por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile
22 de março de 2024
Operação “Rebranding”
Olá, enquanto Lula aposta no marketing político, a oposição e os aliados de ocasião comem o governo por dentro.
.Segue o baile. Como se esperava, a queda na popularidade do governo foi interpretada internamente como um problema de foco e comunicação. Pelo menos foi esse o recado de Lula na reunião ministerial de segunda-feira (18), quando cobrou ênfase na inauguração de obras e maior capilaridade na divulgação dos programas sociais. Além da convocação do marqueteiro Sidônio Palmeira e do diretor do Vox Populli Marcos Coimbra para ajudar o governo a traçar estratégias especialmente para as redes sociais. Ficou claro também o nível de gravidade nas áreas da saúde e segurança pública, que exigem operações de “apagar o incêndio”. No caso da Saúde, Nísia Trindade fez demissões depois da crise nos hospitais federais do Rio de Janeiro. Mas a fragilidade da ministra tende a agravar a luta interna dentro do próprio governo, assim como atiçar as ganas do centrão, já que todo mundo está de olho nos fartos recursos controlados pelo Ministério da Saúde. Já na Segurança Pública, o problema é o desgaste moral de um cerco de mais de um mês aos foragidos da penitenciária de Mossoró. Cobrado por Lula, a resposta do recém-chegado ministro Ricardo Lewandowski foi o anúncio de um pacote de medidas para a melhoria do sistema prisional, assim como uma mudança de pauta pública, com a homologação da delação premiada de Ronie Lessa, réu no caso Marielle Franco e Anderson Gomes. Por fim, o ministro da Educação, Camilo Santana, ganhou um respiro com a aprovação da reforma do Novo Ensino Médio na Câmara. Ou seja, tirando os ajustes pontuais, tudo deve continuar como está. O problema é que peças maiores também se moveram. A pesquisa Genial/Quaest mostrou que o apoio da Faria Lima ao governo caiu depois do episódio dos dividendos da Petrobras. Ao que parece, o Mercado tem um problema pessoal com Lula, tido como excessivamente intervencionista, enquanto Haddad é adulado. Aliás, o cenário serviu para reavivar o espírito neoliberal de Campos Neto, que mesmo mantendo a rota de descida dos juros, pretende aprofundar a autonomia do Banco Central.
.Boi de Troia. Ao contrário da dissimulação do mercado financeiro, o agronegócio não tem constrangimento algum em declarar que seu problema com o governo é ideológico. Por maiores que sejam os acenos e flertes do Planalto com o setor, a fidelidade da turma do Boi, Bala e Boa Vida com os subsídios do Estado não arredou nenhum centímetro de sua fidelidade à extrema-direita. Pior, dono da maior bancada do Congresso, o agronegócio não mede esforços para infiltrar seus interesses em projetos do Planalto. Agora, os campeões de desmatamento e de emissão de carbono querem ser premiados com projetos ambientais. No caso do PL do Mercado de Carbono, primeiro, o agronegócio foi excluído dos setores que teriam a emissão regulada. Depois, ganhou a possibilidade de vender créditos sobre as áreas que são obrigados a preservar. No projeto do Combustível do Futuro, os defensores da soja contrabandearam a definição de metas para o percentual de biodiesel misturado ao óleo diesel. E mesmo tentando vestir a fantasia de ecológicos, o agronegócio não abre mão da intenção de derrubar os vetos presidenciais e ressuscitar o PL do veneno. Com o cerco se fechando sobre Bolsonaro e a contagem regressiva de quatro meses para as investigações terminarem, o agronegócio já trabalha para ter outro presidente para chamar de seu, Ronaldo Caiado, governador de Goiás e fundador da precursora das milícias, a UDR. Que aliás, ensaiou sua aventura presidencial para 2026 com uma visita a Israel - cutucando o atual dono da boiada da extrema-direita. Se a sua candidatura hoje parece improvável, em breve, Caiado pode estar à frente do super-partido que o centrão sonha em formar. Todos eles da “base governista”. E o exemplo de comer por dentro do governo está aí para ser seguido. A bancada da Bíblia também vai receber um afago, enquanto aquela amizade tóxica do Planalto com Arthur Lira pode obrigar o governo a engolir uma reforma administrativa contra sua vontade.
.Ponto Final: nossas recomendações.
.Aos 60 anos do golpe, Brasil merece governo que não tenha medo de militares. No UOL, Leonardo Sakamoto relembra porque precisamos acertar definitivamente as contas com o legado da ditadura militar.
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.Estrangeiros controlam no Brasil área equivalente a um Alagoas inteiro. Veja os dados alarmantes sobre a desnacionalização do território nacional. Na Pública.
.Novo episódio da série “A USP faz o Brasil melhor” aborda a importância intelectual de Antonio Candido. Assista a entrevista com a professora Walnice Nogueira Galvão.
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Ponto é escrito por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.
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