Escrito por Waldemar Rossi.
A parte mais consciente do povo brasileiro assiste perplexa ao avanço selvagem do capital neoliberal, que conta com a conivência e incentivos fiscais, financeiros e políticos dos nossos governantes. Dinheiro "a rodo" é fornecido pelo BNDES a juros baixíssimos para satisfazer a volúpia dos grandes empresários ávidos de mais e mais riquezas, enquanto suas dívidas não são pagas conforme o contrato de empréstimos e vão sendo roladas, anos após anos, quando não caem no famoso "fundo perdido", sempre com o povo arcando com o esse roubo deslavado.
A Amazônia continua a ser destruída com a exploração mineral, que é altamente predatória e poluidora do meio ambiente; com a implantação da produção da cana-de-açúcar para produzir etanol para a exportação; com o descontrole total da política nacional sobre o desmatamento. Lá, as empresas estrangeiras vão ocupando hectares e mais hectares de terras para a produção alimentar voltada para a exportação e superalimentação dos países do primeiro mundo; os latifundiários grileiros expulsam posseiros, ribeirinhos e pequenos produtores rurais, continuam a política de marginalização e extermínio das populações indígenas, geram o aumento do trabalho escravo usando milícias particulares fortemente armadas, que assassinam impunemente e juram de morte os que ousam defender os explorados. São esses empresários que são contemplados com medidas provisórias do presidente Lula, que legaliza ilegitimamente a grilagem das terras devolutas em até 1.500 hectares (correspondentes a fazendas de 630 alqueires paulistas cada uma), enquanto não tem terras para a reforma agrária.
As empresas produtoras de celulose infestam nossas terras com eucalipto, altamente danoso à qualidade das terras brasileiras e sugador das águas potáveis, destruindo nossas matas ainda nativas e que estão resguardadas por lei de proteção ambiental; ocupam terras de colonos, posseiros e nações indígenas, expulsando-as de suas legítimas propriedades; ao lado de mineradoras, vão impondo aos nossos "governantes" - na maioria das vezes em troca de apoio financeiro para suas campanhas eleitorais – autorização para a construção de enormes barragens para a produção de energia elétrica, visando unicamente o funcionamento de suas empresas predatórias e com isso permitindo outro crime hediondo: a invasão das terras dos proprietários que estão instalados, há dezenas de anos, às margens desses rios, jogando-os no desespero e revolta.
Quantos outros fatos poderíamos acrescentar a esta modesta lista? O que não falar do caso das privatizações da Vale do Rio Doce, da CSN, da Petrobrás, dos bancos estatais, das empresas de eletricidade e telefonia, da tentativa de privatização das linhas de Metrô e do fornecimento de água; da precarização da educação e da saúde públicas?
Porém, depois de um longo período de sonolência e acomodação, porque inebriados pela eleição de um operário como presidente da República, os movimentos sociais vão dando sinais de superação desse estado de letargia e começam a arregaçar suas manguinhas. É o caso do movimento desencadeado pela Via Campesina e pela Assembléia Popular, ocupando o prédio da Votorantim; dos vários movimentos sociais fazendo manifestações contra esse avanço criminoso das multinacionais predadoras e larápias das nossas riquezas e economias; do bloqueio da ferrovia da Vale, pelo que ela significa de desastre ecológico, roubo do patrimônio público, assim como para exigir indenização das famílias que tiveram pessoas mortas ou mutiladas pelos trens dessa empresa; das mobilizações pela interrupção da transposição do Rio São Francisco e das barragens danosas ao meio ambiente; das ocupações de prédios ociosos pelos integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto; das ocupações das terras devolutas e griladas pelos Sem Terra; da luta pública contra os desmandos da empresa Aracruz, usurpadora das terras indígenas.
Pena que o movimento pela redução da jornada de trabalho, lançado pela CUT, Força Sindical e CGT, fique apenas na frágil e enganosa coleta de assinaturas, sem, porém, a correspondente mobilização das bases operárias, estas sim capazes de se impor pela sua força produtiva, porque patrão e governo não cedem nada a não ser com a paralisação da produção capitalista e com o enfrentamento público. Mas isto essas centrais não vão fazer, porque suas direções estão vendidas ao capital e com ele mancomunadas.
"A emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores", ou não haverá emancipação.
Waldemar Rossi é metalúrgico aposentado e coordenador da Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo.
Fonte: Correio da Cidadania.
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