Publicado no blog Espaço Vital.
Março de 2007: a Gol Linhas aéreas compra a Varig. Reacende-se a esperança do renascimento da companhia que já foi de longe a aérea mais representativa do País. Maio de 2008: a Gol cancela todos os vôos intercontinentais operados pela Varig. "No momento não pretendemos retomar essas rotas. Não está nos nossos planos", sentenciou o presidente do grupo, Constantino de Oliveira Junior. A escalada do preço do petróleo e a concorrência com as grandes empresas internacionais fizeram a Gol tomar uma atitude que frustrou grande parte dos brasileiros. As estrangeiras estão ganhando mercado aceleradamente. Um estudo elaborado pelo Núcleo de Economia Industrial e de Tecnologia (Neit) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mostra que de 2001 a julho de 2006 a participação das companhias brasileiras nas rotas internacionais despencou de 51,9% para 28,5%. As informações são do saite da Força Aérea Brasileira.O coordenador do estudo, o professor e pesquisador Marcos Barbieri interpreta como uma das causas centrais para essa queda a operação falha da Varig, que perdeu vários mercados quando passava por crise financeira. "Até a insolvência da Varig o mercado estava equilibrado. De repente, a participação das brasileiras despencou e as estrangeiras tomaram conta. Isso foi ruim para o País porque perdemos a chance de ter uma companhia forte mundialmente", diz Barbieri. Segundo ele, nem mesmo a Tam Linhas aéreas, que hoje detém o monopólio nas rotas internacionais das empresas brasileiras poderá recuperar o prestígio e a expertise da Varig em seus tempos áureos. "Leva tempo construir uma imagem no mercado mundial, principalmente em um setor que hoje se fortalece com fusões. Para se ter operação lucrativa em tempos de crescimento da demanda e também de custos é preciso ser forte economicamente", afirma Barbieri. "A Varig construiu sua imagem de grande empresa mundial durante décadas. Foram mais de 80 anos de operação. E o Brasil perdeu isso. Perdeu a grande chance de se firmar no mercado internacional com a Varig", ressaltou o pesquisador da Unicamp. Ainda no entendimento de Barbieri, a retomada da operação internacional da Varig sob controle da Gol foi dificultada pela débil estrutura operacional. "A Varig mantinha, apesar de inchada, uma estrutura em cada país que atuava, além de participar de alianças operacionais que facilitavam toda a operação internacional. Quando acabou, não tinha mais como retomar. É difícil recuperar a imagem de uma empresa falida", diz Barbieri. Quando iniciou operações internacionais, na década de 50, a Varig servia apenas os Estados Unidos e países da América do Sul. Com a controvertida falência da Panair em 1965, o governo militar concedeu à Varig todas as rotas internacionais. Lembre-se que a Panair tinha como principais destinos a Europa e algumas capitais sul-americanas, que interessavam a Varig e a Cruzeiro do Sul. Numa manobra polêmica, as duas empresas influenciaram o governo a decretar a falência da Panair para assumir as suas rotas. A situação foi tão inusitada que poucas horas após o anúncio do fechamento da Panair, a Varig já estava operando as linhas da ex-concorrente. O monopólio de fato da Varig em rotas internacionais veio com a aquisição da Cruzeiro do Sul, em 1975. O curioso é que essa negociação não tinha a Varig como protagonista, mas sim, a Vasp, que já dava como certa a compra da Cruzeiro do Sul e, por isso, oferecia valor muito abaixo do mercado. Os diretores da Cruzeiro resolveram, então, oferecer a empresa à Varig que fez proposta melhor e saiu vitoriosa. Apesar de continuarem empresas distintas, foi feita uma racionalização de serviços entre ambas, para evitar, por exemplo, a superposição de rotas e horários. Em 1993, a Cruzeiro foi inteiramente absorvida. Ex-diretor do extinto Departamento de Aviação Civil (DAC), o ex-ministro da Aeronáutica, Mauro Gandra diz que uma das causas para a quebra da Varig e de todo o prestígio que representava no exterior foi a falta de atitude do governo brasileiro. "Dentro do espírito neoliberal do governo Fernando Henrique Cardoso, não era permitido ajuda às empresas aéreas. Isso acabou com a Varig", diz Gandra. "O negócio de aviação não é um bom negócio. Só se sobrevive com algum tipo de subsídio", ressalta. Gandra cita a atitude do governo norte-americano que aprovou recursos para as companhias aéreas logo após o ataque às torres gêmeas em 11 de setembro de 2001. "Foram aprovados cerca de US$ 20 bilhões a fundo perdido, para dar fôlego às empresas em tempos de demanda baixa. Mas, os norte-americanos entendem que aviação é um negócio primordial para o crescimento da economia, o que ainda não é percebido aqui no Brasil", acrescenta o ex-ministro.
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