MCCAIN AGIU COMO AGENTE PROVOCADOR?
por ALLAN J. LICHTMAN, no Counterpunch
A crise na ex-república soviética da Geórgia relembra uma tragédia da Guerra Fria, a Revolução Húngara de 1956. Naquele ano, depois que revolucionários ameaçaram o controle soviético sobre aquele estado satélite, tanques e tropas russas entraram na Hungria. Ele esmagaram a revolta ao custo de cerca de 2.500 vidas. E, como na tragédia desse ano na Geórgia, os Estados Unidos não fizeram nada para deter os soviéticos. O governo do presidente Dwight Eisenhower ofereceu apenas palavras.
Embora o governo Eisenhower tenha negado isso naquela época, agora sabemos, muitas décadas depois, a partir de documentos recém-divulgados nos Estados Unidos, que o governo americano agiu como agente provocador da revolta húngara. A Rádio Europa Livre, um fantoche da CIA, fez transmissões para a Hungria nas quais deu a entender aos revolucionários que eles poderiam contar com ajuda dos Estados Unidos -- ajuda que o governo não estava preparado para fornecer. A conclusão de Charles Gati em seu respeitado livro sobre a Revolução Húngara vale a pena reproduzir por ter relação com os eventos de hoje na Geórgia:
Nova informação mostra como os Estados Unidos foram incorretos quando mantiveram a esperança dos húngaros viva -- mesmo quando não faziam preparativos para ajudá-los militar ou diplomaticamente. As iniciais NATO servem para resumir a tática, No Action, Only Talk (Só conversa, nenhuma ação). A política de "fazer recuar e liberar" do governo Eisenhower era apenas hipocrisia mitigada por auto-enganação; o objetivo mais evidente era satisfazer a extrema-direita do Partido Republicano, liderada pelo senador Joseph McCarthy, e derrotar os democratas no Congresso.
Na corrente crise o presidente Mikheil Saakashvili, da Geórgia, caiu numa armadilha soviética [sic] ao mover tropas no território disputado da Ossétia do Sul e atacar a capital, Tskhinvali, com foguetes e artilharia, com uma perda de vidas ainda indeterminada. Como em 1956, os soviéticos responderam com força bruta, causando mais perda de vida. Mais uma vez os Estados Unidos ofereceram apenas palavras, nenhuma ajuda concreta aos georgianos.
É difícil acreditar que, como os húngaros em 1956, os georgianos em 2008 poderiam ter tomado ação tão dura sem acreditar que poderiam esperar apoio dos Estados Unidos. A secretária de Estado Condoleezza Rice nega que o governo Bush tenha agido como agente provocador na Geórgia. Ao contrário, uma fonte do Departamento de Estado diz explicitamente que o presidente Saakashvili foi alertado em julho para evitar provocações à Rússia.
Se essa informação é correta então, por inferência, John McCain se torna o maior suspeito de ter sido um agente provocador. Primeiro, McCain tinha um canal único e privilegiado com o presidente Saakashvili. O principal assessor de política externa dele, Randy Scheunemann, era sócio de uma firma de duas pessoas que serviu como lobista do governo da Geórgia [nos Estados Unidos]. Scheunemann continuou recebendo dinheiro da firma até que a campanha de McCain impôs novas restrições aos lobistas na metade de maio. Scheunemann arranjou uma conversa telefônica entre McCain e Saakashvili no dia 17 de abril deste ano, quando ainda era pago pela Geórgia.
Segundo, enquanto a maioria dos senadores hesitaria em conduzir sua própria política externa, McCain segue seu próprio caminho e não cede a ninguém, nem mesmo ao presidente dos Estados Unidos. Terceiro, McCain se beneficiou politicamente da crise na Geórgia. Assim como a retórica de libertação do governo Eisenhower, a resposta rápida e beligerante de McCain às ações soviéticas na Geórgia melhoraram a posição dele com a direita do Partido Republicano. McCain também usou a situação na Geórgia para melhorar suas credenciais como um guerreiro experimentado pronto para batalhar contra a Rússia que ressurge. Ele claramente apontou para sua experiência em política externa em comparação com a de seu oponente democrata, Barack Obama.
Desde que a crise irrompeu McCain se focou feito um laser na Geórgia, com grande efeito. De acordo com uma pesquisa nacional da Universidade de Quinniapac divulgada no dia 19 ele ganhou 4 pontos sobre Obama desde a pesquisa da metade de julho e lidera o rival com margem de 2 por 1 quando se pergunta quem é melhor qualificado para lidar com a Rússia.
Embora McCain não fale oficialmente pelo governo Bush, Saakashvili levaria a sério qualquer comunicação do candidato à presidente do Partido Republicano. Como aconteceu com a CIA durante a crise húngara de 1956, McCain pode muito bem ter dado ao presidente da Geórgia garantias de apoio americano a ações que o governo dos Estados Unidos não deu.
No mínimo ele tem muitas explicações a dar. McCain precisa explicar com clareza o papel preciso que um lobista pago teve na definição de sua política em relação à Geórgia e à Rússia. Ele precisa explicar o motivo pelo qual mantém um lobista como assessor de política externa se Scheunemann vai acabar se beneficiando de qualquer ganho de sua empresa. McCain precisa revelar precisamente o que disse a Saakashvili no dia 17 de abril e em outros contatos privados que diz ter tido com o presidente da Geórgia. Na véspera de uma eleição presidencial, é o mínimo que o povo americano merece. Não temos que esperar décadas para saber o que realmente aconteceu na Geórgia.
Allan J. Lichtman é professor de história da American University in Washington, DC. Ele é autor do livro White Protestant Nation.
Fonte: Blog Vi o mundo.
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