Cadê a Anvisa? Será que as multinacionais tudo podem?
Por Paula Cassandra.
O agrotóxico chamado Gaúcho e fabricado pela Milênia Agrociências, de Londrina, no Paraná, é vendido com 17 nomes comerciais diferentes no Brasil, inclusive pela Bayer, em São Paulo. No entanto, em países como a França ele já está proibido há 4 anos. O engenheiro agrônomo, Sebastião Pinheiro, explica que a proibição ocorreu porque o inseticida é o principal suspeito de provocar o extermínio de abelhas produtoras de mel na Europa e nos Estados Unidos. Além disso, o imidacloprid, princípio ativo do Gaúcho, causa câncer em qualquer pessoa que entre em contato com ele, seja pela ingestão, ou pelo simples manuseio. “Quase todas as abelhas produtoras de mel dos Estados Unidos e da Europa estão desaparecendo. Esse produto é uma imitação da nicotina. Ele se chama imidacloprid, é um inseticida que contem 14 possibilidades de formar nitrosaminas, que são moléculas orgânicas que se combinam na água, no solo ou no ar com óxido de nitrogênio, dióxido de nitrogênio ou substâncias nitrogenadas. O maior problema de todas elas é que são causadoras de câncer”, diz. Por outro lado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirma que os estudos toxicológicos classificaram o imidacloprid com toxicidade moderada e não cancerígeno. A Anvisa declarou que não é um produto que está na lista dos banidos internacionalmente. Para Sebastião, o governo não tem nenhum poder nas mãos para deter a expansão dos agrotóxicos. Ele declara que a Anvisa não é um órgão que possua credibilidade para informar sobre os produtos, porque ela está dentro do jogo das grandes empresas. “Esse pessoal está cada vez mais quarteirizado para fazer o jogo das empresas, estendendo proteção aos negócios deles, fazendo de conta que estão jogando para disciplinar o negócio dos venenos”, diz Sebastião resgata um pouco da história para explicar como as grandes empresas passam por cima da lei em favor de seus interesses. A autonomia que as corporações conseguiram alcançar permite que nenhuma empresa hoje tenha a obrigação de registrar o seu produto. “Depois da Segunda Guerra Mundial, as indústrias de veneno, principalmente as alemãs, criaram um cartório internacional dentro das Nações Unidas para proteger os seus negócios, onde as empresas mandam, desmandam e fazem o que querem. Elas determinaram que o veneno poderia ter uma pequena quantidade que não fariam mal às pessoas e criaram um mecanismo de se estudar isso durante o tempo. A partir de 1989, quando existe uma nova ordem mundial, começa a ficar subordinado ao interesse das grandes empresas e da Organização Mundial do Comércio.”, diz. A denúncia para Sebastião é uma alternativa para mudar essa situação e a imprensa deveria possibilitar essa mudança. No entanto, ele afirma que a mídia corporativa está atrelada às grandes empresas e impede a divulgação de informações verdadeiras à sociedade. “Não há espaço na grande empresa pra nem uma vírgula sobre praguicidas porque você vê que até o nome já mudou, não é mais agrotóxico, Zero Hora diz que defensivo agrícola, Correio do Povo diz que é defensivo agrícola. A lei diz que é agrotóxico, mas eles dizem que é defensivo, porque a questão é ideológica, divulga o que quer, como quer e quando quer”, diz.
Paula Cassandra, Agência Chasque.
Fonte: Revista Fórum.
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