Parece que o modo de atuar dos políticos independe do lugar em que nasceram. Isso é o que se depreende, lendo o artigo da jornalista Kelpie Wilson, publicado no site Resistir Info. Tem como "pano de fundo", o estudo do geólogo Marion King Hubbert, que fez um trabalho acerca do pico da produção de petróleo. Tal estudo até hoje serve como principal referência na avaliação da oferta dessa energia finita e é conhecido como a "Curva de Hubbert".
Neste artigo podemos conhecer o que pensam os candidatos americanos (ou melhor, não pensam), que vão disputar as próximas eleições presidenciais, a respeito do pico petrolífero. Cabe lembrar que os Estados Unidos detêm apenas 3% das reservas mundiais de petróleo e são os principais consumidores. Há também no artigo, a revelação de uma proposta de chantagem contra a Arábia Saudita, maior produtor mundial.
Em 1956 Marion King Hubbert, geólogo da Shell Oil, apresentou ao American Petroleum Institute um documento no qual previa que a produção americana de petróleo atingiria o pico no princípio da década de 1970 e a então seguir-se-ia uma curva em declínio, agora conhecida como Curva de Hubbert. Mas Hubbert quase não pode apresentar o seu documento. Ele recebeu um telefonema dos seus patrões da Shell, que lhe pediram para "moderar o tom". Sua resposta foi de que não havia nada para moderar. Tratava-se simplesmente de análise objectiva. Ele apresentou o documento, sem correcções. Pode-se ler toda esta história aqui . Desde aquele tempo, a indústria petrolífera e os seus apoiantes políticos fizeram tudo o que podiam para amaciar a mensagem de que o petróleo é um recurso finito e que dele ficaremos privados algum dia. Por que deveriam eles proceder assim? Para promover a busca do lucro a curto prazo e com vistas curtas. Em 2004 a Shell finalmente foi apanhada numa mentira acerca da dimensão das suas reservas de petróleo. A companhia havia inflacionado a dimensão declarada das suas reservas de a fim de manter altos os preços das suas acções pois quem é que quer investir numa companhia – ou numa indústria – que está a ir pelo caminho dos dinossauros? Desde 1956, a economia mundial prosseguiu sob uma espécie de feitiço das companhias petrolíferas, o qual teceu em torno de nós a ilusão de que o esgotamento do petróleo está tão remoto no futuro que não precisamos de nos preocupar com isso. Esta crença foi essencial para apoiar o objectivo de uma economia em crescimento infinito. Houve uns poucos tropeços em tal estratégia. Em 1972, exactamente quando a produção de petróleo nos Estados Unidos atingiu o seu pico histórico, um grupo de modeladores computacionais do MIT divulgou um estudo denominado "Os limites do crescimento". Eles previam um declínio agudo nos recursos naturais de toda espécie. Como para muitos minerais, inclusive petróleo, os números das reservas não eram bem conhecidos, eles examinaram diferentes cenários. Alguns mostraram-nos o esgotamento do petróleo antes de 2000 e outros mostravam o pico da produção a verificar-se em meados do século XXI. A facção pró-crescimento reagiu rapidamente e fulminou a ideia de que poderia haver limites ao crescimento. Os cientistas do MIT foram tratados como Cassandras, tanto nas universidades como na imprensa. Esta estratégia de matar o mensageiro, o portador de más notícias, penetrou logo na política americana. Jimmy Carter tentou dominar a crise energética no fim da década de 1970 com o apoio a energias alternativas e à conservação, mas ele foi ridicularizado pelos media e os consumidores americanos não foram capazes de ouvir a mensagem. Ronald Reagan afastou-se disto na presidência e imediatamente removeu os painéis solares do telhado da Casa Branca. "NÃO POLIDO" Desde então, de certa forma tornou-se "não polido" conversar acerca dos limites do crescimento. Hoje, apesar do disparo dos preços do petróleo, a maior parte dos políticos ainda evita a expressão "Pico Petrolífero". A maior parte dos media ainda trata os advogados do pico petrolífero com cepticismo, utilizando epítetos como "à margem" (da respeitabilidade científica) e de "a assim chamada" para designar a teoria do pico petrolífero. Sejamos claros: o pico petrolífero é muitas vezes mal entendido. A data em que mundo atinge o pico não é a data em que realmente ficaremos privados de petróleo e sim a data em que cessamos de aumentar a produção. Isto é seguido por um "plateau" (planalto) em que a produção de petróleo é plana. Finalmente, a produção acabará por declinar. Mesmo um plateau é um grande problema para uma economia mundial que é baseada no crescimento. Num mundo em que 850 milhões ainda estão famélicos e 3 mil milhões dos 6,5 mil milhões vivem com menos de US$2 por dia, produção de petróleo estagnada significa um fim para modelos de desenvolvimento com base no crescimento económico. As estatísticas mostram que a produção de petróleo têm estado plana desde há mais de dois anos. Estes factos são simples. Como disse Hubbert em 1956: "Nada de sensacional quanto a isto, apenas análise objectiva". E ainda assim as mais poderosas instituições na nossa sociedade continuam a fazer tudo o que podem para evitar a confrontação com a verdade. Felizmente, uma vasta rede de cidadãos independentes, académicos e empregados renegados de companhias de petróleo mantem-se a examinar a verdade e a tentar educar o público acerca do pico petrolífero. Pode encontrar o trabalho dele on line em sítios como energybulletin.net e theoildrum.com . Estas redes têm não só revelado revelado as estatísticas reais acerca dos constrangimentos da produção de petróleo como também começaram a atacar o problema de como o mundo deveria responder a esta crise sem precedentes. Quem estiver interessado num encontro directo com os intrépidos "piquistas" pode participar de uma conferência já anunciada. The International Conference on Peak Oil and Climate Change: Paths to Sustainability terá lugar de 30 de Maio a 1 de Junho em Grand Rapids, Michigan. Vernon Ehler, deputado de Michigan, inaugurará a conferência. Ehler é membro do House Peak Oil Caucus, o qual foi fundado por outro republicano, Roscoe Bartlett, de Maryland. O Peak Oil Caucus é co-presidido pelo democrata Tom Udall, mas tem apenas 15 membros ao todo. Não existe grupo semelhante no Senado e muito poucos outros políticos utilizarão a expressão "Pico Petrolífero". Nenhum dos actuais candidatos presidenciais fez do pico petrolífero uma questão importante. A secretária de imprensa de Bartlett, Lisa Wright, disse que este havia conversado acerca do pico petrolífero com (o candidato) John McCain mas não com Obama ou Clinton. Quando lhe perguntei se McCain enfrentaria a questão do pico petrolífero, Wright respondeu: "Eu não descreveria o senador McCain como sendo tão conhecedor ou comprometido como o deputado Bartlett sobre a questão". Ao falar de questões de energia os políticos muitas vezes utilizam o eufemismo da segurança energética, reconhecendo que os EUA tem apenas três por cento das reservas de petróleo mundiais e advertindo que a maior parte do resto pertence a governos não amigos ou instáveis. Se bem que haja verdade neste tipo de declaração, ela estabelece uma estrutura de conflito ao criar a percepção de que ainda há muito petróleo mas que pessoas más estão a mantê-lo longe de nós. Tanto democratas como republicanos compram esta visão. Nesta temporada eleitoral, alguns democratas parecem ainda mais desejosos do que os republicanos de jogarem a carta do medo do petróleo e promoverem medidas de reparação rápida que não são eficazes ou são absolutamente ridículas. Primeiro houve as férias fiscais da gasolina proposta por John McCain e secundado por Hillary Clinton. Barack Obama distinguiu-se pela resistência à ideia. A teoria económico da mesma não faz sentido. Seria na melhor das hipóteses poupar ao motorista médio cerca de US$30 ao longo de um Verão de condução, e na pior a procura acrescida faria subir os preços