domingo, 1 de junho de 2008

CUBA - Cuba e Estados Unidos, aproximação improvável.

Cuba já foi, na ditadura de Fulgêncio Batista, um "prostíbulo" americano. Fidel acabou com isso, mas os Estados Unidos estão doidos para transformar Cuba em mais um estado americano. Cabe lembrar que após derrotar a Espanha na Guerra Hispano-Americana em 1898, querra na qual morreu o herói nacional cubano Jose Martí, os americanos transformaram Cuba em seu protetorado. Em 1902, foi aprovada a primeira constituição cubana, mas os Estados Unidos obrigaram a inclusão no texto contitucional, da famosa "The Platt Amendement", ou Emenda Platt. Através dela, ficaram os americanos com o DIREITO de intervir em Cuba quando achassem necessário. Fidel sempre lembra que esta Emenda bem como a Doutrina Monroe, foram fatos que também motivaram sua revolução. Lembro isto, pois não faz parte do artigo a seguir do Professor José Luís Fiori.

Cuba e EUA, aproximação improvável.

Desde 1819, os EUA desejam Cuba. Tal obsessão permanente não autoriza grandes ilusões de mudanças nas relações entre os dois países. Para Washington, a ilha lhes pertence. E esta não tem como abrir mão do poder que acumulou, a partir de sua posição defensiva e resistência vitoriosa.
José Luís Fiori .

Foi logo depois da conquista da Flórida, em 1819. Os Estados Unidos só tinham 40 anos de idade, e seu território não ia além do Rio Mississipi. James Monroe era o presidente, mas foi seu secretário de Estado, John Quincy Adams, quem falou, pela primeira vez, da atração norte-americana por Cuba. Quando disse, numa reunião ministerial do governo Monroe, que “existem leis na vida política que são iguais às da física gravitacional: e por isso, se uma maçã for cortada de sua árvore nativa — pela tempestade — não terá outra escolha senão cair no chão; da mesma forma que Cuba, quando se separar da Espanha, não terá outra alternativa senão gravitar na direção da União Norte Americana. E por essa mesma lei da natureza, os americanos não poderão afastá-la do seu peito” [1]. Naquele momento, o desejo de Quincy Adams ainda não era conquistar a ilha, mas preservá-la, e por isso ordenou a seu embaixador em Madrid, que comunicasse ao governo espanhol a “repugnância norte-americana a qualquer tipo de transferência de Cuba para as mãos de outra Potência”.
Em 1819, a capacidade americana de projetar seu poder para fora de suas fronteiras nacionais ainda era muito pequena, mas a declaração de Quincy Adams explicitou um desejo e antecipou um projeto, que se realizaria plenamente a partir de 1890. Logo no início da década, o almirante Alfred Thayer Mahan publicou um livro clássico [2], que exerceu imensa influência sobre a elite dirigente americana. Sobre a importância do poder naval, das ilhas do Caribe e do Pacífico para o controle dos oceanos e a expansão das grandes potências. Logo em seguida, os Estados Unidos anexaram o Hawaii, em 1897, e venceram a Guerra Hispano-Americana, em 1898, conquistando Cuba, Filipinas e algumas outras ilhas caribenhas, onde estabeleceram um sistema de “protetorados”, como forma de governo compartido destes territórios. Logo depois da sua vitória contra a Espanha, o presidente William McKinley repetiu, frente ao Congresso Americano, em dezembro de 1989, a velha tese de Quincy Adams: “a nova Cuba precisa estar ligada a nós, americanos, por laços de particular intimidade e força, para assegurar de forma duradoura o seu bem estar” [3].
E foi o que aconteceu: os cubanos aprovaram sua primeira Constituição independente, em 1902, mas tiveram que anexar ao seu texto uma lei aprovada pelo Congresso dos EUA e imposta aos cubanos, em 1901. Era The Platt Amendement, que definia os limites e condições de exercício da independência dos islenhos. Os Estados Unidos mantinham a política externa e a política econômica de Cuba sob seu controle. Ficava assegurado o direito de intervenção dos americanos na ilha, em “caso de ameaça à vida, propriedade e liberdade individual dos cubanos” [4]. Em 1934, a Emenda Platt foi abolida, sendo substituída por um novo tratado entre os dois países. Esse assegurou o controle americano da base naval de Guantanamo e garantiu a tutela dos Estados Unidos sobre o longo período de poder de Fulgêncio Batista — que assumiu o governo de Cuba, em 1933, a bordo de um cruzador norte-americano, e depois governou Cuba, de forma direta ou indireta, até 1959.
Depois do fim da Guerra Fria, os EUA mantiveram e ampliaram sua ofensiva contra Cuba — só que em nome da democracia, e apesar de sua amizade com Vietnã e China...
Depois da Revolução Cubana, de 1959, a ilha deixou de ser a “maçã” de Quincy Adams, sem deixar de ser o “objeto do desejo” dos americanos. O novo governo revolucionário assumiu o comando da economia e da política externa, e provocou a reação imediata e violenta dos Estados Unidos. Primeiro, foi o “embargo econômico”, imposto pelo governo Eisenhower, em 1960, e logo depois, a ruptura das relações diplomáticas, em 1961. Em seguida, o governo Kennedy promoveu e apoiou a frustrada invasão da Bahia dos Porcos, a expulsão cubana da Organização dos Estados Americanos, e vários atentados contra dirigentes cubanos. No início, os Estados Unidos justificaram sua reação, como defesa das propriedades americanas expropriadas pelo governo cubano, em 1960, e como contenção da ameaça comunista, situada a 145 quilômetros do seu território. Mas depois de 1991 — do fim da URSS e da Guerra Fria — os Estados Unidos mantiveram e ampliaram sua ofensiva contra Cuba, só que agora, em nome da democracia, apesar de manterem relações amistosas com o Vietnã e a China. No auge da crise econômica provocada pelo fim das relações preferenciais com a economia soviética, entre 1989 e 1993, os governos de George Bush e Bill Clinton, tentaram um xeque-mate contra Cuba. Proibiram as empresas transacionais norte-americanas, instaladas no exterior, de negociarem com os cubanos, e depois, impuseram penalidades às empresas estrangeiras que tivessem negócios com a ilha, por meio da Lei Helms-Burton, de 1996.
A atração precoce e obsessão permanente dos Estados Unidos não autorizam grandes ilusões de mudanças nos dois países neste momento. Do ponto de vista americano, Cuba lhes pertence, e está incluída na sua “zona de segurança”. Além disso, aos seus olhos, a posição soberana dos cubanos transforma a ilha num aliado potencial dos países que se propõem a exercer influência no continente americano de forma competitiva com os Estados Unidos. Por fim, Cuba já se transformou em símbolo e resistência que é intolerável para os seus vizinhos americanos. Por isso, o objetivo principal dos Estados Unidos, em qualquer negociação futura, será sempre o de fragilizar e destruir o núcleo duro do poder cubano.
Por sua vez, Cuba não tem como abrir mão do poder que acumulou a partir de sua posição defensiva e resistência vitoriosa. A hipótese de uma “saída chinesa” para Cuba é improvável, porque se trata de um país pequeno, com baixa densidade demográfica, e com uma economia que não dispõe da massa crítica indispensável para uma relação complementar e competitiva com os norte-americanos. Assim, apesar da mobilização internacional a favor de mudanças nas relações entre os dois países, o mais provável é que os Estados Unidos mantenham sua obsessão de punir e enquadrar Cuba; e que essa se mantenha na defensiva e lutando contra a lei da gravidade, formulada por John Quincy Adams, em 1819.
Fonte: Le Monde Diplomatique

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