Amália Safatle
A área é uma das menos verdes da já cinzenta São Paulo. Mas é de onde tem saído uma das mais inovadoras e criativas técnicas de Agronomia. Em plena Zona Leste, o agrônomo Marcos Victorino desenvolve e ensina maneiras de se cultivar alimentos na selva urbana.
Lajes de prédios? Corredores? Quintal cimentado? Pátios de escolas? De hospitais? De fábricas? Nada disso é impeditivo para formar hortas - e hortas orgânicas. Bastam 4 horas de sol direto por dia e alguns cuidados.
No próximo dia 30 de agosto, na Faculdade Cantareira, no bairro do Belém, Victorino dará um pequeno curso para passar um pouco do conhecimento que tem desenvolvido e é pouquíssimo explorado pela ciência agronômica, tradicionalmente voltada a cultivos de média e larga escala no campo.
O projeto que Victorino cunhou como Plantando na Cidade é mais que uma idéia curiosa e midiaticamente chamativa. Remete a questões como a necessidade de se reinventar formas de produção e consumo da sociedade urbana e de reorganizar o próprio espaço. A começar pelos exemplos mais simples.
Falar em hortas urbanas é falar de combate a ilhas de calor, maior qualidade de vida em centros urbanos, menor emissão de carbono, alimentação saudável, educação ambiental, e reconexão das pessoas com o que têm de mais elementar: a terra, e o alimento que sai dela para a boca.
Ao se promover a produção local do que se consome, menos caminhões cuspindo enxofre e monóxido de carbono e entupindo ruas e estradas precisam transitar da cidade ao cinturão verde e vice-versa. Isso sem falar que os cinturões cada vez mais se apartam das grandes cidades em expansão - distância que também encarece o produto e aumenta o índice de desperdício no trajeto.
Nas escolas, as hortas são aulas práticas de educação ambiental, de entendimento dos ciclos da natureza e dos alimentos. "Além disso, ensinam as crianças a gostar de hortaliças . Quando a criança planta sua horta, ela quer comer verdura".
E a poluição atmosférica, garante ele, não faz das hortaliças menos saudáveis. "A verdura que vem para a cidade com agrotóxico, essa sim é prejudicial", diz.
Na laje da Faculdade Cantareira, onde Victorino desenvolve o piloto das hortas urbanas, o sol bate impiedoso no inverno paulistano em plena era de aquecimento global. "Antes ninguém conseguia ficar aqui em cima muito tempo. Agora, boa parte do calor é absorvida pelos canteiros".
Feitos sobre telhas de fibrocimento, suspensos por blocos de concreto, já atraem cerca de 300 insetos, em um equilíbrio entre pragas e predadores, registrou o agrônomo.
A adubação é orgânica e o fato de não haver contato com o solo contribui para o controle de pragas sem pesticidas. Victorino tem usado terra de baixa qualidade para mostrar que o cultivo é viável mesmo para quem não tem acesso a um solo mais rico.
E para quem também não tem tempo de irrigar a horta durante o dia, Victorino inventou um sistema automático e barato, composto por uma mangueira, um relê de máquina de lavar roupa de R$ 8 e um timer de R$ 25.
A mais nova idéia que anda rondando a cabeça de Victorino é criar canteiros sobre rodinhas, para que as pessoas que moram em apartamentos, por exemplo, possam levá-las para tomar sol. Para a terceira idade, é uma ótima forma de ocupação, acredita. Faz com que os idosos também se exponham ao sol - o que é importante especialmente nessa fase da vida - troquem conhecimentos sobre as plantas e técnicas de cultivo, e se alimentem de forma mais nutritiva.
O curso será realizado das 13 às 17 horas, com custo de R$ 50, pagos no dia. Mais informações: (11) 2790-5900, das 16 às 20 horas.
Amália Safatle é jornalista e editora associada da Página 22, revista mensal sobre sustentabilidade, que tem como proposta interligar os fatos econômicos às questões sociais e ambientais.
Fonte: Blog Terra Magazine.
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