Do Esquerda.net
Representantes dos jornalistas
denunciam a linha editorial seguida pela maioria dos veículos impressos,
virtuais e de radiodifusão na cobertura da ocupação militar do complexo
da Maré, no Rio de Janeiro, de apoio à política militarizada e sem o
necessário e democrático contraponto à versão oficial.
O Sindicato dos Jornalistas do Rio de
Janeiro tornou público o seu repúdio à linha editorial da cobertura
jornalística da operação militar nas favelas da Maré, iniciada no
domingo 30 de março, que representa, no seu entender, um atentado ao
Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros.
Em comunicado, o sindicato afirma que a
abordagem e o conteúdo adotados, em geral, nas manchetes ou chamadas,
primeiras páginas, cabeças, leads, a hierarquização e a edição das
notícias e editoriais da maioria dos veículos impressos, virtuais e de
radiodifusão representam uma violação aos direitos humanos.
Defesa contundente da política governamental militarizada
“Compreendemos como violência
simbólica contra a população das favelas da Maré a linha editorial que
predominou nessas edições. A começar pela escolha deliberada desses
veículos pela defesa contundente da política governamental militarizada
empreendida por meio da invasão armada das favelas, onde vivem cerca de
130 mil pessoas. O Sindicato recebeu, inclusive, denúncias de que
imagens produzidas por câmaras de filmar acopladas nos óculos de
policiais militares participantes da operação foram cedidas somente a
veículos de radiodifusão desse oligopólio”.
Os sindicalistas afirmam que não houve
nas coberturas “qualquer relativização em torno da eficácia, testada e
reprovada na história recente da própria localidade, da lógica
militarizada de enfrentamento do crime instalado nessas comunidades...”
Mortes violentas de moradores
“A presença armada na Maré”, afirma o
comunicado, “tem-se refletido num histórico de mortes violentas de
moradores, inclusive de crianças e de adolescentes, que já levou o
governo brasileiro à repreensão internacional por parte de tribunais de
defesa dos direitos humanos, em instâncias como a Organização dos
Estados Americanos (OEA)”.
Em vez de servir à defesa dos direitos
humanos, a cobertura feita pelo “oligopólio dos média”, expôs a
integridade física e psicológica dos moradores diante das pressões e da
Polícia Militar. “O nosso Sindicato não compactua com a visão
disseminada por essa cobertura de que a paz na Maré foi obtida como
efeito imediato da ocupação militar empreendida em conjunto por Polícia
Militar, Polícia Federal e Forças Armadas. Pelo contrário, denunciamos
essa visão como propaganda enganosa, posta a inviabilidade da conquista
da paz por meio desse fracasso histórico representado pela lógica
militarizada da segurança pública, como aconteceu no Complexo do Alemão”
– referindo-se à operação realizada noutro conjunto de favelas da
cidade.
Não houve contraponto à versão oficial
O sindicato considera ainda uma
violação ao Código de Ética o facto de não ter havido na cobertura dos
média “o necessário e democrático contraponto à versão oficial do que
tem ocorrido durante a operação militar”.
A organização que representa os
jornalistas cariocas reivindica “a inclusão do nosso Código de Ética na
Convenção Trabalhista da nossa categoria”, para que os profissionais tem
base legal “para fazer valer o respeito das empresas, em especial, à
Cláusula de Consciência, que garante aos jornalistas o direito de dizer
não às tarefas que firam a ética ou as suas próprias convicções, sem o
risco de perder o emprego”.
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