Mesmo isolada, a Colômbia provocou o fracasso da tentativa da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) de chegar a um acordo geral sobre a cooperação militar de seus 12 sócios com países de fora da região. Ao final de nove horas de discussões entre os ministros de Defesa e os chanceleres dos países da Unasul, a Colômbia ainda resistia ontem a conceder, por escrito, uma "garantia formal" de que seu acordo com os Estados Unidos não resultará em agressões militares nos territórios vizinhos. O encontro foi encerrado sem a conclusão de um documento para a construção de uma relação de confiança e com um grave impasse instalado na região.
A reportagem é de Denise Chrispim Marin e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 16-06-2009.
A intransigência de Bogotá refletiu-se também em outro ponto: a notificação à Unasul de todos os acordos de cooperação nas áreas de defesa e de segurança. A delegação colombiana exigiu a inclusão de uma cláusula que previa a anuência dos países com quem os sul-americanos fizessem acordos. No atual caso, dos EUA. "Essa cláusula era inaceitável", resumiu o chanceler brasileiro, Celso Amorim. "Esses dois pontos espelham a resistência da Colômbia a ter uma posição totalmente aberta e transparente com a região."
O chanceler colombiano, Jaime Bermúdez, insistiu à imprensa que a o acordo de seu país com os EUA não foi tratado com o mesmo peso, na reunião, dos contratos de compras de armas - uma referência explícita aos que a Venezuela fechou com a Rússia e aos que o Brasil discutiu com a França. Confrontado com a insistência do Brasil e da Venezuela para que Bogotá enviasse cópias de seu acordo aos países da região, o ministro colombiano da Defesa, Gabriel Silva, declarou que essa medida será tomada somente depois de o texto ser assinado.
O isolamento colombiano tornou-se evidente na constatação de Amorim de que o placar da reunião foi de "11 a 1". A Colômbia, nesses dois tópicos, não conseguiu nem mesmo o apoio de países menos refratários a seu acordo com os EUA, como Peru e Chile. A saída diplomática ao impasse instalado estará em um eventual sucesso de consultas que serão realizadas pelo chanceler equatoriano, Fander Falconí. Uma das alternativas em estudo é a realização de um encontro de ministros em Nova York, à margem da abertura da Assembleia-geral das Nações Unidas, nos próximos dias 23 e 25.
Embora todas as 12 delegações tenham assinalado seu compromisso com o processo de integração da Unasul, a ausência de um acordo tende a engrossar o conflito latente entre os países andinos e a impulsionar uma indesejável corrida armamentista na região. Diplomatas venezuelanos defendiam, ao final do encontro, uma alteração no estatuto da Unasul pelos presidentes dos 12 países, de forma a permitir que as decisões sejam tomadas por maioria, e não mais por consenso.
Além dos dois pontos centrais do acordo, a Colômbia rejeitou a proposta da Venezuela de monitoramento da Unasul nas sete bases colombianas que receberão soldados e equipamentos americanos até 2019. Bermúdez e Gabriel Silva mostraram-se igualmente inflexíveis com relação à proposta, de autoria de Caracas, de que a Unasul assuma a condução do processo de paz na Colômbia. A sugestão imediatamente foi avaliada como uma armadilha por Bogotá, por abrir um espaço político para o reconhecimento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) como força beligerante, o que daria status político à guerrilha nas negociações de paz.
Fonte:IHU
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