Quanto pode custar uma aliança
Hoje há eleições no Chile. Michele Bachelet termina seu mandato com aprovação de cerca de 80%, mesmo em meio à crise econômica que atinge mais fortemente o Chile que o Brasil. É uma mulher da qual não se pode questionar o valor pessoal ou a história.
Vem de uma enorme dor pessoal. Entrou no Partido Socialista de Salvador Allende ainda muto jovem. Seu pai, o brigadeiro Alberto Bachelet, foi torturado e morto pela ditadura de Pinochet. A própria Michele também enfrentou a tortura e o exílio.
Com o ocaso de Pinochet, porém, formou-se no Chile uma “frente ampla”, a Concertacion, que somou os socialistas à Democracia Cristã, sua histórica adversária.
Assim, elegeu-se um democrata-cristão , Eduardo Frei, presidente. Depois, um socialista, Ricardo Lagos. Outra socialista, a Bachelet. Agora, a regra era um democrata-cristão. O mesmo Frei.
Não deu certo. Depois do fim da era Pinochet, não há espaço para uma aliança de “frente ampla”. A base do Partido Socialista “rachou” e muitos foram apoiar Marco Enríquez-Ominami, um jovem cineasta, que de “azarão” passou a ser um candidato fortíssimo.
As pesquisas dão 44% a Sebastian Piñera, um empresário multimilionário, dono de canais de televisão e do Coco-Colo, time mais popular do Chile. Frei, em nome da unidade, vem em segundo, com 30%. Enríquez-Ominami tem de 18 a 20%, conforme as pesquisas. E Jorge Arrate, do PC chileno, 5%.
Como estas peças se moverão daqui a algumas horas, quando as urnas se abrirem, é uma incógnita. A esquerda estará desunida e boa parte dela apoiando, sem garra e sem gosto, um candidato liberal.
O fato é que vivemos a ameaça de termos um outro enclave de direita numa América Latina que pende claramente à esquerda.
Que o povo possa fazer, na sua sabedoria, o movimento que seus líderes não souberam fazer.
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