Carlos Dória
Em sua obra “Fausto”, o dramaturgo alemão Goethe inicia sua obra com um “Prólogo no céu”. Ladeado pelos arcanjos Rafael, Gabriel e Miguel e o rebelde e maligno Mefistófeles. Enquanto os arcanjos cantam e rendem graças às delicias celestiais e as potencialidades da alma humana, Mefistófeles, caracterizado por Goethe como um velho astuto e ardiloso, se mostra descrente, e pede ao Todo-poderoso para encaminhar ele mesmo ao professor Fausto nos assuntos mundanos, sua especialidade, mostrando o quão fácil é desviá-lo do caminho do bem. O Todopoderoso, em toda sua sabedoria aceita a aposta e permite que Mefistófeles desça a terra, cruze o caminho de Fausto e comece a fazer das suas. Assim é o drama da alma humana quando tem que eleger entre o bem e o mal. Hoje, se pudéssemos encontrar Mefistófeles, se ele ainda estivesse entre nós, certamente o encontraríamos personificado em um homem pósmoderno, simpático, light, liberal e infinitamente hipócrita . Com sua relativização de todos os valores, não se mostraria tal qual é, certo seria mimetizar-se adotando valores tais como um banal otimismo, prudente democratismo, estandardização intelectual e um decadente laissez faire característico da mente coletiva no ocidente nesta transição de século. Sem dúvida toparíamos com um ser liberal, amante da eficiência, produtividade e da pseudopopularidade de opiniões “politicamente corretas”; um ser sem valores éticos e morais absolutos, na verdade um ser sem valores de nenhuma espécie , salvo, por certo, aquele da sacrossanticidade do “Deus Mercado”. “Fausto: Então, diga-me, quem és tu?” Mefistófeles: Parte, sou daquela força que sempre quer o mal, mas sempre o Bem provoca” (do livro “El cerebro del mundo: La cara oculta de la Globalizacion”, de Adrián Salbuchi, Ediciones del Copista, Córdoba: 1999).
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