Carlos Dória.
A relação de queixas recíprocas entre o pessoal de Geraldo Alckmin e de José Serra é típica de donas de casa em crise existencial. Futrica para cá, para lá, naquele ano você não me apoiou, nas eleições seguintes a culpa foi sua.
Mais do que a derrota na convenção, o resultado demonstra a dificuldade de José Serra em articular frentes, em somar. Como se explica que, tendo o governo do estado e a prefeitura, seja derrotado por um político mediano, como Geraldo Alckmin. E tendo um estado praticamente sem oposição, consiga promover esse festival de queixas recíprocas? Como seria essa amarração no âmbito federal?
Não é à toa que a cara do partido, hoje em dia, é Arthur Virgílio, manobrado por Fernando Henrique Cardoso.
São tipicamente sintomas de um partido que perdeu as bandeiras, a mesma situação do PT em 1994. Não se pense em situações estratificadas. A era Lula termina em 2010, é possível que a estabilidade também, em função da crise cambial que se avizinha. Mas o que terá o PSDB para oferecer, como alternativa de poder?
Nesse período todo, o vácuo deixado pelo fim do governo FHC não foi ocupado por ninguém, nem José Serra nem Aécio Neves. Presos ao eterno dilema tucano, o PSDB não soube nem recuperar os valores iniciais - presentes nos primeiros líderes, como Franco Montoro e Mário Covas - nem exorcizar o fantasma de FHC.
A idéia de um partido moderno, sem se prender a dogmas ideológicos, sendo pragmático na busca do bem geral, virou fumaça com a era FHC e seu mercadismo desvairado, seu elitismo extravagante. A rigor, FHC jamais foi capaz de formular um projeto de longo prazo para o partido, como desejava Sérgio Motta. Pegou a bandeira da estabilidade, que estava quicando na área. Deu seguimento ao processo de liberalização da economia sem um plano de vôo, de forma inconsequente, pensando apenas na criação de uma nova super-classe que garantiria a aliança com o partido, eternizando-o.
Com FHC o PSDB perdeu completamente a dimensão das ruas. Tornou-se cada vez mais fechado, mais elitizado, inclusive internamente. Acabaram-se as bases partidárias, reduzidas às disputas estaduais, enquanto a linha do partido era dada por economistas muito mais interessadas em abrir espaço para seus futuros negócios. O partido ficou definitivamente contaminado pelo padrão FHC, tipicamente acadêmico, de driblar a falta de ação com interpretações da história - bonitas, na sua mesmice, e inócuas.
Hoje é um partido rachado em mesquinharias, como a que acomete a política paulista. Não existe mais o toque mágico dos planos econômicos.
Como será esse recomeço? Não vejo por onde. O grande nome do partido, José Serra, até agora foi incapaz de levantar novas bandeiras e continua demonstrando total falta de estratégia política - a derrota para Alckmin na convenção é um sinal complicado sobre sua capacidade de articulação, se eleito presidente, e sua capacidade de avaliação. Como foi incapaz de prever uma derrota desse nível e recuar enquanto era tempo?
Em Minas Gerais, Aécio Neves avança em costuras políticas muito mais eficientes, conseguiu definir uma bandeira forte - a da gestão -, mas sem avançar em outras propostas, a não ser a de não ser um governo de ruptura.
Quando se olha os quadros do partido, o potencial acumulado, dá uma pena danada do desperdício de idéias, de como fica tudo solto, pela absoluta falta de uma liderança de envergadura capaz de juntar conceitos e propostas.
Fonte: Blog do Luis Nassif.
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