Pedro Augusto Pinho: A incompetente governança neoliberal
Tempo de leitura: 4 minA incompetente governança neoliberal
Por Pedro Augusto Pinho*
Caminhando para completar quase meio século de poder no mundo Ocidental, as finanças neoliberais demonstram sua incapacidade de gestão: o Atlântico Norte se apresenta derrotado militarmente, economicamente, socialmente e sem liderança capaz de promover seu reerguimento.
Recordemos a campanha neoliberal contra os Estados Nacionais e as energias fósseis na segunda metade do século XX.
Como estava o mundo ocidental de então?
Vínhamos dos “30 anos gloriosos” do pós-guerra (1945-1975), com duas nações disputando a hegemonia – Estados Unidos da América (EUA) e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) – e para isso promovendo grande desenvolvimento econômico e social, fundado na energia barata do petróleo.
Tratam logo as finanças de promover o aumento do preço do barril de petróleo com as “crises do petróleo” (1973 e 1979). Não ficaram, no entanto, apenas na área econômica.
Apropriam-se de movimentos surgidos no século XIX, na Inglaterra, que visavam à saúde pública, para difundir os malefícios do uso do petróleo para sociedade, chegando a atribuir ao seu uso acidentes que estão muito longe das mãos humanas, como vulcões, tornados, ciclones, movimentação das placas tectônicas e outras alterações da natureza, mais antigas do que a presença do homem na Terra. O uso do petróleo tinha então um século (1870-1970).
Começaram a surgir Organizações não Governamentais (ONGs) não só para a defesa da ecologia como para demonstrar a falta de ação estatal. Mas não era divulgado que as ONGs recebiam recursos do Estado, sem necessidade de prestação de contas, para combater o próprio Estado provedor.
Estas ações que contradizem os discursos passam a ser corriqueiras nas campanhas neoliberais. Veja o caso da liberdade.
O neoliberalismo combate a opressão estatal, que tem por função proteger a vida dos cidadãos (saúde e segurança). Mas a liberdade neoliberal se restringe unicamente ao capital, e impõe o trabalho sem direitos, verdadeiro retorno à escravidão.
Misturando males da industrialização com o comunismo e pregação neopentecostal, que surge nas décadas 1970-1980, o neoliberalismo obtém as desregulações financeiras e a aprovação do decálogo “Consenso de Washington” (1989), triunfando nos anos 1990.
TRIUNFO NEOLIBERAL?
Pode-se considerar a década de 1990 como do triunfo neoliberal, quando a URSS de dissolve, a Rússia troca os governantes comunistas pelo liberal Boris Yeltsin e por todo período o neoliberalismo cria crises para se apropriar de recursos dos tesouros nacionais e privatizar empresas estatais.
As crises destinadas a transferir recursos públicos para gestores de ativos privados são conhecidas como: Bolha Imobiliária Japonesa (1990), Sistema Monetário Europeu (1992), “El Horror de Diciembre”, no México (1994), Gigantes Asiáticos (1997), Finanças da Rússia (1998), Reeleição de FHC, no Brasil (1999), Ponto com ou Bolha da Internet, nos EUA (2000) e Crise na Argentina (2001-2002).
Além destas “crises”, os gestores de ativos passam a emitir bilhões de títulos financeiros sem lastro, captando recursos com Fundos Financeiros gerenciados por bancos e financeiras. Esta bolha ainda está por explodir, mas já inibe muitos negócios.
A crise 2010-2012 embora também avançasse em recursos públicos, cuidou de estabelecer uma hierarquia entre os capitais tradicionais – fundiários e prestamistas – e os recentes capitais marginais, das drogas, tráfico de pessoas e toda espécie de ilícito penal. Estes últimos levavam a vantagem da liquidez, muito pequena quando se trata de imóveis e títulos a prazo.
As guerras, especialmente a travada na Ucrânia, parecem ser do histórico dos capitais estadunidenses, do complexo industrial-militar dos EUA, devorador dos orçamentos. Mas o resultado vem demonstrando ter sido um tiro no pé.
No artigo “O Poder Global e a Nova Geopolítica das Nações”, publicado na revista Observatório Internacional do Século XXI, nº 4, o professor emérito José Luís Fiori discorre sobre os impactos negativos para a economia e a sociedade europeia das decisões neoliberais belicosas.
A Alemanha, antiga líder europeia, vem acompanhando a França no declínio econômico e social.
Por outro lado, o Equador e o Haiti se tornam paraíso das drogas e lavagem de dinheiro, mostrando a força do capital marginal.
Energia e comunicação surgem no século XXI como principais sustentáculos do poder. Como se comporta o Atlântico Norte em relação a estas bases?
Nenhum grande polo petrolífero, que produz a energia mais barata e segura, está sob o domínio neoliberal. Sem energia, a desindustrialização acelera.
No artigo citado, José Luís Fiori afirma que a Alemanha retrocedeu 0,4% no último trimestre de 2023 e deve contrair ainda mais 0,1%, em 2024. O preço da energia já subiu 41%, levando a greves “mais frequentes e extensas” e ao protesto de agricultores europeus.
Várias privatizações já foram revertidas pelos numerosos acidentes que a falta de manutenção e do treinamento dos operadores provocavam no Reino Unido, na Alemanha, na França e outros países da Europa Ocidental.
O sistema euro-estadunidense, em 2024, mostra-se em crise, deixando espaço para os capitais marginais se apossarem de Estados Nacionais.
Há muito mais do que uma necessidade de gestão estatal, há imperiosa urgência em esclarecer o povo que o “sionismo cristão” não existe, e que as Igrejas Neopentecostais são coletoras de recursos financeiros, para o que fazem toda sorte de espetáculo circense.
A mudança cultural é necessária e urgente, antes que o mundo ocidental seja convertido na terra do crime e das drogas.
No caso brasileiro da Petrobrás, é necessário reestruturá-la como empresa integrada de petróleo, “do poço ao posto”, com todas as etapas técnicas gerenciadas por profissionais especializados, na exploração, no desenvolvimento da produção, na produção, na perfuração, no acompanhamento dos reservatórios, nas transferências de óleo cru, gás natural e derivados, no refino, na industrialização do petróleo como insumo: plásticos, fertilizantes, tintas, solventes etc, na comercialização e nos diversos transportes utilizados pelas petroleiras.
E voltar a ter o sentimento de brasilidade existente antes da Nova República, com treinamento para que o empregado da Petrobrás entenda que ele trabalha para o Brasil e os brasileiros, não para o maior rendimento do capital dos seus acionistas.
O neoliberalismo é um pensamento excludente, só cuida da riqueza financeira, desconhece as necessidades dos povos e das nações. Seu fracasso é simples questão de tempo.
*Pedro Augusto Pinho é administrador aposentado
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