Diante de uma barraquinha de refrigerantes, numa rodovia do interior do Quênia, a imagem de Osama bin Laden desperta a atenção. O chefe da Al-Qaeda é definido na mídia ocidental como o inimigo público número 1. É curioso que um pintor de placas queniano use a imagem do mentor de ataques terroristas para fazer propaganda de seu trabalho.
A imagem é surpreendente, especialmente em um país onde um atentado atribuído à Al-Qaeda matou mais de 200 em 1998, quando carros-bomba explodiram simultaneamente nas embaixadas dos Estados Unidos na capital, Nairóbi, e na vizinha Tanzânia. O mundo então mal tinha ouvido falar de Bin Laden.
Resolvo perguntar ao motorista:
– Steve, quem é mais popular aqui, Bush ou Bin Laden?
– Bin Laden.
A resposta reflete a relação de amor e ódio dos habitantes com o Ocidente. Nos maneirismos, no sotaque e nos rituais, o Parlamento do Quênia parece cópia da Casa dos Lordes, um exemplo concreto da influência que o Reino Unido ainda exerce sobre a ex-colônia.
Mas o ressentimento com a brutalidade da dominação colonial está vivo e se expressa na aceitação daqueles que para os quenianos simbolizam a contracultura. Che Guevara e Bob Marley são as figuras estampadas nas camisetas à venda nas feiras. O rosto de Bin Laden aparece pintado na lataria de alguns matatus, vans particulares que fazem transporte público. Barack Obama, filho de um queniano, corre por fora nesse concurso informal de popularidade.
Em 28 de agosto, em Denver, Colorado, Barack Hussein Obama II, 47 anos, senador em primeiro mandato, será indicado oficialmente candidato do Partido Democrata à Casa Branca. A própria escolha de Obama é expressão do desgosto de uma parcela considerável do eleitorado americano com a política partidária. É também, para esses eleitores, a reafirmação do destino manifesto dos Estados Unidos como terra da oportunidade.
Fonte: Revista Carta Capital.
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