sábado, 7 de junho de 2008

CUBA - As relações entre Brasil e Cuba.

Mauro Santayana.

A recente visita do chanceler Celso Amorim a Cuba deve ser examinada no contexto internacional de nossos dias. As relações entre os dois países eram inexpressivas, até a chegada das tropas de Fidel a Havana, em janeiro de 1959. Conhecíamos a ilha pela sua música, seus charutos e a folclórica beleza de suas mulheres. Os mais cultos sabiam de sua penosa história: não tendo conseguido libertar-se da Espanha antes, os cubanos passaram do jugo político de Madri para o de Washington, sem conhecer realmente a independência política. A soberania dos cubanos sobre seu território, por mais dignidade tenha tido seu povo, sempre foi impedida pela força das armas. Poucos povos da América Latina lutaram com tanto denodo por sua liberdade. Com o Grito de Yara, em 1868, os cubanos iniciaram rebelião que durou 10 anos, e foi massacrada pelos espanhóis, com a perda de 200 mil combatentes. Em 1895, voltaram a confrontar-se com os colonialistas, na segunda guerra de independência. Os americanos intervieram no conflito, em seqüência ao prévio projeto de expansionista, no momento em que a Espanha, sob a indecisa regência de Maria Cristina, já se preparava para negociar com os revolucionários. A derrota da Espanha custou-lhe as ilhas de Porto Rico, no Caribe, Guam e as Filipinas no Pacífico. Durante os 50 anos seguintes, mediante a imposição dos tratados, os Estados Unidos transformaram Cuba em particular e libertino balneário, com seus prostíbulos e cassinos, controlados pelas corporações de gangsters da nova metrópole. Quando os cubanos retomavam o sonho de independência de Marti e de Céspedes, os americanos impuseram-lhes, em 1960, o bloqueio econômico ainda em vigor, e tentaram derrubar o regime com a invasão armada da Baía dos Porcos, as sabotagens, o incêndio de canaviais, os atentados da CIA. Isso os obrigou a buscar a aliança extracontinental com a URSS. O Brasil – com Jânio Quadros e Affonso Arinos, e com Jango e Santiago Dantas – procurou intervir em favor do entendimento, mas os Estados Unidos estavam decididos a restaurar o pleno domínio sobre Havana. Ao contrário do que indicava o bom senso, a política americana, logo depois da crise dos mísseis, foi a de impor regimes ditatoriais em toda a América Latina, começando, já em 1964, pelo Brasil, e o isolamento diplomático da ilha. No afã de se protegerem, os cubanos procuraram incentivar a revolução na América Latina, não havia condições concretas para a insurreição continental, conforme advertiram os comunistas históricos. A luta devia ser política. A teoria do foco insurrecional foi desastrada, apesar do generoso martírio de Guevara. A ginástica dialética de Régis Debray, em seu opúsculo Revolution dans la Revolution?, não se alicerçava no conhecimento da realidade continental. Os cubanos recuperam agora a esperança de construir o Estado soberano e seguro, que não tiveram desde 1492. Embora Washington mantenha a retórica da arrogância, a situação é outra. Os Estados Unidos, na lucidez que resta a alguns de seus pensadores políticos, começam a entender que não é mais o dono do mundo. O Brasil é o parceiro ideal para a recuperação da economia cubana. O governo Lula não se encontra amarrado aos problemas internos e aos compromissos revolucionários históricos de Chávez e Morales, e tem agido com pragmatismo, na hora em que o mundo procura reacomodar-se.

Nenhum comentário: