O grupo estratégico era composto por diretores, técnicos e analistas políticos e midiáticos. A presença dos analistas justificava-se porque sabia-se que a guerra era política e a resposta deveria ser política.
Por resposta política, não se entenda escamotear os fatos, fugir à verdade, mas analisar as formas de responder às questões para evitar as pegadinhas do adversário.
A presidente Graça Foster decidiu abrir mão dessa estratégia e repetir Dilma Rousseff logo que assumiu a presidência.
No início de seu governo, houve um festival de denúncias e Dilma acatou todas, as fundamentadas e as improcedentes. Sacrificou ministros, auxiliares, permitiu algumas injustiças flagrantes - como a armação de que foi vítima o então Ministro dos Esportes Orlando Silva. Mas, em um primeiro momento, conseguiu desarmar a campanha contra si própria. A mídia - meio que a contragosto - passou a trata-la temporariamente como a anti-Lula, a governante com vida própria.
O custo foi alto. Devolveu à velha mídia a influência que tinha perdido após a campanha de 2010. Cada vítima abatida - pouco importa se com denúncias fundamentadas ou não - aumentava a gana por sangue.
Com a avalanche de denuncias, houve a paralisia de áreas importantes do governo, especialmente na infraestrutura com o desmonte do DNIT - cujo titular foi alvo de uma armação da organização criminosa Carlinhos Cachoeira-Veja. Nem se julgue que havia santos no DNIT. Mas poderia ter havido uma transição menos rumorosa, sem interrupção dos trabalhos, caso o governo não fosse atrás do ritmo alucinante de denuncismo da mídia.
A guerra política em torno da Pasadena
Esse mesmo estilo repete-se no caso Pasadena.Desde o ano passado correm inquéritos no TCU (Tribunal de Contas da União) e do MPF (Ministério Público Federal). O próprio Ministro José Jorge, do TCU, o mais ferrenho opositor do governo, já tinha declarado que a análise era exclusivamente administrativa, avaliando se a Petrobras cometeu erros de estratégia ou não.
Não se vislumbrava nenhuma irregularidade. Ao contrário do caso Paulo Roberto da Costa, o ex-diretor de exploração, envolvido em um esquema pesado de quadrilha.
A declaração de Dilma Rousseff - de que foram sonegadas informações que teriam levado o Conselho de Administração a rejeitar a compra - jogou a Pasadena no meio da lama de Paulo Roberto e surpreendeu o próprio José Jorge.
Por dias, dias e dias a imprensa martelou o suposto escândalo, sem nenhuma resposta satisfatória da Petrobras. Pouco importa se haverá ou não a CPI: a Petrobras já caiu na boca do povo. Em qualquer esquina, a maioria absoluta das pessoas não tem a menor noção sobre o que se discute, mas repete que a Petrobras virou um antro de negociatas. Ou seja, independentemente das análises técnicas que se façam, foi uma luta política da qual a oposição já se saiu amplamente vitoriosa. E as estripulias de Paulo Roberto da Costa mal começaram a ser divulgadas.
Do lado da presidência da empresa, não foi montada nenhuma estratégia de comunicação, não se criou um grupo de crise, não de ouviram analistas políticos.
A primeira iniciativa de Graça foi uma entrevista a O Globo, tipo “nada tenho a esconder” (http://is.gd/KFguMA). Julgou que bastaria apresentar argumentos técnicos e racionais – e ela o fez com segurança – para todo mal ser exorcizado.
Inicialmente colocou de maneira clara as implicações da ausência das cláusulas put (pela qual um dos sócios poderia vender sua parte para o outro) e Marlim (que assegurava rentabilidade mínima sobre os novos investimentos), desdramatizando sua ausência.
E isso seria normal (a não apresentação das cláusulas no resumo executivo apresentado ao Conselho de Administração)?
Aí, depende do diretor que está elaborando o resumo e de quão relevante é. A cláusula Marlim é relevante, mas não teve a revamp (modernização) da refinaria. E, por isso, não teve efeito. A put option é absolutamente comum, mas distinta para cada ativo. Ela não é igual. É específica. E isso não fez parte do resumo executivo.
