domingo, 31 de agosto de 2008

MÍDIA - a Folha, imprestável.

Desculpem. Não quero parecer pedante. Mas é que depois de uma temporada fora do Brasil — e, principalmente, depois de uma temporada me informando sobre o Brasil pela internet — não posso deixar de lamentar a qualidade dos jornais brasileiros. Aliás, daquele que se diz o melhor jornal brasileiro, a Folha de S. Paulo.

Por Luiz Carlos Azenha, no Vi o Mundo.

Ai que tristeza. Morri com 4 reais.

Nem sei por onde começar. Sei, sim. Vou começar pelo artigo que a Folha de S.Paulo reproduziu sobre Barack Obama, assinado por Robert Kagan.

Demonstra a falta de noção do jornal.

Como notou a Folha, nas letrinhas pequenas, Kagan é assessor informal do candidato republicano John McCain.

Só isso já deveria ser motivo para o jornal não publicar o artigo de Kagan sobre Obama.

Kagan é neocon. David Brooks é neocon. William Kristol é neocon. Os neocons são uma ''praga'' . Contaminaram o ''jornalismo'' americano. Usei aspas pelo fato de que não se pode falar em jornalismo neocon. As duas palavras não se misturam. Ou não deveriam se misturar. Os neocon primeiro são ativistas políticos. A verdade factual não interessa a eles. São propagandistas de sua posição ideológica. O jornalismo é apenas um instrumento, um meio.

Acreditar que o Kagan vai escrever algo que não tenha um objetivo político é o mesmo que acreditar que o Ali Kamel ou o Reinaldo Azevedo estão preocupados com a verdade factual. Eles se acreditam envolvidos numa gigantesca batalha ideológica contra o ''mal'' de ocasião: hoje é o Lula, amanhã é Estado brasileiro, depois de amanhã o Bolsa Família, no dia seguinte os professores do ensino público e mais adiante os ''esquerdistas''.

O importante é ter um ''inimigo'' a ser derrotado através do convencimento. O jornalismo é uma ferramenta de convencimento. Se for preciso suprimir uma informação vale, já que para os neocon o jornalismo, repito, é apenas um meio para atingir um objetivo. É só ler o Weekly Standard para entender: o objetivo da revista é propagandear o discurso neocon.

Voltando ao Kagan, no artigo ele diz que Barack Obama também terá uma política externa intervencionista. Afirma isso baseado em um discurso de Obama. Só saberemos a política externa do democrata quando ele assumir, se for eleito. É possível especular. Obama é um camaleão que se adapta às circunstâncias. Aliás, como qualquer político.

Meu ponto é que você não pode julgar o Obama pelo que escreve um assessor do John McCain, especialmente um neocon. O objetivo do artigo do Kagan é desacreditar Obama entre a esquerda do Partido Democrata, cuja militância é importante numa disputa eleitoral como a que vai acontecer em novembro.

Os neocon acreditavam que a derrubada de Saddam Hussein criaria no Iraque uma democracia secular que serviria de farol para o Oriente Médio.

Produziram um governo majoritariamente xiita, fortemente influenciado pelo Irã, que ganhou importância regional e hoje projeta seu poder no Líbano — através do Hezbollah — e nos territórios palestinos — através do Hamas.

Na cabeça dos neocon o próximo objetivo é ''patrocinar'' um ataque dos Estados Unidos — ou Israel — ao próprio Irã. Na cabeça deles depois de ter livrado Israel de um inimigo regional — o Iraque — agora falta o Irã.

Eles acreditam que tudo se resolve pela via militar, não levam em conta a ''lei das conseqüências não pretendidas'' — que deu em um governo xiita no Iraque — e desprezam a história, a diversidade e as nuances dos países árabes e muçulmanos.

Para os neocon o negócio é sentar paulada na cabeça da ''turma dos turbantes'', acreditando que isso beneficia Israel.

Como notou um comentarista em um jornal de Israel, os israelenses deveriam se preocupar quando entre os grandes defensores do país nos Estados Unidos figuram líderes de um grupo cristão que crê no fim do mundo.

O que os neocon estão fazendo agora, nos Estados Unidos, é se posicionando para influenciar quem quer que seja eleito, depois de terem sido chutados do governo Bush.

Preferem John McCain, que tem a guerra no sangue.

Mas, num governo Obama, travarão sua guerra ideológica com o objetivo que descrevi acima.

Um bom jornal ouviria gente pró e contra o Obama, com o objetivo de tentar antever a tendência da política externa de um eventual governo democrata. Mas isso envolve tempo e dinheiro. Fica mais fácil mandar traduzir um artigo de propaganda eleitoral de um assessor de McCain e publicá-lo como ''jornalismo''.
Fonte:Vermelho.

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