terça-feira, 7 de julho de 2009

A LIÇÃO HONDURENHA.

O devir dos acontecimentos em Honduras terá um efeito indubitável nas democracias latino-americanas. O golpe de Estado ocorre em um tempo em que a região vive uma etapa política caracterizada pela instalação de governos de sinal novo com respeito à década de 90. Em muitos países existe uma forte tensão que custa se resolver. Para dar um exemplo, a disputa entre Oriente e Ocidente na Bolívia. A Meia Lua secessionista elegeu vias pouco democráticas para levar adiante referendos autônomos sem o aval do governo central. No entanto, o presidente Evo Morales recebeu os respectivos respaldos nas urnas.

A reportagem é de Mercedes López San Miguel, publicada no jornal Página/12, 06-07-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O golpe em Honduras pode ser lido como um aviso para outra nação empobrecida, El Salvador, onde recentemente o candidato Mauricio Funes, da esquerdista Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional, ganhou. A mensagem para os governos que se inscrevem em ideias e programas políticos que buscam recompor alguns dos mais agudos efeitos do neoliberalismo seria a seguinte: "há coisas que não se tocam".

O presidente Manuel Zelaya quis tocar em uma constituição refratária à mudança, e isso desatou o vendaval. Aos olhos da oligarquia hondurenha, Zelaya se tornou um líder perigoso. Esperavam que ele acentuasse as relações amistosas que o seu antecessor (Ricardo Maduro) havia fomentado tão bem com os Estados Unidos, mas ele se incorporou à Alba e acentuou seus vínculos com a Venezuela.

O caso de Hugo Chávez foi paradigmático. Depois do golpe efêmero que o afastou do poder em abril de 2002, o presidente bolivariano saiu fortalecido e conseguiu dar impulso às reformas das instituições políticas. Essa foi a onda na qual a Bolívia e o Equador subiram para colocar em marcha suas próprias reformas constitucionais.

Continua sendo muito chamativo que esses governos, que são questionados pelas aspirações "reeleitoreiras" de seus líderes, tenham em sua frente pessoas dispostas a levar adiante golpes de Estado, a censurar os meios, a impor o estado de sítio e a reprimir. Que Chávez não tenha prorrogado a licença ao canal RCTV é um fato mínimo diante de acionar os opositores. Em Honduras, os principais meios, a Igreja, as Forças Armadas, a Corte Suprema e o Congresso continuam, mais do que nunca, obstinados a jogar a institucionalidade pela borda.

O desenlace do capítulo hondurenho marcará um precedente para os governos que aspiram aprofundar seus projetos políticos.
Fonte:IHU

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