17.04.2014
[ Brasil ]
Operação Carcará: Exército proíbe ação performática que iria lembrar mortos e desaparecidos políticos da ditadura
Mateus Ramos
Adital
Aproveitando a data marcante dos 50 anos do golpe militar no Brasil e os debates propiciados por esse ‘aniversário’, o Coletivo Aparecidos Políticos, grupo de arte ativista formado por artistas cearenses, programou uma ação performática para lembrar as pessoas vítimas da violência da ditadura militar no Brasil. Iriam, se não houvessem sido impedidos.
Em entrevista a Adital, Stella Maris, membro do Coletivo, classificou a atitude como "totalmente desproporcional”. Segundo ela, as informações obtidas foram de que a ordem para o impedimento da ação performática veio do comando da 10ª Região Militar de Fortaleza. "Não cabe a eles (10ª Região Militar), interferir no espaço aéreo civil, isso é responsabilidade da Aeronáutica”.
A ação, apelidada de Operação Carcará em homenagem à Ação Libertadora Nacional (ANL) do Ceará e que ocorreria no dia 15 de abril, consistia em jogar, desde o céu, pequenos pára-quedas coloridos contendo imagens de alguns dos mortos e desaparecidos políticos da ditadura.
Os pára-quedas seriam jogados em via pública, nas imediações do 23° Batalhão de Caçadores (23 BC), local em que funcionou um centro institucional de detenção e tortura, onde dezenas de presos políticos passaram durante o regime militar.
"A coisa foi tão assustadora que o homem responsável pela empresa contratada para realizar a soltura dos pára-quedas, nos alertou que ‘A negócio é pesado, vocês estão mexendo com gente pesada, houve intervenção da 10ª Região Militar’. A própria torre de controle informou que eles bloquearam qualquer sobrevôo do aeroporto até o litoral, no sentido para esquerda. Então eu me pergunto, que poder é esse que fecha o espaço aéreo?”.
Ainda de acordo com informações de Stella, "na hora em que estávamos tentando realizar a ação, um monte de caminhão do exército estava passando nas ruas, helicópteros do CIOPAER surgiram no céu e também foi possível ver que havia uma intensa movimentação dentro do 23 BC.”.
A Adital entrou em contato com a assessoria de imprensa da 10ª Região Militar, mas fomos informados de que nenhuma informação sobre o ocorrido havia sido passada pelo comando. Uma das assessoras tentou contato com os superiores, mas eles estavam em uma solenidade pela semana do exército e não puderam responder até o fechamento dessa edição.
Nota emitida
O Coletivo Aparecidos emitiu, ontem, 16 de abril, uma nota falando sobre o caso. Dela, destacamos a seguinte parte:
"O golpe de 1964 deixou várias heranças que ensejam uma reflexão sobre seu caráter e legado para a sociedade brasileira. E aqui queremos falar especialmente do autoritarismo, do déficit democrático e do poder simbólico e institucional que as Forças Armadas ainda exercem sobre a sociedade, papel ainda mantido pela Constituição Federal de 1988.
A proibição da ação performática demonstrou o quão frágil é nossa democracia tutelada e o quanto de resquícios do regime ainda permanece. A atitude desproporcional das Forças Armadas diante de uma ação artística do Coletivo Aparecidos Políticos mostra o quanto essa instituição se distancia da própria sociedade e como ela ainda teme os ares da liberdade. Provavelmente, os nossos pequenos paraquedas tem um enorme peso da memória e, com certeza, seus leves impactos criaram um grande estrondo nessa instituição que ainda deve à sociedade brasileira um pedido público de perdão pelos crimes de Estado cometidos entre 1964-1985”.
Em entrevista a Adital, Stella Maris, membro do Coletivo, classificou a atitude como "totalmente desproporcional”. Segundo ela, as informações obtidas foram de que a ordem para o impedimento da ação performática veio do comando da 10ª Região Militar de Fortaleza. "Não cabe a eles (10ª Região Militar), interferir no espaço aéreo civil, isso é responsabilidade da Aeronáutica”.
A ação, apelidada de Operação Carcará em homenagem à Ação Libertadora Nacional (ANL) do Ceará e que ocorreria no dia 15 de abril, consistia em jogar, desde o céu, pequenos pára-quedas coloridos contendo imagens de alguns dos mortos e desaparecidos políticos da ditadura.
Os pára-quedas seriam jogados em via pública, nas imediações do 23° Batalhão de Caçadores (23 BC), local em que funcionou um centro institucional de detenção e tortura, onde dezenas de presos políticos passaram durante o regime militar.
"A coisa foi tão assustadora que o homem responsável pela empresa contratada para realizar a soltura dos pára-quedas, nos alertou que ‘A negócio é pesado, vocês estão mexendo com gente pesada, houve intervenção da 10ª Região Militar’. A própria torre de controle informou que eles bloquearam qualquer sobrevôo do aeroporto até o litoral, no sentido para esquerda. Então eu me pergunto, que poder é esse que fecha o espaço aéreo?”.
Ainda de acordo com informações de Stella, "na hora em que estávamos tentando realizar a ação, um monte de caminhão do exército estava passando nas ruas, helicópteros do CIOPAER surgiram no céu e também foi possível ver que havia uma intensa movimentação dentro do 23 BC.”.
A Adital entrou em contato com a assessoria de imprensa da 10ª Região Militar, mas fomos informados de que nenhuma informação sobre o ocorrido havia sido passada pelo comando. Uma das assessoras tentou contato com os superiores, mas eles estavam em uma solenidade pela semana do exército e não puderam responder até o fechamento dessa edição.
Nota emitida
O Coletivo Aparecidos emitiu, ontem, 16 de abril, uma nota falando sobre o caso. Dela, destacamos a seguinte parte:
"O golpe de 1964 deixou várias heranças que ensejam uma reflexão sobre seu caráter e legado para a sociedade brasileira. E aqui queremos falar especialmente do autoritarismo, do déficit democrático e do poder simbólico e institucional que as Forças Armadas ainda exercem sobre a sociedade, papel ainda mantido pela Constituição Federal de 1988.
A proibição da ação performática demonstrou o quão frágil é nossa democracia tutelada e o quanto de resquícios do regime ainda permanece. A atitude desproporcional das Forças Armadas diante de uma ação artística do Coletivo Aparecidos Políticos mostra o quanto essa instituição se distancia da própria sociedade e como ela ainda teme os ares da liberdade. Provavelmente, os nossos pequenos paraquedas tem um enorme peso da memória e, com certeza, seus leves impactos criaram um grande estrondo nessa instituição que ainda deve à sociedade brasileira um pedido público de perdão pelos crimes de Estado cometidos entre 1964-1985”.
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