Artigo do Luciano Martins no Observatório da Imprensa.
O prêmio Nobel de Economia de 2001, o americano Michael Spence, declarou que o Brasil vai liderar o surgimento na América Latina de um período de alto crescimento sustentado. A notícia ganhou mais espaço em boletins eletrônicos de bancos e corretoras do que nos jornais de papel ou em seus sites na internet.
A declaração do economista foi na quarta-feira (21), em Londres, durante a apresentação de um relatório sobre estratégias de crescimento sustentável e desenvolvimento inclusivo. O evento não despertou o menor interesse da imprensa brasileira. Pois deveria.
O estudo resumido por Michael Spence situa o Brasil numa encruzilhada que pode definir se entra definitivamente no rol das nações desenvolvidas ou se vai ficar mais um século olhando para algum ponto no futuro.
A Comissão de Crescimento e Desenvolvimento, um centro de estudos independente formado por especialistas, empresários e representantes de governos, é considerada uma provável sucessora do Clube de Roma, fórum criado em 1968 para debater a solução de roblemas mundiais. Sugiu em 2006, dirigida pelo próprio Spence, mas ainda não entrou na agenda dos editores brasileiros.
O que mostra o estudo é que o Brasil é um dos países com maior capacidade para produzir surtos de crescimento rápido, devido a determinadas características de sua economia, de seu território e de sua população. No entanto, historicamente, o país não tem sido capaz de manter por longos períodos esse crescimento, por motivos que não são difíceis de avaliar.
Políticas públicas
O relatório observa, por exemplo, que o Brasil foi um dos primeiros países a produzir um crescimento alto e sustentado no pós-guerra, acelerando sua economia nos anos 1950, mas perdeu seu ímpeto nos anos 1980, por causa do alto endividamento e inflação elevada.
Michel Spence ressalta que, neste início do século 21, o Brasil tem a inflação sob controle e resolveu o problema da dívida, criando condições para investimentos em infra-estrutura e para a formação de uma poupança sólida, condições importantes para a sustentabilidade do seu crescimento.
Essas observações são essenciais para o entendimento do noticiário econômico que recebemos todos os dias, e também para a formação de uma opinião do cidadão sobre as políticas públicas que são discutidas pela imprensa. Mas a agenda dos jornais é bem mais pobre.
Uma floresta no caminho
O debate sobre desenvolvimento na imprensa brasileira ainda está longe de amadurecer. Basta folhear os jornais, mesmo os especializados em economia, para observar que a imprensa ainda fala em "crescimento econômico", como se ignorasse a tendência mundial de identificar o desenvolvimento sustentável como objetivo estratégico.
A conciliação entre crescimento econômico, preservação ambiental e resgate social é a síntese dessa tendência, que a imprensa nacional parece ignorar ou desprezar.
Uma frase publicada na sexta-feira (23) no jornal O Estado de S.Paulo resume claramente o que pensam dirigentes públicos e, por conseguinte, o que sai na imprensa. Ela foi dita pelo governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, ao afirmar que não vai ceder policiais para a anunciada criação da Força Nacional de Segurança Ambiental.Maggi disse: "Já tenho pouco efetivo para cuidar do povo, não tenho soldados para proteger a floresta".
Maggi, como a maioria dos políticos brasileiros e a imprensa, entende que a proteção da floresta não tem relação com a defesa da população. Mais grave: ele e muitos outros dirigentes públicos acham que a floresta é um entrave no caminho do desenvolvimento.
Essa parece ser a principal limitação do noticiário que recebemos todos os dias: o debate sobre a questão ambiental vem separado do noticiário econômico, que parece não ter nada a ver com a política, onde amadurecem as políticas públicas que definem a economia.
As notícias sobre a questão ambiental, que envolve o destino das populações indígenas, chegam apartadas do noticiário sobre os conflitos agrários e a política agrícola – e não se pode formar uma opinião adequada sobre um tema sem levar em conta os demais.
O noticiário fragmentado também faz com que a imprensa não preste atenção em novos indicadores econômicos que não cabem nas planilhas tradicionais dos economistas. A visão dos jornais ainda se prende à superada relação custo-benefício financeira. Nessa conta, quem perde é o leitor
Nenhum comentário:
Postar um comentário