quinta-feira, 5 de junho de 2008

ARTIGO - O brasileiro leitor.

Escrito pelo Professor Gabriel Perissé, publicado no blog Correio da Cidadania.

Desconfio dos números. Prezo apenas o que têm de sugestivo. Não quero esquecer o imponderável. Feita a breve ressalva, vale a pena comentar os números recentemente divulgados sobre o perfil do leitor brasileiro.

Trata-se da pesquisa ‘Retratos da Leitura no Brasil’, cujos detalhes cada qual analisará por conta própria, fazendo as interpretações que ache convenientes. Estão no site do Instituto Pró-Livro.
Para já, lembremos que o Brasil é realidade de vivos contrastes. Não apenas naturais. Outro dia, no Rio Grande do Sul, os termômetros chegavam a 3°C e na Bahia fazia sol, tinha gente ligando o ar-condicionado.

Frio, calor, riqueza, pobreza, educação, indigência, sentimos em pontos diferentes do mesmo país. Diferenças regionais, diferenças de acesso ao ensino de qualidade, diferenças quanto ao poder aquisitivo, diferenças de acesso ao livro fazem-nos calcular médias que ocultam o promissor e o calamitoso.

Que o brasileiro, hoje, leia em média 4,7 livros por ano é para comemorar ou lamentar? Comemorar, sem dúvida, na medida em que duplicamos nossa capacidade de leitura nos últimos dez anos. Estamos lendo mais. O lamentável é que esse "nós" não somos todos nós. Ainda...

Os leitores das grandes cidades lêem mais. As crianças e os jovens (estimulados pela escola ou pela família, apesar dos pesares) estão lendo mais. O brasileirinho entre 11 e 13 anos lê quase 9 livros por ano, puxando a média para cima. Os que possuem mais anos de estudo lêem mais. Leitura, aqui, significa leitura de livros, revistas, jornais e textos na internet.

A pesquisa mostra que o brasileiro está lendo mais, mas não compra muitos livros: 1,1 livro por ano. Compradores mesmo, aqueles que podem montar biblioteca em casa, são 36 milhões de pessoas: 6 exemplares por ano, um livro a cada dois meses.

Outro dado: não estamos habituados a dar livros de presente. Quando compramos, é para o prazer pessoal, por uma busca pessoal de conhecimento ou por necessidade (profissional ou escolar). Presentear uma criança com livros é ato subversivo dos mais urgentes!

Mais pesquisa: 13 milhões de pessoas não têm um livro sequer em casa e 7 milhões têm apenas um único livro (a Bíblia, talvez).

As mulheres lêem mais do que os homens. O que, com todo o respeito a Monteiro Lobato, nos obriga a reescrever sua famosa frase: "Um país se faz com mulheres, homens e livros".

Gabriel Perissé é doutor em Educação pela USP e escritor – Web Site: http://www.perisse.com.br/

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