A América Latina, um continente em transformação, está na ordem do dia. Passou o tempo em que os editores de jornais europeus só se ocupavam deste continente quando algum fato grave indicava a ocorrência de mais de dez mortos. No final do mês de maio, no contexto da contagem regressiva para o início do VII Fórum Social Mundial em janeiro de 2009, realizou-se, em Belém do Pará, na Região Amazônica, portanto, o seminário O Futuro da democracia na América Latina.
Movimentos sociais e políticos.Durante dois dias ocorreram debates com a participação de dezenas de intelectuais, jornalistas e políticos latino-americanos e europeus, numa pequena mostra do que será o VII FSM. O importante evento promovido pelo governo do Pará, Universidade Federal do Pará, Le Monde Diplomatique e Memoire des Luttes foi aberto pela Governadora Ana Julia Carepa.Apesar do quase total silêncio da mídia conservadora, muitos fatos jornalísticos de suma importância foram registrados. Ignácio Ramonet, diretor do Le Monde Diplomatique, por exemplo, foi o primeiro debatedor, juntamente com Emir Sader, secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso). Logo de saída Ramonet, no tópico sobre A América Latina no contexto geopolítico, indagou quantas crianças pelo mundo e na América Latina morreriam por doenças facilmente curáveis nos 20 minutos de sua exposição?O jornalista espanhol lembrou que 100 milhões de crianças estão fora das salas de aula, sendo que 60% meninas, observando que 40% da humanidade vive com menos de dois dólares diários. O diretor do Le Monde Diplomatique alertou que nestes tempos de globalização o fosso entre ricos e pobres aumentou consideravelmente com reflexos na América Latina. Para se ter uma idéia dos tempos atuais, Ramonet lembrou que as três pessoas mais ricas do planeta têm patrimônio superior ao Produto Interno Bruto dos 48 países mais pobres do mundo.Estes dados, que alguns podem considerar óbvios, são muito pouco divulgados. Nove em cada dez analistas econômicos entendem que o fenômeno atual da globalização é irreversível. Fora disso, segundo os tais banbanbans, viria o caos. E quem porventura não aceite o “fato consumado” não passa de um “jurássico”.Democracia consolidadaRamonet e vários outros participantes da Europa depositam confiança na América Latina, um continente de esperança e onde a democracia está consolidada como demonstram os resultados das eleições pelo menos nos últimos 10 anos, iniciados com a vitória de Hugo Chávez, na Venezuela, em 1998, passando pelo Uruguai, Brasil, Equador, Bolívia e no último dia 20 de abril com a vitória de Fernando Lugo no Paraguai, ao desbancar o Partido Colorado depois de mais de 60 anos a frente do poder.Emir Sader em sua colocação destacou os malefícios acarretados pelo imperialismo estadunidense no continente latino-americano, não só com o apoio dado aos sucessivos governos ditatoriais e golpes de estado contrários às mudanças estruturais que vinham sendo tentadas por governos progressistas, como, na fase atual, as pressões contra determinados presidentes que se destacam pela defesa da soberania e interesses nacionais, sobretudo Hugo Chávez e Evo Morales.Chile da concertación segue o neoliberalismoO jornalista chileno Victor Hugo de la Fuente, editor no Chile do Le Monde Diplomatique fez uma avaliação crítica da Concertacion. Segundo ele, atualmente o Chile depois do Brasil é o segundo pior país da América Latina em matéria de distribuição de renda. De la Fuente acha que esta tendência se viu agravada durante a ditadura militar e com os sucessivos governos da Concertación, que mantiveram a política econômica neoliberal.Ao encerrar a sua palestra, o jornalista chileno prestou homenagem ao presidente constitucional Salvador Allende, derrubado pelo sangrento golpe de setembro de 1973, e que se fosse vivo estaria completando cem anos no próximo dia 26 de junho.Naturalmente seria praticamente impossível reproduzir neste espaço todas as questões levantadas no referido seminário. Mas vale destacar também o que disse o jornalista e cientista político alemão Ingo Niebel, que ao comentar o caráter pouco dogmático da revolução bolivariana na Venezuela comparou-a a uma espécie de software livre que se pode colocar em um computador e aplicá-lo de acordo com as necessidades de cada