Eleição do Chile não deve se definir hoje
Por Eduardo Guimarães Silva, de Santiago, Chile
Uma grande apatia predomina nas eleições que estão sendo realizadas neste domingo no Chile e que marcam a possibilidade de a direita, depois de vinte anos, voltar ao poder pela via democrática. Não se veem nas ruas de Santiago bandeiras, buzinas e conversas animadas sobre o pleito. É a primeira vez desde a abertura democrática no Chile que um candidato de oposição à Concertación, aliança entre a Democracia Cristão e o Partido Socialista, pode ganhar a eleição. O candidato Sebastian Piñera, da Coligação Alianza, lidera as últimas pesquisas com alguma folga.
Especialistas chilenos atribuem a liderança de Piñera à falta de capacidade da Concertacion em definir seu candidato à presidência. A escolha de Eduardo Frei, da Democracia Cistã, e que já foi presidente de 1994 a 2000, não foi tranqüila e isso abriu dissidência no campo progressista. Marco Enriquez-Ominami, que era do Partido Socialista, se lançou candidato a presidente de forma independente e vem dividindo o eleitorado, tem aproximadamente 20% das intenções de votos. Jorge Arrate, que também foi do PS e hoje está no PC, lidera a coalizão Juntos Venceremos e possui cerca de 7% segundo as pesquisas.
A eleição que será realizada neste domingo é a primeira depois da morte de Pinochet, mas seu fantasma continua rondando o Chile. Os três candidatos mais à esquerda acusam Sebastian Piñera de ter tido fortes laços com Pinochet, lembrando seu apoio ao ditador quando este foi preso em Londres, no ano de 1998. Na época, Piñera foi solidário ao general e a sua família e criticou o Tribunal Internacional pela decisão de prendê-lo.
Tudo indica que a eleição presidencial terá seu desfecho somente em 17 de janeiro, data marcada para o segundo turno. Há a possibilidade de se tentar fazer uma frente para derrotar Piñera no segundo turno. Eduardo Frei enviou um recado nesta última sexta feira com este conteúdo para Enriquez-Ominami e Arrate. “Neste momento, depois de nos enfrentarmos, temos que pensar que são maiores as coisas que nos unem do que as que nos afastam. A partir de domingo temos que ter outra mentalidade.” Arrate também apontou a necessidade de apoio entre os três candidatos. Disse não ter nada em comum com a direita chilena e enxerga no governo, mesmo que crítico assíduo de Bachelet, algo mais próximo de suas convicções. Mesmo que se confirme o pacto entre Frei, Enriquez-Ominami e Arrate, não é certa a migração de votos entre os candidatos.
Fonte: Revista Fórum
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