Lula e a Tropa de Elite da Blogosfera
Fernando Soares Campos
Nos dias 20, 21 e 22 de agosto de 2010, momento de plena campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República, aconteceu o 1º
Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas (leia-se “blogueiros
pró-governo progressista”), em São Paulo, capital, com a participação de
330 blogueiros de 17 unidades da federação.
O encontro
foi viabilizado pela solidariedade dos participantes, que, em alguns
casos, se cotizaram e, em outros, disponibilizaram hospedagens
domésticas para participantes de outras regiões.
Resumo das deliberações do encontro:
a) Apoio ao Plano Nacional de Banda Larga (PNBL);
b)
Defesa da regulamentação do disposto em artigos da Constituição Federal
que determinam a regulamentação das concessões de órgãos de
comunicação, proibindo a concentração abusiva por empresas do ramo e
estimulando a produção independente e regional, além de estabelecer
princípios e objetivos de sistemas público, estatal e privado;
c) Combate a projetos de lei que visem limitar o uso da internet e defesa do princípio de neutralidade na rede;
d)
Reivindicação de políticas públicas que incentivem a blogosfera e
estimulem a diversidade informativa e a democratização da comunicação, e
protesto contra recursos governamentais que sirvam para reforçar a
concentração midiática no país;
e)
Cobrança sobre as garantias de implantação das deliberações da 1ª
Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), em especial a da criação
do imprescindível Conselho Nacional de Comunicação;
f) Instituição do encontro anual dos blogueiros progressistas, como um fórum plural, suprapartidário e amplo; e
g)
Criação de núcleos de apoio jurídico aos blogueiros progressistas, no
âmbito das tentativas de censura que vêm sofrendo, sobretudo por parte
de setores políticos conservadores e de grandes meios de comunicação de
massas.
As
empresas de mídia ca-val-garam e andaram para o evento, nenhuma
notícia, nem mesmo uma notinha na seção de Achados & Perdidos.
O
segundo encontro foi realizado em maio de 2011, no auditório da
Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio, em Brasília, e
contou com a presença de 500 blogueiros de 21 estados. O ex-presidente
Lula e o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, participaram da abertura do evento.
“Diferente
da primeira edição, quando o eixo central dos debates foi focado na
campanha eleitoral presidencial, desta vez, os blogueiros discutiram
diversas formas de continuar a luta e o debate por um novo marco
regulatório de comunicação que acabe com o oligopólio midiático
existente no Brasil e pela efetivação do Plano Nacional de Banda
Larga.” (II Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas reafirma força da blogosfera ― DIÁRIO DO PRÉ-SAL)
Dessa vez o evento mereceu uma notinha de um dos órgãos eretos da imprensa jurássica:
FOLHA DE SÃO PAULO
20 de junho de 2011
Blogueiros “progressistas” pedem novo marco regulatório da mídia
DE BRASÍLIA - Uma
carta aberta redigida por blogueiros que participaram de um encontro em
Brasília pede novo marco regulatório dos meios de comunicação (conjunto
de leis e diretrizes que regulam o funcionamento do setor) e faz
ataques à mídia.
O
evento, patrocinado por Petrobras, Fundação Banco do Brasil, Itaipu
Binacional e governo do Distrito Federal, terminou ontem, em Brasília, e
contou com a presença de cerca de 400 pessoas que apoiaram o governo
Lula e a eleição de Dilma Rousseff.
“É a blogosfera que tem garantido de fato maior pluralidade e diversidade informativas”, diz trecho da carta.
Blogueiros
pedem divulgação imediata do projeto redigido pelo ex-ministro Franklin
Martins (Secretaria de Comunicação Social na gestão Lula), ainda não
tornado público.
A
abertura contou com a participação de Lula e do ministro Paulo Bernardo
(Comunicações). Lula criticou o papel de “falsos formadores de
opinião”, e Bernardo disse que os meios de comunicação precisam saber
“ouvir críticas”.
