Artigo do Laerte Braga no blog Morcego Vermelho.
OS MILITARES E A DEMOCRACIA
A imensa e esmagadora maioria dos militares brasileiros é séria do ponto de vista do trato da coisa pública. Não tem aquele negócio de meter a mão e levar vantagem. No âmbito das forças armadas isso é mínimo de fato.
E mesmo ao tempo da ditadura em se tratando de presidentes. Nenhum deles se locupletou no cargo, ainda que os governos de Castelo Branco, Costa e Silva e João Figueiredo tenham sido um festival de corrupção. Os presidentes em si não.
Castelo Branco carregava a ilusão que Roberto Campos era um sujeito decente. Foi o responsável pelo aumento do percentual da propina, de 10% para 20%.. Costa e Silva fechou os olhos pois a corrupção estava ao seu lado, mulher e o conjunto da família. Figueiredo nunca teve noção de norte ou sul em coisa alguma. Geisel foi o único a não permitir esse tipo de procedimento a despeito de Mário Henrique Simonsen no Ministério da Fazenda.
Os estragos causados ao País pela ditadura militar por figuras menores de torturadores, corruptos, foram também causados a instituição que paga o preço de todas as forças armadas do mundo. O de não perceber que são forças armadas encarregadas da defesa do território e da soberania nacionais e não salvadores da pátria, ou farol ou norte para qualquer nação.
O dilema das forças armadas brasileiras passa hoje por aí. Ou aceitam as regras do jogo democrático e se profissionalizam (e para isso têm que lutar essa luta), ou mergulham de novo no processo político e se enlameiam mais que se enlamearam durante a ditadura, o período em que tentaram salvar o País e na prática escreveram páginas de ódio, barbárie e estupidez.
O caso do Morro da Providência é um exemplo típico. Militares não têm o que fazer no Morro da Providência e nem em morro algum. Essa história de operação com fins sociais é balela. Militar não tem que cuidar da segurança pública. Responsabilidade dos governos estaduais e do governo federal através de instituições próprias, as polícias, aliás, a exceção da Polícia Federal, falidas as demais. Seja a militar (uma aberração do ponto de vista da instituição Polícia), seja a civil.
O comportamento do tenente e dos soldados que entregaram três jovens a traficantes de outro morro para que tomassem um corretivo se estende para além do fato em si e alcança destrambelhados como o general Augusto Heleno que encontra nos índios pretexto para defender o capital estrangeiro predatório de empresas como a VALE e se deixa cooptar por entidades estrangeiras travestidas de nacionalistas e patriotas como o caso da FIESP/DASLU.
O típico modelo da barbárie terrorista norte-americana/sionista.
O Brasil é um país com dimensões continentais. Os donos do mundo vão lutar com todas as armas possíveis para manter-nos como quintal dos seus interesses e a FIESP/DASLU é a principal porta de entrada.
O que são políticos hoje? Deputados, senadores, governadores, prefeitos, vereadores em sua maioria são eleitos financiados por empresas e em função de interesses que vão desde o específico localizado, aos nacionais.
Veja o caso do governador de Minas, Aécio Neves. Nem mora em Minas Gerais. Foi agraciado com um coro desmoralizante no jogo Brasil e Argentina por parte da torcida (“ei Maradona por que parou? Parou por que? O Aécio cheira mais que você”).
A corrupção em Minas atinge a níveis espantosos, das grandes quadrilhas que operam no chamado mundo do crime legal (bancos, empresas, latifúndios). O governo do estado é uma disputa entre irmã e cunhado do governador que se solto em Belo Horizonte vai precisar de ajuda para chegar ao Palácio, não conhece a cidade.
Está rodeado de “consórcios” corruptos como na Secretaria de Saúde (o deputado estadual Marcus Pestana), na esteira desse negócio de choque e gestão, privatização, eficiência, tudo advindo do esquema Marcus Valério agora sob outras regências, lógico.
Ou o governo de José Serra em São Paulo. As redes de tevê e os grandes jornais e revistas, comprados e muito bem comprados, silenciam sobre as propinas pagas pela ALSTON, o crime foi descoberto no exterior, para sustentar fortunas e campanhas tucanas.
