Executivo e movimentos sociais e sindicais decidiram manter a mobilização permanente do povo.
O governo Boliviano decretou, domingo, sanções contra os titulares e funcionários de órgãos de poder local que participem ou promovam bloqueios de estradas e assaltos a instalações petrolíferas e de gás natural. A medida insere-se no combate à sabotagem anunciada pela oposição.
Em causa está a redução da quota dos governos regionais nos impostos sobre os hidrocarbonetos, decidida pelo executivo de Evo Morales para cobrir o pagamento de uma prestação social a todos os idosos com mais de 60 anos.
Das sanções consta, segundo explicou o ministro das finanças, Luis Alberto Arce, a subtracção à parte que ainda lhes cabe dos custos inerentes à paralisação ilegal das referidas estruturas, a qual, ordenou anteriormente o chefe de Estado, deve ser impedida firmemente e sem excepção pelas Forças Armadas do país.
A direita da chamada Meia Lua fez saber também que o «pé de guerra» com que procura atacar o governo de Morales inclui a interrupção do fornecimento de gás natural ao Brasil e à Argentina, e o abastecimento de carne e cereais em parte do território nacional, mas tais operações parecem não estar a ter sucesso.
Na cabeça da contestação continua o Conselho Nacional Democrático (CONALDE) e os governadores de Santa Cruz, Chuquisaca, Beni, Pando, Cochabamba e Tarija, cujas pretensões de revogar o mandato do presidente da Bolívia foram rechaçadas pelo povo em referendo nacional, ocorrido no passado dia 10 de Agosto, por uma maioria de 68 por cento dos votos.
Não obstante, a reacção mantém os intentos secessionistas, confirmados esta segunda-feira nas declarações incendiárias de um alto responsável do poder local em Santa Cruz, para quem, a Bolívia devia converter-se num Estado federal, abandonado, assim, o projecto progressista e de reforço da unidade e coesão social protagonizado por Evo Morales.
Nesta batalha, os governadores da Meia Lua contam com o precioso apoio do embaixador dos EUA, Philip Goldberg, experiente no desmembramento de nações, como atesta a sua carreira na Bósnia Herzegovina durante os conflitos entre sérvios-bósnios, croatas e muçulmanos, e,mais recentemente, no Kosovo e na perseguição ao ex-presidente da Jugoslávia, Slobodan Milosevic.
Vitória esmagadora
A vitória de Morales no sufrágio representou a reafirmação do apoio que o seu programa político goza entre as massas e faz corar de vergonha a maioria dos democratas burgueses, não apenas pela votação granjeada, mas pelo facto desta superar em quase 15 por cento a do sufrágio presidencial passados cerca de dois anos de mandato.
Recorde-se que Morales seria destituído caso obtivesse uma votação inferior à das presidenciais, norma que para a administração norte-americana e para muitos governos europeus, da social-democracia rendida ao capitalismo ou da direita neoliberal, significaria a perda de mandato ante a rejeição nas urnas das políticas seguidas ao arrepio das promessas eleitorais.
Acresce que, de acordo com os dados da Comissão Nacional de Eleições da Bolívia, divulgados pela Agência de Notícias Boliviana, Morales triunfou em 95 das 112 províncias existentes no território nacional.
Mesmo nos departamentos onde a oligarquia detém o poder, o presidente foi ratificado por números esmagadores, exceptuando Santa Cruz, onde perde 8 das 15 províncias. Em Chuquisaca venceu nove dos dez círculos, em Tarija, cinco dos seis existentes, em Pando três num total de cinco, e em Beni outros tantos num total de seis.
Mobilização popular
Entretanto, face à campanha da burguesia conservadora acoitada nas regiões, nos respectivos comités cívicos, e em grupos de mercenários que espalham a violência, como a União Juvenil de Santa Cruz, Evo Morales reuniu, sábado, com a Coordenadora Nacional para a Mudança (Conalcam, na sigla em castelhano) com o objectivo de articular uma estratégia capaz de fazer avançar o processo de soberania e justiça social.
Executivo e movimentos sociais e sindicais de camponeses, povos originários, mulheres, jovens e trabalhadores, decidiram manter a mobilização permanente do povo na defesa da entrada em vigor da nova Constituição, aprovada por maioria no passado mês de Dezembro, e que reconhece, entre outras matérias, a plurinacionalidade e implementa mecanismos de participação directa das populações na vida política; dota o Estado e as comunidades de mecanismos de acção efectiva na economia nacional e na gestãio e redistribuição dos recursos; amplia os direitos sociais e comtempla a Bolívia como um país livre de bases militares estrangeiras.
Fonte:Jornal Avante.
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