segunda-feira, 14 de abril de 2014

MÍDIA - Cobertura da ocupação da Maré.

Sindicato repudia cobertura da ocupação das favelas da Maré


Do Esquerda.net

 
Representantes dos jornalistas denunciam a linha editorial seguida pela maioria dos veículos impressos, virtuais e de radiodifusão na cobertura da ocupação militar do complexo da Maré, no Rio de Janeiro, de apoio à política militarizada e sem o necessário e democrático contraponto à versão oficial.
 
O Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro tornou público o seu repúdio à linha editorial da cobertura jornalística da operação militar nas favelas da Maré, iniciada no domingo 30 de março, que representa, no seu entender, um atentado ao Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros.
 
Em comunicado, o sindicato afirma que a abordagem e o conteúdo adotados, em geral, nas manchetes ou chamadas, primeiras páginas, cabeças, leads, a hierarquização e a edição das notícias e editoriais da maioria dos veículos impressos, virtuais e de radiodifusão representam uma violação aos direitos humanos.
 
Defesa contundente da política governamental militarizada
 
“Compreendemos como violência simbólica contra a população das favelas da Maré a linha editorial que predominou nessas edições. A começar pela escolha deliberada desses veículos pela defesa contundente da política governamental militarizada empreendida por meio da invasão armada das favelas, onde vivem cerca de 130 mil pessoas. O Sindicato recebeu, inclusive, denúncias de que imagens produzidas por câmaras de filmar acopladas nos óculos de policiais militares participantes da operação foram cedidas somente a veículos de radiodifusão desse oligopólio”.
 
Os sindicalistas afirmam que não houve nas coberturas “qualquer relativização em torno da eficácia, testada e reprovada na história recente da própria localidade, da lógica militarizada de enfrentamento do crime instalado nessas comunidades...”
 
Mortes violentas de moradores
 
“A presença armada na Maré”, afirma o comunicado, “tem-se refletido num histórico de mortes violentas de moradores, inclusive de crianças e de adolescentes, que já levou o governo brasileiro à repreensão internacional por parte de tribunais de defesa dos direitos humanos, em instâncias como a Organização dos Estados Americanos (OEA)”.
 
Em vez de servir à defesa dos direitos humanos, a cobertura feita pelo “oligopólio dos média”, expôs a integridade física e psicológica dos moradores diante das pressões e da Polícia Militar. “O nosso Sindicato não compactua com a visão disseminada por essa cobertura de que a paz na Maré foi obtida como efeito imediato da ocupação militar empreendida em conjunto por Polícia Militar, Polícia Federal e Forças Armadas. Pelo contrário, denunciamos essa visão como propaganda enganosa, posta a inviabilidade da conquista da paz por meio desse fracasso histórico representado pela lógica militarizada da segurança pública, como aconteceu no Complexo do Alemão” – referindo-se à operação realizada noutro conjunto de favelas da cidade.
 
Não houve contraponto à versão oficial
 
O sindicato considera ainda uma violação ao Código de Ética o facto de não ter havido na cobertura dos média “o necessário e democrático contraponto à versão oficial do que tem ocorrido durante a operação militar”.
 
A organização que representa os jornalistas cariocas reivindica “a inclusão do nosso Código de Ética na Convenção Trabalhista da nossa categoria”, para que os profissionais tem base legal “para fazer valer o respeito das empresas, em especial, à Cláusula de Consciência, que garante aos jornalistas o direito de dizer não às tarefas que firam a ética ou as suas próprias convicções, sem o risco de perder o emprego”.

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