Os vinte mil que o deputado Custódio Matos pegou na campanha de Eduardo Azeredo é a mesma merreca do igual Roberto Jéferson (diferem no estilo, um gosta de Londres e lamenta o fim do fog e outro gosta da Baixada e lamenta o fim da ditadura).
Um coronel da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, muito bem remunerado pelo latifúndio gaúcho, preparou um informe digno de um Mourão Filho (plano Cohen), para criminalizar os movimentos sociais no País e no estado, como agentes do terrorismo, da desordem, como anti democráticos, baderneiros, etc, tudo para justificar e defender um governo (tucano lógico) corrupto e podre da senhora Yeda Crusius.
Em 1964 e anos da ditadura teria sido elevado à cargos os mais altos tamanha a capacidade de encontrar comunistas e subversivos debaixo de cada cama. Patriotismo? Preocupação com a lei e a ordem? Nada. Boçalidade mesmo, por isso usam essas figuras. O “patriotismo” é o bolso aberto às gratificações/propinas para o leite das crianças.
Militares não têm que se meter em nada além do estrito limite do dever constitucional. Essa mania de comandantes militares darem palpite na vida pública, no processo de governo para além dos muros de sua competência legal é que cria figuras como o general Augusto Heleno (cooptado pelo grande capital e remunerado por ele), ou como o tenente que entrega três jovens a traficantes para que sejam “corrigidos”.
A declaração do comandante militar do Leste que o Exército faz e cumpre função social é mero pretexto para desmoralizar as forças armadas pela simples razão que o general comandante do Leste não tem a menor idéia de nada a não ser a vesgueira de quem acha que a nação se constrói a partir de toque de cornetas e metralhadoras em favelas intimidando e coagindo populações excluídas.
Queria ver esses “patriotas” defendendo o território nacional no caso da VALE. Ou da ARACRUZ. Na ocupação da Amazônia por grandes empresas.
Colocar a culpa nos índios e entregar jovens ao tráfico é jogar no lixo o que resta de alternativa às forças armadas para tentarem se recuperar do desastre hediondo de 1964.
Se a estupidez permitir que entendam isso. Caso contrário, a coisa complica.
E há um dado importante nisso. A falta de uma política específica para as forças armadas, para a defesa real do País e não a feita pelo general Augusto VALE Heleno. A ausência do governo, que faz de conta que não vê, ou a presença de um ministro sem condições políticas e morais de nada contribuem para diminuir essa sensação “casa da mãe Joana”.
Precisa começar a explicar lá na formação, aos cadetes, o que é de fato democracia, sem esses adjetivos que militares costumam aplicar e que Sobral Pinto desmoralizou em 1964 ao dizer que não existe “democracia a brasileira. Democracia não é peru que se faz a moda, a brasileira, a francesa. Ou é democracia ou não é”.
E militares não são estamento dentro do contexto. São parte do todo têm que cingir-se a ele, sem se imaginarem senhores da cocada preta.
Quando tomaram o poder num golpe, em 1964, criaram e geraram a barbárie, a boçalidade, não resolveram coisa alguma e deixaram o País estraçalhado.
O processo político brasileiro tem que ser construído através do movimento popular e da resistência a um estado privatizado e que faz de muitos generais, caso do general Heleno, instrumento das elites e dos entreguistas.
Ou gera tenentes como o do Rio, que se atribuem um papel de senhor da vida e da morte e não passa de um criminoso fardado. É produto da formação “patriota”.
Em 1964 eliminaram de todas as formas os militares com esse nível de consciência democrática real. Negaram, na mediocridade de um general da banda, honras militares ao último grande militar brasileiro, o general Lott.
Estão se deixando enveredar pelo mesmo caminho e pior, podem mergulhar o País numa crise de dimensões graves ou podem voltar a lutar pela entrega do resto do Brasil aos donos de fora.
Os que escrevem o discurso do general Heleno. E acham que devem “corrigir” jovens entregando-os ao tráfico.
Laerte Braga, no BLOG DO MORCEGO VERMELHO
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