O 3º Encontro Nacional de Blogueiros Progressistas aconteceu nos dias 25, 26 e 27 de maio de 2012, em Salvador, contou com a participação de cerca de 300 blogueiros e de lideranças como jornalista Franklin Martins (ex-ministro da Comunicação), a coordenadora do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Rosane Bertotti, e o deputado federal Emiliano José (PT) da Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão.
Ligeiro histórico de momentos da blogosfera progressista
Nos
últimos anos rebatemos a mídia que faz o papel de oposição aos governos
petistas e seus aliados com os meios disponíveis, que são,
principalmente, os ciberespaços. Até aqui vem dando certo; até quando,
não sabemos.
Uma frase minha, tempos atrás, repercutiu bem, ela se refere às eleições de Lula e o desempenho da cibermilitância, foi reproduzida em diversos sites e pode ser lida na Wikipédia, numa página intitulada "Partido da Imprensa Golpista".
Vejamos o que disseram sobre tal sentença:
Para o jornalista e escritor Fernando Soares Campos,22 "sem
a internet, dificilmente Lula teria sido eleito; se fosse, não
assumiria; se assumisse, teria sido golpeado com muita facilidade. O PIG
é forte, é Golias, mas a internet [está] assim de Davi!".1 Para
Campos, a existência da Internet interferiria com o monopólio da
informação por parte dos grandes grupos midiáticos, e essa interferência
dificultaria os golpes.1
Há
quem alegue que, na primeira eleição de Lula, ainda não contávamos com a
chamada blogosfera progressista, mas não resta dúvida de que diversos
sítios internáuticos já faziam contraponto à mídia empresarial.
Em
2005, até os primeiros momentos do escândalo midiático do “mensalão”,
os articulistas e formadores de opinião de linha progressista e
governista que faziam a resistência aos ataques da mídia opositora
haviam-se multiplicado; porém, diante de “supostas evidências”
(desculpem o paradoxismo) de que o governo seria nocauteado, muitos
deles assumiram, textualmente, a condição de derrotados. Outros ficaram
na expectativa, sem se manifestar, aguardando o desenrolar dos
acontecimentos. Poucos foram os que tomaram imediata iniciativa em
defesa dos petistas acusados.
Recordemos alguns comportamentos e articulações em torno da primeira grande crise política enfrentada por Lula:
O Estado de São Paulo
Pesos pesados de Lula vão à oposição para frear idéia de impeachment
14/08/2005
Os
ministros mais influentes do governo montaram uma operação para evitar a
abertura de um processo de impeachment do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva e vão retomar as conversas com a oposição nos próximos dias. O
time escalado para a tarefa é composto por Márcio Thomaz Bastos
(Justiça), Antonio Palocci (Fazenda) e Jaques Wagner (Relações
Institucionais). O trio já desempenhou essa missão há um mês, mas sem
êxito. Agora, porém, a situação é mais delicada. "Não podemos permitir
que nosso projeto seja interrompido", afirmou Lula na reunião
ministerial de sexta-feira, na Granja do Torto. Um dos ministros
presentes ao encontro disse ao Estado que o governo sairá da defensiva.
"As energias podem estar voltadas para a CPI, mas o País não pode parar
por causa da crise política", afirmou. "O governo precisa governar."
(...)
As
cúpulas de PSDB, PFL e PPS vão reunir-se amanhã para avaliar a agenda
dos próximos dias nas CPIs dos Correios, do Mensalão e dos Bingos, que
mais uma vez podem trazer depoimentos explosivos, entre os quais o do
tesoureiro informal do PTB, Emerson Palmieri. Discutirão, ainda, o
parecer das assessorias jurídicas dos partidos sobre a fundamentação de
um eventual pedido de processo de impeachment contra Lula.
