por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile
29 de março de 2024
Vestidos para matar
Olá, ao completar 60 anos do golpe militar, o caso Marielle nos lembra que os assassinos dos pobres costumam usar farda.
.República das milícias. Os fatos revelados pela investigação da PF sobre o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes mostram apenas o fio do novelo da atuação das milícias na política nacional. Para além da dissimulação macabra do delegado da Polícia Civil, Rivaldo Barbosa - um dos mandantes e, ao mesmo tempo, investigador do assassinato - o que impressiona é o nível de estruturação do crime organizado carioca. Ele vai da captação de recursos e votos nas comunidades mais pobres à ocupação de posições estratégicas dentro do Estado, como bem exemplificam as figuras dos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão. Mas, ao contrário de bicheiros e traficantes, as milícias são formadas por policiais ou ex-policiais como Ronnie Lessa e outros delegados além de Barbosa. E, mais grave, elas se tornaram um fenômeno orgânico da política, envolvendo grilagem de terras, compra de votos, financiamento de campanhas, propinas para encerrar investigações policiais, extorsões, ameaças e assassinatos. Mas o caso deixou ainda muitas perguntas sem respostas: qual seria o envolvimento do gen. Braga Netto, então interventor federal no Rio de Janeiro, já que foi ele quem nomeou o delegado Rivaldo Barbosa um dia antes do assassinato de Marielle? Por que o delegado era tão bem quisto pela cúpula militar a ponto de receber a mais alta honraria do Exército? A prática de infiltrar milicianos para vigiar e punir partidos opositores, como foi feito com o PSol carioca, é algo comum? E mais, se como mostram as investigações, o apoio das milícias já tinha sido decisivo para a eleição de Eduardo Cunha à Câmara Federal em 2014, quais são os vínculos entre o poder das milícias e a ascensão da direita após o golpe de 2016? Se o que sabemos até agora vai além da imaginação, muito ainda pode estar por vir. Até lá, fica a preocupação de que a questão seja estrutural e não possa ser resolvida com medidas paliativas como a proibição de candidaturas ligadas às milícias por parte do Ministério Público do Rio de Janeiro. E, depois de tudo, resta ainda o gosto amargo de saber que Chiquinho Brazão tem amigos fieis dentro da CCJ da Câmara.
.Para sair das cordas. O desvendamento do crime é um alívio para o governo, para o atual ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e um reconhecimento do trabalho de seu antecessor, o agora ministro do STF Flávio Dino. Como mostrar trabalho parece ser mais eficiente do que corridinhas no tik tok e memes na internet, o Planalto aproveitou o embalo para pisar no acelerador das boas notícias. Na turnê de Nicolás Sarko… digo, Emmanuel Macron pelo Brasil, o governo parecia conformado com o fracasso do acordo União Europeia - Mercosul e bem satisfeito com as sinalizações de parceria nuclear e de investimentos na Amazônia. Mas, muito melhor são as notícias trazidas por Fernando Haddad: redução do desemprego e aumento do número de postos formais, previsão de queda da inflação e salários com reajustes acima da inflação. O Ministro da Fazenda também marcou pontos ao propor a troca da dívida dos estados por mais vagas no ensino médio técnico. Na fila dos próximos anúncios, o governo pretende reduzir a conta de luz e ampliar o crédito para pequenas e médias empresas. Enquanto isso, a CNN virou meme por considerar muito perigoso o crescimento de emprego e renda para a economia. Evidentemente, toda encrenca da família Bolsonaro é uma boa notícia nos ouvidos do Planalto. E a criatividade do ex-capitão para dar alegria ao governo e trabalho para Alexandre de Moraes parece infinita, como prova a ideia de ir dormir “lá na casa do meu colega na Embaixada”. Muito mais perigoso do que ele e em liberdade é o General Braga Netto, que além de ter sido implicado nas suspeitas do caso Marielle, agora é apontado como o articulador da presença militar no 8 de janeiro e do financiamento dos acampamentos golpistas.
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Ponto é escrito por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.
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