sábado, 23 de agosto de 2008

ELEIÇÕES AMERICANAS - Obama e McCain partem para a baixaria.

Ia acontecer, mais cedo ou mais tarde. Em geral acontece só depois das convenções. Mas, com as pesquisas demonstrando equilíbrio entre os dois candidatos à Casa Branca a campanha desandou para a baixaria.

Você, leitor deste site, deve se lembrar quando eu escrevi que Barack Obama tinha dado um fora ao promover um comício em Berlim. Funcionou para o público externo, que não vota nos Estados Unidos. Para alguém que mora em Boise, Idaho, a Europa é um lugar distante e a cena de um candidato americano fazendo campanha fora do país, francamente, é esdrúxula. O mesmo que a Marta Suplicy num comício em Manaus para demonstrar que se preocupa com o ar respirado pelos paulistanos.

Não deu outra: os republicanos usaram as imagens e o som do comício -- em que a multidão gritou "Obama, Obama" -- em comerciais de campanha dizendo que o democrata é a maior celebridade do mundo, mais preocupado em aparecer do que com os problemas reais do eleitor americano. Deu certo. Uma série de pesquisas demonstrou que a vantagem de Obama foi reduzida.

Há alguns dias a mídia brasileira divulgou um levantamento da Zogby dando vantagem a John McCain "pela primeira vez". A Zogby não é confiável. A Zogby é aquela empresa que, na véspera da eleição presidencial americana de 2004 deu que John Kerry derrotaria George Bush.

Parece claro, no entanto, que contra todas as previsões McCain se mantém competitivo -- apesar da crise econômica -- por três motivos:

1) Racismo. Tudo o que um candidato precisa fazer é levantar dúvidas sobre a honestidade de um negro para que o eleitor branco vote contra. Jamais ele vai votar contra dizendo: "Não voto em negro". Mas o racismo existe e está lá, na cabeça de muitos eleitores. Os republicanos operam uma máquina de calúnia e difamação poderosa, que combina blogs na internet com programas de rádio populares. Ela se ocupa de disseminar boatos, ilações, meias-verdades e suposições. Muitas vezes faz isso através do humor. As "informações" disseminadas através dessa rede informal de campanha são incorporadas ao dia-a-dia do americano. Ele ouve no rádio e comenta com o amigo no trabalho ou com a família em casa. Até que as "informações" sejam desmentidas a campanha eleitoral já acabou.

2) Hillary Clinton. Há sinais de desunião entre os democratas. Os eleitores de Hillary Clinton dizem, majoritariamente, que não votarão em Obama. Preferem votar em McCain. O casal Clinton representa a ala centrista do Partido Democrata. Obama é de outra turma. Mas não se trata de uma disputa ideológica. Obama rompeu o controle que os Clinton exerciam sobre a máquina partidária desde o início dos anos 90. É uma revolução interna. Eleitoras de Hillary dizem que Obama foi "sexista". O ex-presidente Clinton reclama que foi injustamente acusado, durante a campanha, de "racismo". Na verdade parece haver aí um cálculo político: se Obama perder para McCain a ex-primeira-dama volta a ser a favorita para concorrer à Casa Branca em 2012. Até agora as declarações públicas de apoio a Obama, por parte dos Clinton, foram "tépidas", para dizer o mínimo. Perguntaram a Bill Clinton se Obama estava preparado para ser presidente: "Ninguém está preparado", disse o ex-presidente.

3) Falta de empatia. Barack Obama não demonstrou, até agora, empatia com o eleitor de classe média. Ele e John McCain são milionários e é difícil vê-los, feito o Lula, se agarrando no povão sem que pareça forçado. Obama disse recentemente, pela primeira vez, que quando ele era criança a mãe teve que usar cupons do governo para comprar comida. Mais ou menos como um candidato no Brasil dizer que usou o bolsa família. Obama também usou muito bem a extraordinária declaração de John McCain que não soube dizer aos repórteres quantas casas tem. Isso mesmo: McCain não soube dizer quantos imóveis tem em seu nome (quatro, de acordo com assessores; McCain e a mulher usam oito casas, de acordo com a campanha de Obama). Mas os republicanos são rápidos no gatilho. Trouxeram de volta o nebuloso negócio envolvendo a mansão que Obama comprou em Chicago com a aparente ajuda de Tony Rezko, um lobista condenado este ano por fraude e pagamento de propina. E acusaram Obama de não ajudar o próprio meio-irmão, que uma agência de notícia italiana descobriu vivendo em uma favela de Nairobi, Quênia. Essa campanha promete.
Fonte: Blog Vi o Mundo.

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