sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

MEIO AMBIENTE - EUA decepcionam em Copenhague.

embro de 2009, 14h18 Atualizada às 14h56

Feldmann: EUA foram "elefante" que emperrou Copenhague

Carolina Oms
Especial para Terra Magazine


"Os Estados Unidos, eles foram o 'elefante na loja', um dos grandes problemas", avalia o ambientalista Fabio Feldmann, de Copenhague
(Foto: Reuters)

A Conferência do Clima da ONU está próxima do fim e o ambientalista Fabio Feldmann deu a Terra Magazine sua avaliação do evento. Para o ex-secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, o principal empecilho para uma evolução concreta das negociações foram os Estados Unidos:

- A falta de vontade política tem que ser atribuída fundamentalmente aos Estados Unidos, eles foram o "elefante na loja", um dos grandes problemas.

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Apesar de otimista em relação à futuras negociações sobre mudanças climáticas, o ambientalista fundador da ONG SOS Mata Atlântica, diz ver os resultados da COP-15 como um "copo meio vazio":

- O lado positivo é que houve um compromisso político com a presença dos chefes de Estado, especialmente de Obama. O lado negativo é o que esse modelo de negociação é lento e não chegou ao que seria importante.

Ele acredita que a discussão ficou num "nível de abstração muito alto". "É ridículo ficar dois anos negociando e deixar tudo para as últimas 24 horas. É no mínimo irresponsável", critica.

Leia a íntegra da entrevista:

Terra Magazine - Qual avaliação que o senhor faz da conferência?
Fabio Feldmann -
Em primeiro lugar, o resultado surgiu no último minuto da última hora, que, aparentemente, se chegou a um acordo, muito embora até o momento ninguém tenha muitos detalhes de como será esse acordo. Nos discursos dos chefes de Estado, eu acho importante que tenham reconhecido a urgência, em termos de redução de emissão, e que tenham apresentado recursos. Mas ficou faltando os detalhes de como isso tudo será operado e, de certa maneira, isso foi deixado para o ano que vem.
Essa reunião mostrou que esse modelo de negociação tem que ser revisto. Foram dois anos de negociação mal sucedidos que se resolveram no último minuto, o compromisso político saiu, mas não saiu como isso será implementado... Isso eu acho difícil. Então eu olho o resultado da conferência como um copo meio vazio. O lado positivo é que houve um compromisso político com a presença dos chefes de Estado, especialmente de Obama. O lado negativo é que esse modelo de negociação é lento e não chegou ao que seria importante: a gente ter uma noção mais exata da nova arquitetura que deverá ser montada para operacionalizar o resultado.

Corre-se o risco desse ser um compromisso vazio?
É, por que você não sabe exatamente, mesmo eu que acompanho essas questões, se falou em recursos. Como serão gastos esses recursos? Qual o modelo de governança desse fundo que será criado? Como vão monitorá-lo? Ficou num nível de abstração muito alto. Em tese, tudo isso era pra ser definido nos últimos dois anos, desde que houve a COP de Bali, para que os chefes de Estado pudessem bater o martelo em cima disso.

Qual deveria ser o modelo de negociação então?
Houve uma inversão de ordem. Essa arquitetura deveria ter sido negociada nos últimos dois anos e os chefes de Estado só promoveriam um ato solene.

Isso não é uma questão de falta de vontade política?
Houve uma inversão, o certo seria que os estados chegassem e batessem o martelo em cima de uma arquitetura já desenhada. Não foi assim. Isso aqui, que poderia ser, do ponto de vista pós 2012, o início de um processo, será adiado para o próximo ano. Para esse modelo de negociação faltava o elemento essencial. Houve falta de vontade política até aqui. Com a presença dos chefes houve uma decisão política importante, mas eu tenho a sensação de que se perdeu muito tempo.

E quais são as perspectivas para o ano que vem?
Todo mundo que participou disso aqui, desde os Governos, as ONGs, constataram os equívocos desse processo de negociação. Eu acho que a consciência desse fracasso obriga que neste ano todo o processo seja mais eficaz e mais rápido. Até porque, os chefes de Estado vindo aqui, deram importância ao tema. Eles deram uma importância pro tema.
Essa é minha 13 COP, essa foi a mais importante. Nenhuma delas teve presença de chefes de estado, esse é um ponto muito positivo. Ela alcançou um prestígio político fundamental.

É possível apontar "culpados"?
Em primeiro, a falta de vontade política tem que ser atribuída fundamentalmente aos Estados Unidos, eles foram o elefante na loja, um dos grandes problemas. Em segundo, a falta de engajamento pessoal dos chefes de estado até a reunião, a partir de agora quem vai pagar essa conta é o Obama, o Lula... E em terceiro, o governo dinamarquês mostrou absoluta falta de liderança nesse processo. O país anfitrião tem um papel de liderança, eles são responsáveis de organização e na falta de liderança, conduziram muito mal essa negociação. É ridículo ficar dois anos negociando e deixar tudo para as últimas 24 horas. É no mínimo irresponsável.

Terra Magazine

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