um.Alemanha pode ter um caracazoNiebel destacou ainda que o neoliberalismo está levando os países do Norte a sérios problemas. E vaticinou que a continuar esse esquema econômico, países europeus como a sua Alemanha, por exemplo, em pouco tempo poderão enfrentar revoltas do tipo caracazo, a tal insurreição popular ocorrida na Venezuela em 1989 logo no início do governo de Carlos Andrés Pérez, o tal presidente que durante a campanha eleitoral prometeu enfrentar o FMI e em 15 dias de mandato decretou um pacote cedendo a todas as imposições do organismo financeiro.Para os leitores que consideram a Alemanha crem de la crem em matéria de nação, o neoliberalismo está produzindo tamanhos efeitos nocivos ao povo alemão que em certas regiões rurais, principalmente na antiga Alemanha Oriental, para se conseguir atendimento médico é necessário se deslocar 80 quilômetros.Da mesma forma que Ramonet, Niebel considera a América Latina um fator de esperança para todos os setores progressistas europeus. Ou seja, o seminário Futuro da Democracia na América Latina demonstrou que, querendo ou não a mídia conservadora, esta região do planeta está realmente em transformação e o mundo inteiro está confiante no processo que se desenvolve em muitos países destas bandas.Nova esquerdaO cientista político alemão Thomas Mitschein enfatizou o caráter inovador da nova esquerda que se formou pós-queda do Muro de Berlim. Na mesma linha de Niebel, ou seja, um antidogmático por excelência, ao responder uma pergunta sobre se achava que a revolução chinesa poderia ser referencial para o socialismo em função do tipo de modelo que lá vigora, Mitschein observou que se trata exatamente de um questionamento que revela vínculos com um passado ortodoxo já superado, pois hoje o socialismo está descentralizado.É isso aí, o futuro não só a Deus pertence, mas também aos habitantes deste planeta, onde parte significativa está mesmo convicta de que um outro mundo é possível. Mas para que isso realmente aconteça é preciso que os movimentos sociais, não apenas na América Latina, mas em todo o resto do mundo estejam convictos de que esta hipótese não é uma utopia. E, para alcançar a mudança, além da consciência é preciso que haja mobilização.É isso aí, os que acreditam que um outro mundo é possível já estão em fase de contagem regressiva para o próximo Fórum Social Mundial de 2009, que terá como cenário Belém do Pará.Em tempo, o jornalista afegão Jawed Ahmad, do canal canadense CTV, preso ilegalmente pelas Forças Armadas estadunidenses há seis meses, sem qualquer acusação formal, não mereceu até agora nenhum tipo de solidariedade de entidades que se pretendem defensoras dos direitos humanos. Repórteres Sem Fronteira, a tal entidade que volta e meia bota a boca no mundo em sintonia com a Sociedade Interamericana de Imprensa não divulgou nenhum protesto. A família do jornalista ingressou com um pedido de explicação de Bush na Justiça.O candidato de Bush, o troglodita John McCain já avisou que pretende continuar no Iraque. Barack Obama, que promete ser uma reciclada do sistema tem compromissos de começar a retirar as tropas de ocupação.Resta saber se Obama cumprirá o que andou falando, porque não é de hoje que candidatos falam uma coisa no palanque e fazem outra mais tarde. McCain já se sabe que representa a extrema direita que quer manter intacta a política hedionda de Bush.Perigo nos estertores de BushAh, sm, nos estertores do governo Bush aparece uma autoridade troglodita israelense ameaçando bombardear o Irã, A questão supostamente é a da bomba atômica, que Israel possui, mas ninguém no Ocidente se opõe. O governo iraniano garante que continuará desenvolvendo a energia nuclear para fins pacíficos.Os fundamentalistas, sejam eles estadunidenses ou israelenses recomeçam a ameaçar o Irã. A extrema direita guerreira estadunidense havia perdido força no que diz respeito a preparar um ataque ao Irã. Mas no estertores de Bush, com o apoio dos correligionários israelenses prometem não desistir dos intentos belicistas.Se o preço do barril do petróleo começa a arrancada para chegar aos 150 dólares, podem imaginar o que acontecerá se os extremistas levarem adiante a idéia do ataque?Resta saber o que Obama pensa disto tudo.
Fonte: Blog Fazendo Média.
Nenhum comentário:
Postar um comentário