De 1965 a 1975, por força do meu trabalho, visitei mais de 100 propriedades agrícolas nos Estados do Paraná e Minas Gerais. Naquela ocasião, percebi o quanto os trabalhadores rurais eram, de um modo geral, considerados cidadãos de segunda classe. Vi trabalho semi-escravo, vi bóias-frias sendo explorados e trabalhando sem nenhum direito, vi a justiça do lado dos poderosos, etc. Pelo visto, nada mudou, daí não ficar surpreendido pelo relatório da Anistia.
Relatório da Anistia destaca abusos no setor canavieiro.
Márcia Freitas, da BBC.
Anistia investiga impacto da agroindústria nos direitos humanos.
Preocupações com abusos de direitos humanos no setor de cana-de açúcar - base para a produção do etanol no Brasil - aparecem pela primeira vez em um relatório anual da Anistia Internacional.
"Trabalho forçado e condições de trabalho exploradoras foram registrados em muitos Estados, inclusive no setor de cana-de açúcar, que cresce rapidamente", diz o relatório anual de 2008, com dados referentes a 2007, divulgado nesta quarta-feira.
O documento cita casos de resgates feitos pelo Ministério do Trabalho no ano passado, como a retirada de 288 trabalhadores de seis plantações de cana-de açúcar em São Paulo, de 409 resgatados de uma destilaria de etanol no Mato Grosso do Sul e a libertação de mais de mil em condições "análogas à escravidão" em uma plantação da fabricante de etanol Pagrisa, no Pará.
Tim Cahill, porta-voz da organização para o Brasil, diz reconhecer o "papel importante" que o setor tem no crescimento econômico do Brasil, mas que é fundamental que isso não aconteça às custas de violações de direitos humanos.
"É importante que o governo brasileiro comece a regulamentar esse setor, a realmente policiar. Nós sabemos que existe algum policiamento por parte do Ministério Público e do Ministério do Trabalho, mas é preciso ser mais forte", afirmou Cahill.
A organização prepara um estudo sobre o impacto do crescimento da agroindústria como um todo sobre a questão dos direitos humanos no Brasil. Além da cana-de açúcar, os setores madeireiro e de produção de laranja também são alvo da investigação.
Papel internacional.
No relatório anual, a Anistia também afirma que o papel internacional do Brasil como defensor de direitos humanos pode perder credibilidade se o país não conseguir implementar medidas que produzam benefícios dentro de casa.
"Países como o Brasil e o México têm tido posições fortes em defender direitos humanos internacionalmente e em apoiar o sistema da ONU. Mas, a não ser que a distância entre as políticas internacionais desses governos e o seu desempenho doméstico seja diminuída, a credibilidade desses países como defensores de direitos humanos será questionada", diz o documento.
Leia mais sobre o relatório da Anistia na BBC Brasil
Tim Cahill lembra que o Brasil lutou, por exemplo, pela criação do Conselho de Direitos Humanos da ONU e foi um dos primeiros países a aceitar se submeter a um sistema de análise das condições internas pelo órgão.
Por outro lado, segundo ele, o país teria continuado a não responder a questões importantes, como "por que que a polícia continua a matar e por que que continua a torturar".
"Nós reconhecemos que o Brasil tem um papel importante a desempenhar a nível internacional em relação às reformas e aos avanços internacionais na luta pelos direitos humanos, mas nós continuamos a pressionar para que o país faça coisas concretas para seus próprios cidadãos", disse Cahill.
Um comentário:
Você viu a entrevista do João Pedro Stédile no Canal Livre (Band) de hoje? Se não viu talvez tenha vídeo no site da Band ou alguém já copiou no You Tube. Fantástico! Se tivéssemos uns 10 caras feito ele neste país, mais umas 10 Dilmas, falando firme, direto, claro, correto (na minha opinião) agindo na linha de frente da política concreta, e depois uns dois Lulas na retaguarda para fazer a negociação (porque tem a hora de atacar, porpor, planejar, e depois a hora de conversar, negociar, que o Lula faz muito bem) até acho que o povo desse país poderia ter um futuro menos longínquo. Desculpe o desabafo, assim corrido, mas gostei demais da entrevista do JPS. Se não quiser publicar esse comentário, fique à vontade e delete. Vera
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