoas simples e de maneira simples; mudança de pontos de vista nas matérias; consciência das causas e conseqüências dos problemas sociais brasileiros e sobretudo conhecimento da realidade sobre a qual vão escrever”, conclui Márcia.Outro desafio vivido no mercado de jornais populares é a conquista diária de leitores, já que a maioria não tem assinatura — apenas venda em bancas.Oito preceitos do jornalismo popular(apontados por Márcia Franz Amaral)1) O jornalismo popular leva em consideração a posição econômica, social e cultural do leitor e, por isso, fala de determinado ponto de vista;2) Expõe as necessidades individuais das pessoas para servir como gancho para aquelas de interesse público;3) Representa as pessoas do povo de forma digna;4) Publica notícias de forma didática, sem perder seu contexto e sua profundidade;5) Agrega o conceito de responsabilidade social da imprensa (o dever de assumir os efeitos sociais das informações que divulga) ao de utilidade social (o atendimento a interesses concretos dos cidadãos);6) Define-se pela sua proximidade com o público, pela adoção de elementos do universo cultural do leitor e conexão com o local e o imediato;7) É composto de notícias de interesse público, relatadas de maneira humanizada;8) Busca ampliar o conhecimento do leitor sobre o mundo e substituir o ponto de vista individual pelo ponto de vista do cidadão ou da comunidade, sem se dirigir para o campo do entretenimento e do espetacular.
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