Com o agravamento da crise
política nos últimos dias, o presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), também se empenha em atrair para o diálogo não só os líderes
de oposição. Além de conversar com pefelistas e tucanos, Renan está
procurando líderes da base aliada, do governo e do PT. Foi o que fez, em
almoço informal na sexta-feira, em que reuniu na residência da
presidência do Senado Virgílio e os líderes na Casa do PFL, José
Agripino Maia (RN), e do PT, Delcídio Amaral (MS), que preside a CPI dos
Correios.
(...)
ALTERNATIVAS
"Estamos
discutindo alternativas de futuro, considerando que Renan é a única
autoridade, neste momento, com livre trânsito em todos os partidos",
explicou Agripino. Ele também está entusiasmado com a adesão do
presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE), ao diálogo, por se
tratar de um dos mais severos críticos da administração petista.
"Temos
de conversar e estar em articulação permanente para não sermos
surpreendidos com um pedido de impeachment de uma legenda menor, como o
PPS", acrescentou Agripino, certo de que essa articulação de líderes
aponta para uma convergência. "Quando a crise ficar incontrolável, o
entendimento já estará em marcha."
É
com esta preocupação que Renan convidou os líderes para uma avaliação
dos cenários possíveis com o desdobramento da crise política. O
entendimento geral é o de que ninguém tem o controle dos fatos. Ao
contrário, argumentam, os fatos é que vão pautar se vai ou não haver
impeachment, diante da reação da opinião pública às denúncias que surgem
a cada dia.
(...)
ISOLADO
Segundo
o deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), que participa do grupo, o
sentimento predominante é o de que a crise é muito grave e o presidente
Lula está isolado. Embora alguns tucanos tenham comparado esta crise com
a do governo Collor, vários deputados chamaram a atenção para as
diferenças de temperamento e perfil entre Lula e Fernando Collor.
Prevaleceu a avaliação de que, se Lula tiver de deixar a Presidência
antes do fim de seu mandato, ele apelará para as ruas e criará um grande
tumulto de conseqüências imprevisíveis, o que pode dividir o País. E
isto é algo que ninguém quer.
(Para ler completo, clique AQUI)
[PressAA recomenda também a (re)leitura de “Renan tem um boi chamado Dossiê”]
Relembremos ainda que o então senador Antonio Carlos Magalhães (UDN (1954-1965), ARENA(1965-1980), PDS (1980-1985),PFL (1985-2007), DEM (2007),
do alto da Tribuna do Senado, apelou para que as Forças Armadas
interferissem e golpeassem o governo legítimo de Luiz Inácio Lula da
Silva. E o senador Jorge Bornhausen declarou o “fim da raça petista”. Os
golpistas chegaram a fazer tintim com as taças cheias de lágrimas de
trânsfugas.
Conclusão: Lula foi reeleito, e Dilma se elegeu como a primeira mulher presidente da República Feder-ativa do Brasil.
Acontece que o tempo passa, o tempo voa, e o golpismo sempre encontra sua boa, pois o permanente “feder-ativo” é condição imprescindível para as campanhas da oposição retrógrada e mídia conspiradora deste país.
Entretanto, em vista de os cibermilitantes pró-governo
terem conseguido, até o presente, desempenhar seus papéis de forma
razoavelmente competente e obter resultados favoráveis, chegamos ao
ponto de desdenhar o poder da mídia empresarial e da oposição, que, se
não conta com correligionários idealistas, despojados de interesses
pessoais, mas detêm o quase-monopólio das comunicações de massa e o
poder da grana que ergue e destrói coisas belas.
A
memória de muita gente é realmente curta; existe outro tanto de pessoas
imediatistas; e os eleitores mais jovens, mesmo os beneficiados pelos
programas sociais dos governos petistas, acreditam que as coisas sempre
foram como são hoje: creem que os governos sempre priorizaram o social
visando às classes mais necessitadas. E é basicamente nesses conjuntos
que a oposição aposta: memória curta, imediatistas e desinformados (ou
alienados: “aqueles não conhecem nem compreendem os fatores políticos,
sociais e culturais que os condicionam e os impulsos íntimos que os
levam a agir da maneira que agem”, paráfrase de definição no Houaiss).
