Carlos Augusto de Araujo Dória, 82 anos, economista, nacionalista, socialista, lulista, budista, gaitista, blogueiro, espírita, membro da Igreja Messiânica, tricolor, anistiado político, ex-empregado da Petrobras. Um defensor da justiça social, da preservação do meio ambiente, da Petrobras e das causas nacionalistas.
sexta-feira, 23 de maio de 2008
POLÍTICA - Semelhanças e diferenças entre os governos Lula e FHC.
Para Márcio Pochmann, há similitudes nas políticas sociais e econômicas adotadas pelos dois governos, mas diferenças de ênfase e objetivos. "Os programas de transferência de renda ganharam uma dimensão que não estava estabelecida pelo governo Fernando Henrique Cardoso", exemplifica. Na terceira e última parte de sua entrevista à Carta Maior, o presidente do Ipea, Márcio Pochmann, analisa algumas políticas econômicas e sociais do governo Lula em comparação às de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Pochmann vê “similitudes” entre as duas gestões, mas rebate com facilidade as críticas que classificam o atual governo como “mais do mesmo” em termos de objetivos e ênfase nas transformações buscadas para o Brasil. Pochmann fecha a entrevista com uma análise sobre a situação dos EUA, que, no seu entender, viveria hoje um ponto de inflexão em sua hegemonia mundial.Carta Maior – Muitas, vezes, há críticos que dizem que as tendências da diminuição da pobreza e da desigualdade verificadas no governo Lula já vinham se estabelecendo desde o governo Fernando Henrique e que, portanto, o governo Lula seria somente mais do mesmo. Você concorda com essas avaliações, ou há diferenças marcantes entre as duas adminsitrações nestes pontos? Pochmann – Nós tivemos experimentos diferenciados, como por exemplo a aposta no crédito, que tem sido um elemento importante na ampliação do consumo dos segmentos de menor renda, dos assalariados, dos aposentados. Isso certamente foi uma novidade. Como também foi a unificação dos programas de transferência de renda. O governo anterior, embora não tivesse o Bolsa Família, possuía um conjunto mais fragmentado de políticas, de forma que, sob o governo Lula, houve a unificação – e não apenas uma unificação que deu racionalidade e maior foco neste tipo de política, como também houve a ampliação do número de beneficiados e elevação da remuneração, de elevação do valor pago. Então, mais do mesmo, significaria a continuidade da fragmentação daquelas políticas, e mais do mesmo significaria inclusive uma parcela relativamente pequena. Nós saímos de 3 milhões de famílias atendidas para 11 milhões de famílias atendidas. Quer dizer, os programas de transferência de renda ganharam uma dimensão que não estava estabelecida pelo governo Fernando Henrique Cardoso.Em segundo lugar, é bem verdade que o salário mínimo começou a se recuperar de forma mais recente a partir da estabilidade monetária. Agora, os ganhos em termos reais mais significativos foram garantidos no governo Lula, bem como o estabelecimento de uma política para o futuro. Hoje, contamos com uma política de médio prazo para o salário mínimo que não existia anteriormente. Tivemos, ainda, a correção da tabela do Imposto de Renda, que foi uma medida importante para os níves intermediários de remuneração do país. Então, ao meu modo de ver, é possível identificar determinadas similitudes entre os dois governos, mas as ênfases são diferentes com relação ao governo Lula.Carta Maior – E quanto às análises que apontam para a existência de uma bolha do crédito nos EUA, para além e anterior à bolha no mercado imobiliário, que agora começaria a se dissolver? Pochmann – No que diz respeito à situação da economia norte-americana, é importante dizermos que praticamente desde a crise de 1973, que abortou o sistema financeiro internacional, em que o dólar tinha a conversibilidade ao ouro e era uma moeda praticamente estável, e que os juros eram flutuantes no mundo, este período que vigorou durante o pós-guerra, foi um período de relativamente estabilidade mundial e que apresentou o crescimento de quase todos os países. O esgotamento do sistema financeiro mundial, o fracasso das agências multilaterais de Bretton Woods, entre elas o Banco Mundial, o FMI entre outras, fez com que a forma de organização do sistema financeiro internacional e dos bancos dos grandes países operasse cada vez mais de forma desregulada e liberada.Então, nós passamos a conviver, da segunda metade dos anos 70 para cá, com um período de instabilidade, sem regulação macroeconômica mundial, com um papel decrescente das instituições multilaterais. Desde então, passamos a conviver praticamente a cada dois anos com uma crise internacional, seja afetando os países do centro do capitalismo, seja os da periferia. Agora nós estamos diante de mais uma crise. Ou seja, a forma de desregulamentação em que operam os bancos levam a crises sucessivas.E é importante dizer isso, senão não se percebe o papel que vem tendo o Banco Central norte-americano e o governo de tentar regular, de haver a interferência do Estado. O segundo aspecto diz respeito a uma transição, a um deslocamento da importância da economia americana para o mundo para a economia asiática.São dois os alicerces que permitiram a expansão da economia americana no período mais recente, dos anos 90 para cá. Ela está sustentada, em primeiro lugar, nos fortes investimentos em tecnologia da informação – setor que enfrentou a crise do ano 2000. E o outro alicerce, referente ao setor imobiliário, agora enfrenta uma nova crise, que colocou por terra toda a parte de construção de imóveis, que vinha em expansão nos Estados Unidos. A meu ver, estamos diante da decadência da economia dos Estados Unidos, uma economia tão importante, que governava o mundo. De certa maneira nós vivemos – guardadas as devidas proporções – uma sinalização semelhante à que vivemos no século XIX, em que a Inglaterra perdeu dinamismo mundial e os Estados Unidos ascendeu. Hoje, assistimos à perda do dinamismo americano e à ascensão da economia asiática, com a China. Agência Carta Maior.
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