quarta-feira, 25 de junho de 2008

A INSANIDADE LATIFUNDIÁRIA.

Artigo de Ricardo Rojas.

A ocupação de terras visando acelerar o processo de desapropriação para fins de reforma agrária não pode ser encarado como simples devaneio anarquista. Muito pelo contrário. Existe uma lógica econômica óbvia nisso tudo. Afinal, o latifúndio não cumpre sua função social, não produz alimentos, não gera emprego, não acelera o processo desenvolvimentista do país, não favorece nada e ninguém que não pertença ao círculo fechado e imundo dos coronéis. O latifúndio é uma insanidade, todos, de liberais à trotskistas, sabem disso. Economicamente, o latifúndio mantêm o vasto território brasileiro sob o peso de uma estrutura agrária arcaica e improdutiva; socialmente, alimenta o alvoroço dos camponeses desempregados, construindo bases sólidas para o confronto armado no campo.

Mas a imprensa não fala sobre isso. Prefere acovardar-se, esconder-se sob as asas dos coronéis. Prefere desconstruir o debate ideológico, fragilizar o discurso dos movimentos sociais e transformá-lo em estorvo para o Estado Democrático de Direito. A verdade é que ao ver os trabalhadores sem-terra colocarem seus pés calejados no território da burguesia, a imprensa treme. Basta ver o artigo de Denis Rosenfield, professor da UFRGS e oráculo da UDR, publicado hoje no Estadão. Segundo Rosenfield, as manifestações do MST tem um objetivo claro, “Não se trata de reforma agrária, mas da eliminação do capitalismo, mediante a relativização preliminar da propriedade privada. O objetivo consiste em instaurar o socialismo autoritário em nosso país, tendo como guia as experiências cubana e venezuelana.”

Essa é a velha tática conservadora levada a cabo pela pseudo-elite intelectual do País, que tenta jogar a opinião pública contra os movimentos sociais, disseminando a obsoleta doutrina anti-comunista na tentativa de barrar qualquer tipo de avanço dos setores populares. Foi assim que destituíram Jango da presidência e abriram caminho para o golpe militar de 1964. É assim que propagam estereótipos, que, segundo Fiorin, “entranham-se de tal modo na consciência que acabam por ser considerados naturais”. Por isso a necessidade constante de marginalizar os movimentos sociais e suas causas legítimas e não discutir o essencial, como o aumento de impostos sobre as grandes extensões fundiárias, a clareza no debate sobre a função social da propriedade privada, o imposto sobre grandes fortunas, a legitimidade constitucional dos movimentos sociais, etc.

O que nos resta, por outro lado, é questionar até que ponto os movimentos sociais, mais especificamente o movimento camponês, tem reproduzido a lógica estrutural do atual modo de produção, bem como a ideologia da classe dominante. Isto é, não podemos cair na balela idealista de satanizar o inimigo enquanto nos entronizamos em altares adornados de ética e bondade. Porém, também não podemos assimilar a verdade burguesa como verdade absoluta, negar o processo histórico como peça fundamental na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, negar os direitos constitucionais à maioria e assegura-los para uma minoria.

Defender o latifúndio é loucura. Nem o poderoso império romano resistiu à este parasitismo.

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