Por
enquanto, ainda contamos com uma tendência da opinião pública favorável
à reeleição da presidenta Dilma Rousseff, porém, quem viaja em
transportes públicos como eu (ônibus, vans, trens, barcas...) e enfrenta
filas em geral (bancos, supermercados, INSS, repartições públicas...),
faz refeições em estabelecimentos populares e frequenta feiras livres,
ou seja, um bicho pobre, já começa a notar um incremento de comentários
pessimistas; em sua maioria, infundados, atrofiados, insustentáveis,
facilmente refutáveis, mas insistentes entre pessoas dos estratos menos
aquinhoados da sociedade. Fazem, invariavelmente, referência a notícias e
comentários de “especialistas” da televisão.
Blogosfera
não é panaceia midiática, e, se não nos cuidarmos, a velha mídia desta
vez nos engole. Na Venezuela, na última eleição para presidente, os
vendilhões da pátria quase retornam ao poder pelas urnas.
Blogueiros a nível de...
Lula
não costuma dizer ou fazer muita bobagem, só de vez em quando, gastando
a cota natural de vacilação a que qualquer ser humano tem direito. Não o
considero gênio, como há quem o repute, mas ninguém pode negar sua
expressiva habilidade como líder político, forjado nas lutas sindicais,
nas campanhas eleitorais e no competente cumprimento dos mandatos que o
povo lhe conferiu.
Creio
que a entrevista coletiva que Lula concedeu recentemente a meia dúzia
de blogueiros convidados foi um desses equívocos do eminente cabo
eleitoral de Dilma. Não pelas respostas ou declarações espontâneas, mas
sim pela inoportunidade do acontecimento.
Lula poderia ter esperado um pouco e só conceder essa entrevista durante o IV Encontro Nacional de Blogueiros e Ativistas Digitais,
a ser realizado nos dias 16, 17 e 18 de maio, no Centro Cultural
Vergueiro, em São Paulo, e que contará com a presença de renomados
jornalistas, políticos, intelectuais, professores e acadêmicos.
Observei
que, entre aquelas centenas de blogueiros que participaram dos
encontros anuais, muitos deveriam ter sido convidados para a última
coletiva de Lula, que poderia ser realizada num amplo auditório. Notei
que muitos desses blogueiros não se interessaram em publicar a notícia
sobre o acontecimento, outros o fizeram, mas não se empolgaram tanto
quanto em determinadas ocasiões em que Lula se pronunciou. A notícia
circulou através de grupos profissionais de mídia e, em alguns casos,
foi postada nas redes sociais sem a chamada, apenas com o título e foto.
Deu para perceber a frieza dos blogueiros e dos leitores comentaristas.
Provavelmente
o fato gerou certa insatisfação em muitos blogueiros independentes,
militantes despojados de interesses pessoais, defensores das conquistas
no âmbito social e dos tímidos, porém importantes, avanços na retomada
de consciência política, em contrapasso com a herança maldita deixada
por décadas de atraso e alienação.
A
nomeação de uma espécie de “Tropa de Elite da Blogosfera” não agrada
aos blogueiros progressistas em geral, pois equipara esta virtual
“instituição” às tropas de choque blogueiras e colunistas dos órgãos
rijos das mídias empresariais. Quem é o nosso Reinaldo Azevedo? Quanto
vale um Noblat progressista? Qual dos nossos ativistas tem o
savoir-faire do Jabor? Teremos frustrados Lobões aderindo ao nosso
movimento? Cantanhêde lá Cantarela cá?
Temo
que a partir de agora o blogueiro municipal discuta com o blogueiro
estadual qual deles é capaz de bater o blogueiro federal.
Fernando Soares Campos
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