da gasolina. A posição de Obama mostra o entendimento de que a oferta de petróleo não está a atender à procura, ainda que ele não utilize as palavras "pico petrolífero". Nas últimas duas semanas, o Congresso viu uma enorme quantidade de propostas imbecis de ambos os lados. Os democratas querem que o presidente Bush forçar os braços dos sauditas para fazer com que o reino produza mais petróleo. Se isso não funcionar, eles querem cortar os seus braços – isto é, as suas armas. O senador Reid planeia apresentar uma resolução expedita que bloquearia US$1,37 mil milhões em vendas de armas aos sauditas a menos que eles aumentem a produção de petróleo em um milhão de barris por dia. Richard Heinberg, educador do pico petrolífero, avisa onde toda esta confrontação poderá conduzir: "Suponha que actuemos duramente com os sauditas e acabemos por desestabilizar o reino de modo que forças inamistosas para connosco tomassem o poder. Então seríamos mais ou menos forçados a invadir a fim de manter o acesso à nossa droga nacional preferida. Onde acabaria isto? Será que isto ajudaria?" Entretanto, o que os democratas fariam aos sauditas os republicanos querem fazer ao urso polar e ao caribú. Os republicanos geralmente são favoráveis à perfuração no Refúgio Nacional da Vida Selvagem do Árctico (Arctic National Wildlife Refuge, ANWR) apesar do facto de que mesmo no pico da produção isto atenderia apenas dois por cento da procura americana de petróleo. Mas nem todos os republicanos são favoráveis à perfuração na ANWR. O vice-presidente do Peak Oil Caucus, Roscoe Bartlett, pensa que deveríamos preservar o petróleo do Árctivo para uma emergência real. Ao falar em oposição à perfuração ele declarou: "Estou a ter dificuldade para entender como é do interesse da nossa segurança nacional gastar a nossa pequena quantidade de petróleo tão rapidamente quanto podemos. Se bombearmos o ANWR amanhã, o que faríamos nós no dia seguinte?" Bartlett toma esta posição porque age sabendo que o petróleo é finito e que o mundo está a aproximar-se ou já ultrapassou o pico da produção. Se todos os membros do Congresso estivessem a operar dentro deste quadro, veríamos então algumas propostas políticas muito diferentes. Perguntei a Lisa Wright porque o gabinete de Bartlett pensa que a questão do pico petrolífero tem despertado tão pouca atenção nos media e entre os políticos. Wright culpou uma condição psicológica humana conhecida como dissonância cognitiva, "o fenómeno de que você só ouve o que está interessado em ouvir". "Verdades duras são difíceis de conversar assim como difíceis de absorver", disse ela. "É muito mais fácil acreditar em pessoas que dizem que se nós simplesmente tivermos mais produção americana então não teríamos de nos preocuparmos com importações do estrangeiro, sem explicar que já estamos a bombear nossa diminuta porção das reservas mundiais três ou quatro vezes mais rápido do que o resto do mundo. Mas não podemos furar o nosso caminho para a auto-suficiência porque você não pode bombear o que não está ali". Ao ser perguntada se via o pico petrolífero tornar-se uma questão na campanha presidencial, Wright disse, "Tornar-se-á uma questão da campanha se os candidatos fizerem dela uma questão e os candidatos optarão por torná-la uma questão se ela aparecer como algo motivador para os eleitores". Mas, disse ela, "É uma charada do ovo e da galinha. Na medida em que os eleitores se tornarem informados e conscientes através dos media, você descobrirá que os candidatos os seguirão. Este é o modo geral como a política americana funciona". Depois de anos de moderação do tom da mensagem do pico petrolífero no discurso público, os eleitores precisam fazer com que os candidatos saibam que agora é o momento de elevar o tom. [*] Editora de ambiente de Truthout , engenheira mecânica, autora de Primal Tears . O original encontra-se em http://www.energybulletin.net/44343.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário