No momento em que o nosso país recebe mais um grau de investimento, vale a pena ler o artigo abaixo, publicado na BBC BRASIL.
Em editorial publicado nesta sexta-feira, o jornal britânico Financial Times pergunta quem avalia as agências de classificação de risco, como a americana Fitch - que na quinta-feira deu grau de investimento ao Brasil -, lembrando que as previsões dessas agências muitas vezes são questionáveis.
"As maiores agências – Moody’s, Fitch e Standard & Poor’s", diz o jornal, "se enganaram redondamente na avaliação da capacidade de pagamento de dívidas no mercado de crédito imobiliário de alto risco (subprime)".
O jornal diz que "muitos chegaram a culpar as agências de classificação de risco pelo colapso no subprime, em retrospecto, pelo erro nas suas avaliações".
"Mas um monte de outras pessoas inteligentes também estava errada”, afirma o jornal.
O FT reconhece a necessidade de algum tipo de controle ou monitoramento maior no setor, mas diz que isso não será uma tarefa fácil.
“Enquanto há uma necessidade urgente de mudança, uma regulação intrusiva iria fracassar em evitar problemas semelhantes no futuro, além de impor custos consideráveis”, diz o jornal.
Segundo o jornal, o debate deve se centralizar no que deu errado na classificação dos títulos das empresas hipotecárias. “Primeiro, houve fraude em algumas das aplicações básicas para hipoteca. Segundo, as hipotecas de alto risco são uma invenção recente, então, há poucos dados sobre como elas se saem com a economia em queda. Terceiro, pessoas que têm hipotecas se tornaram mais dispostas a perder suas casas com a queda dos preços, e as agências de classificação não identificaram a mudança.”
O editorial pergunta se a inadequação das agências se deve a um conflito de interesses: as classificações são usadas pelos investidores, mas são pagas pelos emissores dos títulos. Por conta disso, diz o FT, “as agências têm um incentivo financeiro para manter os emissores felizes”.
O jornal sugere que o conflito poderia ser resolvido com a criação de um órgão independente para encomendar avaliações usando o dinheiro dos emissores, mas para isso, seria preciso vencer a resistência da indústria.
Mas, segundo o FT, as mudanças têm que partir da própria indústria. “Esta é uma mudança que as agências têm que fazer por conta própria, e não é a única. As avaliações de crédito não estavam apenas erradas, elas foram mal-entendidas e o uso do familiar nomenclatura do A triplo (o grau mais alto de investimento) contribuiu para isso".
“Títulos estruturados são diferentes dos títulos normais corporativos, tanto na estrutura legal como no modo como eles se comportam. As agências de classificação de risco devem adotar novos rótulos para descrevê-los imediatamente”, conclui o FT.
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