Na sequência, falou na existência de um comitê de proprietários da Pasadena, cujo representante da Petrobras era Paulo Roberto da Costa. Ressalvou que a mera presença de Paulo Roberto não significava que o comitê tivesse cometido qualquer ilegalidade. Mas admitiu que não sabia da existência desse comitê.A entrevista bem conduzida vai extraindo dúvidas de Graça:
Como a senhora se sentiu ao descobrir esse comitê?
Eu não posso saber disso dois anos depois de estar na presidência da Petrobras. Eu não posso ser surpreendida com informações que me dão o desconforto necessário para que eu busque uma comissão para apuração.
Como se diz em jornalismo, “deu o lead”, ou seja, a frase que seria o tema dali para diante: havia informações que foram escondidas da presidente da companhia, é o que importa, mesmo que se constate que a participação do comitê tenha sido anódina.De pouco valeu, no restante da entrevista, Graça salientar que a compra da Pasadena, na época, era bom negócio; que ficou mau negócio com a mudança da economia global; que era impossível prever essa virada da economia; que até as declarações de Dilma, o assunto vinha sendo conduzido administrativamente (tanto na Petrobras quanto no TCU).
Até o momento nada indica irregularidades em Pasadena?
Nada. Mas eu não posso não saber de alguma coisa nesse momento em relação a Pasadena. Eu não aceito, e daí vem minha indignação.
A casca de banana do Senado
Ontem, no Senado foi a mesma coisa.Em sua apresentação, Graça expôs todos os dados que justificavam, na época, a compra da Pasadena, assim como as mudanças posteriores de cenário. Tecnicamente, deixou algumas dúvidas no ar, mas que não foram exploradas por senadores que estavam mais interessados no “lead" que no conteúdo. Como a questão dos valores investidos na compra da tal trading da Astra. Segundo ela, foram duas compras, da refinaria e da trading, com seus contratos. Nem nos comunicados ao mercado se informava dessa distinção.
Indagada sobre a claúsula put, mudou um pouco a versão original. O problema não era a cláusula em si (comum em contratos desse tipo) mas a “put price”, ou seja, as regras de cálculo do valor em caso de oferta de venda por um dos sócios. Disse que se a cláusula tivesse sido apresentada, a compra teria sido vetada pelo Conselho.
Duvido! Se o Conselho Administrativo e a Diretoria Executiva acreditavam na manutenção do cenário petrolífero da época - e, como ela mesmo disse, mesmo em Davos todos os grandes executivos do mundo não previram a crise que explodiu pouco depois - no máximo teriam solicitado alguma negociação a mais, jamais impedido o negócio.
Ontem conversei com um repórter que acompanhou todo o depoimento no próprio Senado. A impressão geral era a de que Graça tinha se saído bem, com segurança, as respostas tinham sido satisfatórias, embora – para todos – ela passasse a impressão de querer se colocar como a “justiceira” de tempos ruins.
Mas o que os senadores e a mídia queriam era o “lead”. E ela deu.
É evidente que a compra da Pasadena se tornou um mau negócio, caso contrário a Petrobras não a teria lançado a prejuízo.
A casca de banana estava na pergunta:
- Foi um mau negócio?
E na resposta:
- Foi um mau negócio.
Se tivesse se preparado politicamente para a discussão, Graça teria exposto sinteticamente o que explicou tecnicamente durante toda a sabatina:
- Na época, foi um bom negócio. Tornou-se um mau negócio depois que a crise internacional atrapalhou a rentabilidade de todas as refinarias dos Estados Unidos. Mas está voltando a ser bom negócio este ano, já que lucramos US$ 53 milhões por mês nos dois primeiros meses do ano.
Simples assim. Ao admitir a seco que foi um mau negócio, Graça deu o “lead".Hoje, todos os jornais usaram na manchete essa resposta.
Por trás desse desastre político, questões pessoais mal resolvidas, essa disputa autofágica com José Sérgio Gabrielli.
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