Na semana passada, dia 18, a União Européia aprovou a chamada "Diretiva de Retorno", política que legaliza e radicaliza ainda mais a perseguição aos imigrantes. Infelizmente, não ocorreram reações políticas de vulto contrárias a criação dos "Centros de Internação de Estrangeiros", adaptação contemporânea dos campos de concentração. "O vento frio da xenofobia sopra outra vez suas falsas respostas para os desafios da sociedade", disse o Presidente Lula, uma das poucas vozes a revelar indignação.
Coincidentemente, nesta mesma semana iniciava a visita do Príncipe Naruhito ao Brasil, para comemorar os 100 anos da imigração japonesa, uma história de humanidade e um dos vários exemplos de simbiose e tolerância cultural que a Europa, xenofobicamente, se nega a ver.
Justamente a Europa, berço do Iluminismo, hoje prega a escuridão. A Europa da primeira Carta dos Direitos Humanos e que mostrou ao mundo o valor da solidariedade, da igualdade e da fraternidade hoje restaura os princípios da intolerância. A Europa, que assistiu de perto os horrores do holocausto, hoje adota medidas fora de qualquer padrão democrático e humanitário. A Europa, que comemorou a queda do Muro de Berlim, se fecha numa fortaleza de medos e preconceitos. A Europa, em bloco, se rende a sedução fascista da prepotência e ergue um verdadeiro muro ao seu redor, numa atitude anti-civilizatória, digna das ditaduras.
Justamente a Europa, que cresceu e se desenvolveu dominando o mundo e expropriando a riqueza de outros continentes - de onde fugiram famílias inteiras da fome e da guerra para se abrigar em outros países -, hoje proíbe os povos, os mesmos que outrora explorou e que já acolheram imigrantes europeus, de circularem nos seus países.
É a xenofobia como padrão nas relações entre os homens contrastando com a exigência de liberdade total para os mercados, produtos, investimentos e para os fluxos financeiros. Para a Europa, as empresas é que não devem ter pátria, nem necessitar de passaporte.
Lamentavelmente, governos progressistas também aderiram a esta cruzada anti-humanista. A esquerda européia revelou seu impasse e o beco sem saída em que entrou ao negociar limitar em três meses o período máximo de detenção de imigrantes, ao invés de seis (que venceu) e tentar (sem sucesso) assegurar um tratamento especial para os menores desacompanhados e para as crianças. Na Europa, uma das únicas entidades a se manifestar contrária às medidas da "Diretiva do Retorno" foi a Confederación General del Trabajo (CGT) espanhola, para a qual o dia 18 de junho foi o Dia da Vergonha.
Concluo, dizendo que o Presidente Lula também tem razão ao apontar o medo do desemprego, que é um problema gravíssimo em toda Europa, como uma das causas desta onda preconceituosa. Mas a solução, como ele diz, não é proibir "pobre de ir para a Europa, é ajudar a desenvolver os países pobres."
José Genoino, deputado federal do PT/SP
Nenhum comentário:
Postar um comentário