segunda-feira, 9 de junho de 2008

COMPORTAMENTO - Não, eu não uso celular.

Na tentativa de reduzir o ritmo corrido do dia-a-dia, há quem dispensa o aparelho
Para se eximir de dar explicação do porquê de não usar celular, a empresária Verônica de Oliveira Pereira às vezes até lança uma mentirinha. "Eu tinha, mas perdi", afirma. O desdobre é para não ouvir a pergunta: mas como, tu não tens celular?
Com a popularização da tecnologia desde a entrada dos pré-pagos no mercado, há menos de uma década, a rápida evolução fez com que quem não aderiu à telefonia móvel fosse tachado no mínimo de esquisito. A pecha é simplesmente porque remaram contra a maré.
Verônica, dona de uma escola de inglês, e o marido, o médico veterinário Vitor Hugo Martinez Pereira, vivem ambos muito bem sem a dependência do aparelho em Carlos Barbosa, na serra gaúcha. Justificam a renúncia para preservar o sossego. Na casa deles, o único telefone é o sem fio.
- O celular está tão inserido no mundo que as pessoas até se espantam com quem não tem. Mas até pouco tempo atrás ninguém usava - relembra a empresária.
Especialista em melhoramento genético de bovinos de leite da Cooperativa Santa Clara, Pereira usa os telefones fixos de casa e do trabalho e, ainda, o e-mail para tratar de negócios. Não sente a menor falta do aparelho móvel. Quando viaja para exposições em outras cidades fornece a quem possa interessar o contato do colega que o acompanha, que durante o período serve como uma espécie de secretário.
- Estou com o fulano e o número dele é tal - conta o veterinário, que prefere conversas por e-mail.
Habilitações de telefones móveis cresceram 21%
A postura adotada por Pereira, contudo, é cada vez mais rara. Pelos números de abril da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), sete em cada 10 brasileiros já têm celular. E o crescimento, no último ano, chegou a 21%. Ao todo, são 127 milhões de habilitações no Brasil. A presença do aparelho só perde em abrangência, proporcionalmente, para o fogão, a TV, a geladeira e o rádio nos domicílios do país, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Quem não usa costuma prestar mais atenção no modo como a maioria utiliza. Além da irritação com a profusão de toques em locais públicos, o bancário Ernesto Coronel, de Porto Alegre, percebe que a popularização trouxe consigo o desrespeito.
- Ninguém se constrange em atender o telefone no restaurante. Já é comum ter de ouvir a conversa do vizinho da mesa ao lado aos berros no telefone. Com a desculpa de que o chamado é urgente, atende-se o celular durante a aula e até no cinema, no teatro - impressiona-se Coronel.
Em meados da década de 90, o bancário pensou em comprar um aparelho. Ele e a mulher se inscreveram na antiga Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT). Na hora de receber o celular, perceberam que um só equipamento era suficiente. O telefone ficou com mulher dele.
- Se querem falar comigo, ligam para o trabalho, para casa ou para o celular da minha mulher - diz o bancário.
Em comum, o casal Verônica e Pereira e o bancário Coronel afirmam que levam uma vida mais tranqüila. Não precisam se preocupar se a bateria vai descarregar e esqueceram o carregador em casa. E, o melhor, têm uma conta a menos para pagar.
Por que não ter um celular? - Pela falta de privacidade - O aparelho rouba muito tempo - Para não se sentir vigiado - Problemas com operadoras frustraram o uso - Restrições financeiras - Sofrem de fobia de celular - Resistência à tecnologia.

Fonte: Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação.

Nenhum comentário: