Márcia Denser
Elites & estratégias de manipulação
"Manter uma sociedade dividida – em grupos minoritários que não conseguem constituir-se em maioria capaz de questionar a hegemonia em vigor – é a melhor forma para a reprodução do sistema"
Usadas pelas elites para controlar a opinião pública, sistematizadas por Noam Chomsky**, as estratégias de manipulação da mídia estão, mais do que nunca, na ordem do dia. Segundo a ensaísta Marta Harnecker (Tornar possível o impossível. Rio, Paz e Terra, 2000), o neoliberalismo também tem um projeto social: promover a máxima fragmentação da sociedade, o que nos autoriza a formular:
A Estratégia da Fragmentação
Este é o grande projeto social do neoliberalismo. Porque manter uma sociedade dividida – em grupos minoritários que não conseguem constituir-se em maioria capaz de questionar a hegemonia em vigor – é a melhor forma para a reprodução do sistema. A base para manter estes grupos isolados entre si, ou sujeitos a relações contraditórias, é procurar desorientá-los quanto aos seus objetivos comuns, impossibilitando que assumam lutas coletivas. A sociedade fragmentada implica uma maioria – até o povo inteiro – que perdeu o rumo da própria causa nacional. Essa política de desorientação social atua em três níveis:
a) a atomização da sociedade em grupos com escasso poder; b) a orientação desses grupos para fins parciais; c) anulação da capacidade negociadora para celebrar pactos, impedindo-se que se crie espaços que possibilitam projetar objetivos compartilhados por todos, dando lugar a acordos e alianças, d) donde que o fim das ideologias se torna “fato histórico” e não mais “decorrência duma estratégia de manipulação”.
Por outro lado, fomenta-se a cultura do naufrágio, do “salve-se quem puder”, que rejeita qualquer solução coletiva.
A Estratégia da Distração ou Besteirol
(É o antiquíssimo Febeapá de Stanislaw Ponte Preta ou Sérgio Porto, o Festival de Besteiras que Assola o País desde 1950, porque as manobras de controle são mais velhas do que andar para trás, apenas se travestem de novidade).
Consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e mudanças fundamentais decididas pelas elites políticas e econômicas mediante a técnica do dilúvio de besteirol, inundando-se a programação diária com todo o tipo de entretenimento e informações irrelevantes tipo big brother, luciana gimenez, gols da rodada, ratinhos, talk-shows, igrejas universais, globaboseiras, etc.
Visa a impedir que o público se interesse por informações importantes, essenciais nas áreas da ciência, economia, psicologia, neurobiologia e cibernética. Pois é preciso mantê-lo longe dos verdadeiros problemas sociais, ocupadíssimo com bobagens, sem nenhum tempo para pensar. São as “armas silenciosas para guerras tranquilas”;
A Estratégia do Você Decide
Cria-se um problema, uma situação que incite uma forte reação do público, de forma que este pareça o mandante de medidas que a elite deseja fazer aceitar. Por exemplo, promover o aumento da violência urbana ou a execução de atentados sangrentos, para que o povo vote por rígidas leis de segurança em prejuízo da liberdade. Vide a política da “justiça infinita” do Bush pós-11 de setembro, interna e externa.
Outra forma é criar uma crise econômica para fazer aceitar, como mal necessário, o retrocesso de direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos, o que, sem dúvida, nos leva ao próximo passo;
A Estratégia da Degradação
Para que se aceite o inaceitável é preciso que algo se degrade progressivamente ao longo do tempo, digamos, uns dez anos.
Foi assim que condições socioeconômicas radicalmente novas, absurdas e desumanas puderam ser impostas nas décadas de 80 e 90: desemprego em massa, precariedade, informalização, flexibilidade, reassentamentos, salários penalizados – mudanças que teriam provocado uma revolução se aplicadas de forma brusca;
A Estratégia da Mediocrização
Pregar a incapacidade da população em compreender as tecnologias e os métodos usados para o seu controle e sua escravidão. A educação dada às classes inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância entre as superiores e as inferiores se torne intransponível. Ou seja: mais um pouco e temos um sistema de castas, como na Índia, todas incomunicáveis entre si – é o que chamamos uma sociedade estática!
Sem mobilidade de classes, sem possibilidade de ascensão ou trânsito entre elas, donde se decreta a morte do cidadão por asfixia social! Mas isso se contorna, promovendo-se a complacência na mediocridade, isto é, que a população considere exemplar todo aquele que é medíocre. Dele, povo, será o reino dos céus.
Porque o dessa terra, adivinhe de quem é, cara pálida?
Fonte: Congresso em Foco.
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